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Mesmo diante do ciclo de redução no fluxo de capital de risco nos últimos anos, o Brasil consegue se consolidar como o maior celeiro de startups da América Latina. Em grande medida por causa do referenciado setor de soluções para o sistema financeiro, o país atrai quase metade de todo o investimento de Venture Capital (VC) na região e deve receber olhares atentos em um novo ciclo de aportes.
Em 2022, 46% dos fundos de Venture Capital com investimentos em países latino-americanos tiveram como um de seus destinos o Brasil, aponta a pesquisa VC Radar Latam, feita pela Emerging VC Fellows em parceria com o Cubo Itaú, hub de empreendedorismo do idealizado pelo banco brasileiro. De acordo com o levantamento, o país mais próximo disso foi o México, com 15,5% de preferência dos gestores de 585 fundos mapeados.
Os primeiros elementos capazes de justificar essa preferência são demográficos e econômicos: o Brasil possui população e Produto Interno Bruto (PIB) superiores ao resto do grupo de países analisados, quase o dobro do México, segundo maior em economia e número de habitantes. Essas características fazem com que startups investidas já nasçam com uma demanda interna alta e sem se preocupar, necessariamente, com uma solução global.
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Apenas o tamanho do Brasil, no entanto, não justifica o desempenho. Com o dobro do tamanho do México, o país ainda atrai três vezes mais investimento. “Nós vemos como o ecossistema de investimento em startup do Brasil parece estar mais avançado do que os demais na América Latina”, explica Cibelle Higino, líder da pesquisa VC Radar Latam.
Um dos motivos está na distribuição geográfica dos fundos de Venture Capital que investem nos países latinos. A maior parte deles (68,34%) estão no Brasil e fazem investimentos no país. De acordo com Marcella Falcão, Head de Corporates e Investors do Cubo Itaú, o ecossistema de fundos de VC no Brasil é mais maduro quando comparado aos pares hispânicos. Para se ter ideia, os fundos nacionais costumam assinar cheques, em média, duas vezes maiores do que aqueles dos demais países da região.
Mas há outro elemento. Uma vertical de investimento específica apoia muito o investimento em terras brasileiras: as fintechs. Nos últimos anos, o Brasil tornou-se uma referência mundial em startups de soluções para o universo de instituições financeiras, com destaque para unicórnios como Pismo e Nubank.
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No universo da pesquisa, 46% dos fundos de Venture Capital afirmaram não olhar especificamente para nenhum setor, mas 31% deles disseram olhar com mais carinho para essa vertical. Em boa medida, o fato de o Brasil ter digitalizado o seu sistema financeiro há décadas e ter no Banco Central um órgão regulador promotor de inovação estimularam esse movimento.
“Do ponto de vista de consolidação e resultados no segmento financeiro, somos sim referência global. O avanço que nós temos do ponto de vista de digitalização de pagamentos vem muito em função dos grandes cases de sucesso da região”, explica Falcão.
Mas quando se olha para o futuro, há uma fronteira inteira de oportunidades em que o Brasil se posiciona. Após um ciclo de aperto no capital de risco global, o fluxo de investimento tem sido retomado nos últimos trimestres e há expectativa por uma nova fase de bonança para as startups.
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O período que se aproxima deve ser marcado por novas premissas. As empresas B2C (empresas que vendem soluções para consumidores), geram receio em muitos dos investidores que apostaram nelas entre o fim da última década e o começo desta.
“O movimento que vimos em 2021, da abundância de capital e principalmente uma queima descomunal de dinheiro, foi principalmente em startups B2C” aponta Falcão. Apesar da pesquisa não ter um indicador com esse prognóstico direto, há uma percepção geral desse sentimento, segundo a especialista. “Quando você chega com mais um marketplace B2C, por exemplo, o investidor já olha e fala: ‘isso aqui queima muito dinheiro. Próximo’”.
Perspectivas
A América Latina como um todo ainda tem um grau baixo de investimento em startups. Segundo Cibelle Higino, apenas 1,9% do volume total de investimento e 2,8% do número de rodadas de investimento no mundo são da região, valores inferiores se comparados ao PIB de 5,2% na comparação global.
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Espera-se que o cenário seja de avanço nos próximos anos, com destaques, além de Brasil e México, para países como Chile, Colômbia e Argentina. “Ainda há muito espaço para crescer. É só uma questão de tempo. Querendo ou não, os fundos na América Latina são super-recentes. Vimos que 79% dos fundos mapeados têm menos de 10 anos”, aponta Higino.
Mas o Brasil tem um grande potencial de seguir na dianteira. Além do já bem-sucedido mercado de startups para o sistema financeiro, existe uma grande expectativa de que o país seja um hub de soluções em descarbonização e estratégias de hidrogênio verde.
Em comparação a outros países emergentes, como China e Índia, o Brasil ganha por não estar envolvido em conflitos geopolíticos e tem uma grande eficiência no crescimento de suas startups. “Com sete vezes menos capital, temos 15 unicórnios e a Índia 11”, explica Falcão, do Cubo. “Quando olhamos do ponto de vista de comparação global, com os mercados que a gente está disputando para atrair capital internacional, temos perspectiva positiva, principalmente olhando para o ano que vem”, diz.