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SÃO PAULO – Na última terça-feira, em São Paulo, o analista da Empiricus deu mais um passo para avançar a sua tese polêmica contra a política econômica do atual governo. Felipe Miranda lançou o seu livro “O Fim do Brasil” e, para ele, desde que lançou a sua tese, ela só se confirmou.
“Eu estou ainda mais convicto sobre a minha tese”, afirmou o analista em entrevista ao InfoMoney um dia após o lançamento do livro. “Quando eu comecei a escrever a minha tese, a expectativa de crescimento para a economia brasileira era de 1,3% em 2014; hoje, ela está em 0,3%. Já a taxa de câmbio era de R$ 2,20 e, agora, está por volta de R$ 2,41”.
Para Miranda, “as coisas pioraram” no Brasil, agravadas por dois fatores internacionais, além de todos os problemas internos: a expectativa de uma elevação na taxa de juros nos EUA, aumentando a atratividade do capital para lá e reduzindo o capital de curto prazo no Brasil e a expectativa de desaceleração da atividade econômica da China, gigante que por anos guia a exportação brasileira de commodities.
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Com isso, somam-se ainda os fatores internos que, para ele, fará com que o Brasil mergulhe numa crise que só teve paralelos nos anos anteriores de 1994. A Tese de “O Fim do Brasil” utiliza o recurso de uma série de dados de emprego e níveis de atividade econômica para destacar que, se tudo continuar como está, o Brasil pode caminhar para uma crise e retroceder a anos anteriores a 1994.
“O Fim do Brasil” mostra dez erros da política econômica atual e que estão acabando com o “tripé econômico”, baseado em taxa de câmbio flutuante, política fiscal austera e metas de inflação e até foi alvo de uma representação do PT no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) – mas não saiu do ar.
Dentre os tantos problemas que podem voltar, estão a inflação alta, problemas de abastecimento e produção, além de congelamento de preços.
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E, conforme ressaltou o analista, por mais que não tenha atingido a economia real ainda “de cheio”, os problemas econômicos já começam a ser evidenciados antes mesmo do ano acabar, e já chega do mercado de trabalho, que é um tanto rígido. Os dados da PNAD divulgados semana passada mostraram um avanço da taxa de desemprego de 6,1% em 2012 para 6,5% em 2013 e com os números já ruins para o mercado de trabalho também neste ano. “E a tendência é de [a taxa de desemprego] aumentar ainda mais”, afirma, ressaltando que os empresários já estão bastante pessimistas, o que mostra que a situação está perto de piorar.
Dilma “dobra a aposta” em caso de reeleição
O analista da Empiricus ressalta ser “impossível” prever o resultado da eleição, mas vê uma chance igual de Dilma Rousseff e da oposição ganhar, tendo o principal nome o de Marina Silva. Caso a oposição ganhe, o cenário é de uma volta à ortodoxia econômica, fazendo os reajustes necessários para a volta do crescimento.
Por outro lado, com a reeleição de Dilma, a expectativa é de que não haja uma mudança para uma gestão com menores gastos e, sim, “dobrar a aposta”. “Como disse [o ministro da Fazenda] Guido Mantega, a presidente irá levar a política econômica às últimas consequências se for eleita. O governo não irá reconhecer que errou, por que isso seria um estelionato eleitoral, indicando que mentiu ao dizer que estava tudo bem, sendo que não estava”.
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Assim, a “nova matriz econômica” do atual governo continuará em uma eventual gestão da petista. A nova matriz econômica é baseada em medidas como aumento dos gastos públicos, maior intervenção estatal da economia, menor preocupação com o combate à inflação, aumento da participação do BNDES [Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social], controle de preços, entre tantos outros.
Para Miranda, a atual matriz segue com força num segundo mandato petista, tanto por questões ideológicas quanto por erros de diagnóstico. “Do lado ideológico, é porque a presidente acha que o Estado atua de uma maneira melhor do que o setor privado. Do lado pragmático, é o erro de diagnóstico de que há um problema de demanda na economia, sendo que a questão principal é de que a oferta está parada, além de também culpar a desaceleração econômica mundial pelo baixo crescimento”.
Sobre os modelos de concessão sobre o modelo de infraestrutura, o analista ressalta que houve alguns avanços, mas muito aquém do que é necessário. Atualmente, o investimento é de 16,5% do PIB, sendo que o ideal para o País é de uma taxa entre 23% e 25% do PIB. “Eles reconheceram que não é possível regular a qualidade das concessões e a taxa de retorno”.
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Para ele, caso a oposição vença, a expectativa é de que ela faça os ajustes necessários para que o Brasil já possa registrar um crescimento no final de 2015. A projeção é de que haja um ou dois trimestres de retração do PIB, mas que depois volte a registrar crescimento, em caso de uma mensagem clara para a população. No último trimestre de 2015, pode-se crescer entre 3% e 4% em termos anualizados e, assim, levar a uma alta mais forte no ano seguinte. “O ano de 2016, sem ajustes, será trágico”, afirma o analista.
E qual a receita para a retomada da confiança? Para Felipe Miranda, não há segredos. Voltar ao tripé macroeconômico de câmbio flutuante, metas de superávit primário e sistemas de metas de inflação. Além disso, aumentar os estímulos à infraestrutura e perseguir as reformas microeconômicas.
“O Brasil está crescendo 2 pontos percentuais a menos na comparação mundial e está tendo o seu pior desempenho desde o governo de Floriano Peixoto, que enfrentou a crise do Encilhamento. A economia mundial está desacelerando sim, mas os ajustes internos têm que ser realizados o quanto antes”, afirma.