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Após trimestre amargo, empresas de carne veem recuperação de vendas para China e Brasil

JBS, Marfrig e BRF registraram prejuízo de abril a junho

Fernando Lopes Rikardy Tooge

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O segundo trimestre do ano foi amargo para as principais empresas brasileiras de proteínas animais, embora menos do que entre janeiro e março. JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e BRF (BRFS3) registraram prejuízos expressivos. Já a Minerva Foods (BEEF3) escapou de ver a última linha de seu balanço ficar vermelha, mas viu o lucro despencar.

No mercado de carne bovina, pesaram sobretudo o cenário adverso para as exportações para a China, mesmo após a retomada das compras de carne bovina brasileira diante da suspensão temporária em março, e a redução de margens nos Estados Unidos, onde JBS e Marfrig concentram a maior parte de seus negócios; no mercado de carne de frango, o problema foi a ampla oferta global e custos ainda elevados, como acusaram os números de Seara, controlada pela JBS, e BRF, empresa na qual a Marfrig é a principal acionista.

Para este segundo semestre, a expectativa geral é de melhora dos resultados, em decorrência de um previsto reaquecimento das vendas ao mercado chinês, da redução de custos e da continuidade de fortalecimento dos negócios no Brasil, por questões sazonais e em razão da queda da taxa básica de juros (Selic), que até dezembro deverá se aprofundar.

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A JBS, maior empresa de proteínas animais do mundo, encerrou o segundo trimestre com prejuízo líquido de R$ 263,6 milhões, ante lucro líquido de R$ 3,952 bilhões no mesmo período de 2022. Na comparação, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado caiu 56,9%, para R$ 4,47 bilhões, e a receita líquida consolidada da companhia recuou 3%, para R$ 89,383 bilhões.

Mesmo com margens menores, a JBS Beef North America continuou a liderar a receita líquida do grupo, com R$ 28,77 bilhões, um crescimento de 5,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Em seguida vieram as divisões Pilgrim’s Pride, que reúnem negócios de aves e processados do grupo nos EUA, com R$ 21,315 bilhões (queda de 6,4%), JBS Brasil, com R$ 13,986 bilhões (baixa de 0,9%), Seara, com R$ 10,31 bilhões (recuo de 3,5%), JBS USA Pork, com R$ 8,798 bilhões (retração de 15,3%) e JBS Australia, com R$ 7,471 bilhões (redução de 9,3%).

O Ebitda ajustado consolidado da companhia foi puxado por Pilgrim’s Pride (R$ 1,859 bilhão, queda de 48,9%), seguida por JBS Australia (R$ 710,4 milhões, baixa de 0,3%), JBS Brasil (R$ 675,7 milhões, baixa de 15,9%), JBS Beef North America (R$ 433,5 milhões, recuo de 85,8%), Seara (R$ 419,9 milhões, retração de 72,1%) e JBS USA Pork (R$ 386,3 milhões, redução de 43,2%).

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Na divulgação dos resultados, a JBS realçou que a diminuição da receita líquida da Seara, que reúne negócios de aves, suínos e alimentos processados, resultou do recuo das divisas geradas pelas exportações, e que as vendas no mercado doméstico permaneceram estáveis em R$ 5,1 bilhões.

No caso da JBS Brasil, onde estão abrigados os negócios de bovinos no país, houve recuperação em relação ao primeiro trimestre, quando o Brasil suspendeu temporariamente as exportações de carne bovina à China após a confirmação de um caso atípico da doença da “vaca louca” no Pará. As vendas também continuaram a ser impactadas positivamente pelo ciclo pecuário favorável, quando a oferta disponível de animais aumenta.

Para a JBS Beef North America, as margens continuam sob pressão, e as exportações de carne bovina a partir dos EUA também foram prejudicadas por uma demanda na Ásia menor que a prevista. Para a JBS USA Pork, pesou a queda de preços da carne suína nos EUA, mas as exportações permaneceram aquecidas. Na JBS Australia, as vendas cresceram no mercado interno, mas houve retração das exportações.

