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O consenso político contrário ao comércio com a Cuba comunista, que prevaleceu em Washington por meio século, está dando sinais de fissuras.
Enquanto o presidente da Câmara Americana de Comércio, maior grupo de lobby empresarial do mundo, faz uma visita à ilha caribenha nesta semana, cresce o apoio à flexibilização das restrições comerciais e a um aumento dos intercâmbios acadêmicos e culturais.
Embora poucos defendam um levantamento completo do embargo ou a restauração das relações diplomáticas, quase quatro dezenas de ex-funcionários do governo, militares da reserva e líderes empresariais escreveram uma carta aberta ao presidente Barack Obama neste mês exortando-o a flexibilizar algumas restrições.
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Em outro indicativo da mudança de humor, o produtor cubano-americano de açúcar Andrés Fanjul – de uma família há muito tempo associada com o apoio ao embargo – assinou a carta, que pede que Obama use seu poder como presidente para autorizar mais licenças de importação e exportação, entre outras medidas.
“Esse é o momento de agir”, disse Fanjul, vice-presidente-executivo da Fanjul Corp., com sede em West Palm Beach, Flórida, em uma entrevista. “É importante expandir as oportunidades para construir relações entre as famílias americanas e cubanas”.
Os defensores de uma redução maior do embargo de 52 anos por ordem do Poder Executivo veem uma janela de oportunidade após as eleições de meio termo nos EUA em novembro, disse Carl Meacham, diretor do programa Américas do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington.
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O ímpeto para mudanças também pode ficar evidente hoje, quando Tom Donohue, presidente e CEO da câmara americana, discursar na Universidade de Havana. A visita ocorre depois que o governo cubano aprovou uma lei neste ano para atrair mais investimentos estrangeiros e que o presidente Raúl Castro flexibilizou as restrições de viagens dos cubanos, inclusive para alguns dissidentes.
Ação anterior
Obama tomou medidas em relação a Cuba antes, após assumir em 2009, revertendo algumas restrições colocadas em prática por seu antecessor George W. Bush. As ações de Obama foram denunciadas por parlamentares como a deputada Ileana Ros-Lehtinen, da Flórida, republicana cubano-americana, que não vacilou em se opor a qualquer flexibilização das sanções contra o regime de Cuba, ilha localizada a 145 quilômetros da Flórida.
O maior obstáculo a qualquer movimento da Casa Branca em Cuba pode ser o senador Robert Menendez, filho de imigrantes cubanos, que é presidente do Comitê de Relações Exteriores.
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Antes do discurso de Donohue, o democrata de Nova Jersey escreveu uma carta criticando-o por estender a mão a um governo cubano que Menendez disse que “prende líderes empresariais estrangeiros sem justificativa, viola padrões internacionais de trabalho e nega direitos básicos aos seus cidadãos”.
Outra barreira é o fato de o ex-contratado do governo dos EUA, Alan Gross, continuar preso em Cuba desde 2009, sob acusação de espionagem após levar equipamentos de telecomunicações para a ilha.
Os dissidentes cubanos na ilha estão divididos em relação a se as medidas defendidas na carta a Obama ajudarão ou prejudicarão sua causa. José Daniel Ferrer, presidente da Unión Patriótica de Cuba, que monitora quase diariamente as detenções de ativistas, disse em um comunicado que não “é correto que pessoas ou instituições, na busca por vantagens econômicas, procurem um envolvimento a esta altura”.
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Miriam Leiva, diplomata durante o mandato de Fidel Castro cujo marido ficou preso durante mais de um ano antes de morrer no exílio no ano passado, disse que mais trocas comerciais ajudarão os cubanos a se prepararem melhor para a vida na ilha depois que os irmãos Castro saírem do governo.
“Mais americanos deveriam vir”, disse Leiva, em entrevista, no dia 16 de maio, em Miami. “Cuba vai mudar. O governo não quer que o país passe por grandes mudanças, mas é impossível manter essa sociedade fechada”.