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SÃO PAULO – Além das dificuldades na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) Câmara dos Deputados para barrar a denúncia apresentada pelo procurador Rodrigo Janot, a prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima e os sinais de que o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ) vem se viabilizando como alternativa ao poder, outras duas notícias bastante negativas apareceram para o presidente Michel Temer nos últimos dias.
Entre ontem à noite e hoje de manhã, diversas notícias trataram sobre a iminente delação de Lúcio Funaro e Eduardo Cunha, após meses de rumores sobre se eles iriam falar ou não à Justiça e ao Ministério Público.
Segundo a colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, Cunha já está finalizando os textos com as informações para o acordo de delação e rascunhou mais de cem anexos para a colaboração.
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A negociação tem sido considerada satisfatória e a expectativa é que ele entregue os documentos confessando e delatando crimes já na próxima semana. E, de acordo com a reportagem, Cunha deve envolver diretamente Temer, os ministros Moreira Franco (Secretaria Geral) e Eliseu Padilha (Casa Civil) e o senador Romero Jucá (PMDB-RR) em sua delação.
Segundo outra matéria do jornal, Cunha se viu sem saída após as notícias de delação de Lúcio Funaro — doleiro que é apontado em investigações como principal operador do político em esquemas de corrupção como os que envolvem a Caixa. O operador iria esvaziar suas chances de delação, além de tornar a sua libertação ainda mais difícil. Assim, o ex-parlamentar está trabalhando em uma proposta de delação premiada “casada” com a de Funaro.
Desta forma, com a percepção de novas dificuldades e de possivelmente ser implicado por Cunha, a situação do presidente tem se deteriorado aos poucos a cada semana, destaca o diretor de Relações Governamentais da Barral M. Jorge, Juliano Griebeler.
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Conforme aponta o especialista, as possíveis delações de Cunha e Funaro são mais um motivo para Temer tentar acelerar a votação das denúncias contra ele na Câmara dos Deputados. Por enquanto, a expectativa do governo é de que a primeira denúncia de Janot não tenha os 342 votos favoráveis na Casa para que ela vá ao STF.
Contudo, “caso as delações [de Cunha e Funaro] sejam confirmadas e aceitas pelo Ministério Público, haverá um aprofundamento da crise que pode reverter o placar no Congresso para as futuras acusações”, afirma Griebeler.
Por enquanto, denúncia não passa…
Porém, no atual momento, Griebeler vê uma série de fatores que corroboram com a visão de que o governo conseguirá rejeitar em plenário a primeira acusação. Além da falta de manifestações contra o governo, estaria o baixo interesse do empresariado em remover o presidente e a base de apoio no Congresso Nacional ainda forte do presidente. “A saída do PSDB, já pensando nas eleições de 2018, afetará a base de sustentação, mas os partidos de centro podem aproveitar o espaço para se aproximar do governo e fortalecer a base”, afirma Griebeler. Mesmo tendo perdido muita capacidade de articulação após a prisão de Cunha, o “centrão” ainda desempenha um papel relevante para a governabilidade do Executivo no Congresso. Maia ganha forças, já as reformas…
Enquanto o nome de Rodrigo Maia ganha força para substituir Temer, esta é uma possibilidade que ainda gera muitas incertezas, ressalta o analista. Na avaliação dele, o deputado democrata ainda seria um presidente fraco perante um Congresso forte e também não seria capaz de garantir as reformas em discussão no Congresso. Além disso, sem o apoio do PMDB, será difícil para qualquer candidato manter a governabilidade e aprovar reformas. Assim, se as chances de uma reforma da previdência serem aprovadas pela administração atual são muito baixas, com Maia como presidente a reforma não prosperaria. Ainda mais, essa é uma corrida contra o tempo: quanto mais perto de 2018, maiores as chances da reforma da previdência ser postergada para 2019. Griebeler ainda faz uma ponderação: Maia também está sendo investigado por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Lava Jato, enquanto Temer já começou a se articular para barrar sua substituição. Assim, o presidente está nas cordas, mas ainda mostra poder de fogo.