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Carne fresca,Açougues, Frigoríficos, alimento (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Carne bovina: após primeiro semestre ruim, frigoríficos apostam em retomada na segunda metade do ano (Agência Brasil)

A Marfrig, por sua vez, encerrou o segundo trimestre do ano com prejuízo líquido de R$ 784 milhões, ante lucro líquido de R$ 4,255 bilhões no mesmo período de 2022. O Ebitda caiu 42,3%, para R$ 2,299 bilhões, e a receita líquida consolidada da companhia recuou 5,7%, para R$ 32,514 bilhões.

Na América do Norte, onde a Marfrig controla a americana National Beef, a receita líquida cresceu 0,6% na comparação entre os segundos trimestres, para R$ 14,565 bilhões. O Ebitda recuou 60,2%, para R$ 759 milhões, e a margem Ebitda diminuiu de 13,2% para 5,2%. Na América do Sul, a receita caiu 18,6%, para R$ 5,788 bilhões e o Ebitda foi 14,8% menor (R$ 578 milhões), mas a margem Ebitda subiu de 9,5% para 10%.

“Com a redução dos estoques, a demanda e os preços da carne bovina já aumentaram na China em julho. E, sazonalmente, o segundo semestre costuma ser mais forte”, afirmou Rui Mendonça, CEO da Marfrig para a América do Sul, a jornalistas. Tang David, diretor-executivo da companhia, reforçou que, no Brasil, a demanda também costuma ser mais firme no fim do ano.

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A BRF, empresa na qual a Marfrig é a principal acionista, também pesou negativamente sobre os resultados no segundo trimestre, com reduções de 5,7% na receita líquida, para R$ 12,205 bilhões, de mais de 30% no Ebitda, para R$ 1 bilhão, e de 11,6% para 8,2% na margem Ebitda. A dona das marcas Sadia e Perdigão fechou o segundo trimestre com prejuízo líquido de R$ 1,34 bilhão, ante perda de R$ 468 milhões de um ano antes.

“As exportações foram castigadas, embora o preço médio no exterior tenha apresentado melhora. Para os próximos trimestres, estamos observando uma tendência de reequilíbrio entre oferta e demanda — embora não tenhamos guidance“, afirmou Miguel Gularte, CEO da BRF, em entrevista coletiva após a divulgação do balanço trimestral.

No mercado interno, a BRF recuperou margens com o aumento nas vendas de alimentos processados — produto responsável por 75% da receita no Brasil, segundo o CFO Fábio Mariano. No segundo trimestre, a receita líquida da operação brasileira recuou 0,6%, para R$ 6,49 bilhões, mas o Ebitda ajustado avançou 46,8%, para R$ 627 milhões, com margem 3,1 pontos maior, de 9,6%.

Gularte demonstrou otimismo com o segundo semestre, época do ano em que o consumo de proteínas costuma ganhar tração por conta das festas de fim de ano e o pagamento do 13º salário. “Com nossa estrutura de capital reforçada e uma empresa mais eficiente, vamos ter condição de aproveitar melhor as oportunidades. A confiança do consumidor está voltando, estamos vendo um cenário de queda da inflação — a expectativa é das melhores”, disse.

No caso da Minerva, que lidera as exportações de carne bovina da América do Sul e divulgou seus resultados do segundo trimestre na semana passada, houve lucro líquido de R$ 120,7 milhões, com queda de 71,6% em relação ao mesmo período de 2022. O Ebitda recuou 8,6%, para R$ 711,2 milhões, a margem Ebitda subiu de 9,2% para 9,8% e a receita líquida diminuiu 14,1%, para R$ 7,277 bilhões.

Da receita bruta de R$ 7,759 bilhões obtida no segundo trimestre, 13,4% menos que um ano antes, as vendas no mercado externo representaram R$ 5,108 bilhões (queda de 19,8%). Nos mercados internos em que atua o montante chegou a R$ 2,651 bilhões (alta de 2,1%), puxado pelo Brasil. No total, os abates de bovinos da companhia, que nessa frente atua em Brasil, Argentina, Colômbia, Paraguai e Uruguai, chegaram a 1,021 milhão de cabeças, 1,4% menos que entre abril e junho do ano passado.

Fernando Lopes

Cobriu o setor de energia e foi editor do semanário Gazeta Mercantil Latino-Americana até 2000. Foi editor de Agro no Valor Econômico até fevereiro de 2023.