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Brasileiros bebem mais vinho e a Wine comemora

Com projeção de vender 30 milhões de garrafas em 2023, Wine registra um crescimento de 134% em relação ao realizado no 2T22

Mariana Amaro

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Mais brasileiros estão bebendo vinho: a quantidade de apreciadores da bebida mais que dobrou na última década. O dado é da Wine Intelligence, consultoria de pesquisas do setor.

O consumo per capita também sofreu flutuações: foi de 1,93 litro em 2018 para 2,8 litros em 2020 e, agora, caiu para 2,5 litros em 2022. Como comparação, em Portugal, o líder do ranking, foram consumidos 67,5 litros de vinho per capita em 2022. Mesmo assim, o Grupo Wine, clube de assinatura com quase 400 mil assinantes ativos e revendedor de vinhos, vê o copo meio cheio.

A cada 100 garrafas importadas no mercado brasileiro, 15 chegam pelo Grupo Wine. E Marcelo D’Arienzo, CEO da companhia desde 2019, avalia que o mercado tem muito a crescer, porque a ‘cultura’ do vinho ainda está se firmando no país. “Tenho 38 anos e a minha geração não viu os pais bebendo vinho em casa. Este hábito não existia nas famílias de classe média”, resume D’Arienzo. Para ele, a tendência de crescimento é constante e sólida ao longo dos últimos anos – o pico do consumo foi em 2020, durante a pandemia.

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Entretanto, 60% da bebida consumida no país é do tipo suave – o vinho doce, também conhecido como ‘vinho de mesa’ – e 90% das garrafas compradas custam entre R$ 45 e R$ 50. “Esses dados são importantes para mostrar o filme da nossa indústria e caracterizar o mercado nacional como emergente: ainda estamos conquistando novos consumidores, de bolso mais limitado. Nesse contexto, a relação custo-benefício é fundamental”, afirma D’Arienzo.

Com uma expectativa de comercializar 30 milhões de garrafas em 2023 – a maior parte delas vinda da Argentina (principalmente da Vinícola Las Perdices) e do Chile (da Ventisquero Wine Estates) –, a Wine apresentou lucro líquido de R$ 8,8 milhões no segundo trimestre: um crescimento de 134,5% em relação ao realizado no segundo trimestre do ano passado.

Nos últimos 12 meses, embora perceba uma pequena retração do mercado e uma queda no volume de mais de 8%, a Wine trouxe boas notícias. “Continuamos crescendo independentemente do movimento contra. Tivemos um aumento de share [de 13,74% em 2022 para 14,28% até maio de 2023], um crescimento consolidado da companhia e conseguimos fazer isso com rentabilidade, mesmo tendo que enfrentar um novo cenário tributário”, afirma D’Arienzo.

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Marcelo D’Arienzo, CEO da Wine: “Continuamos crescendo, independente do movimento contra”. (Foto: Celso Doni / Divulgação)

O novo cenário a que ele se refere é o retorno da tributação do ICMS DIFAL, a diferença entre a alíquota interna do estado destinatário e a alíquota interestadual que deve ser paga no destino dos bens. Criado em 2015, o DIFAL foi considerado inconstitucional pelo STF em 2021, por ausência de uma Lei Complementar que justificasse a cobrança. A LC foi publicada em janeiro de 2022 e o DIFAL voltou a entrar na conta – e a pressionar a receita líquida.

No segundo trimestre de 2023, a Wine registrou uma receita líquida de R$ 204,4 milhões, um aumento de 5,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. O resultado de 2022, contudo, foi impactado positivamente pela não incidência do ICMS DIFAL, o que reduziu a carga tributária do período anterior. Se fosse desconsiderada essa não incidência do tributo, o crescimento da receita líquida teria sido de 13%.

Estratégia de crescimento

Os últimos meses, de juros altos e retração da economia, foram vantajosos para a companhia. “Sendo líder de mercado, conseguimos negociar oportunidades com os parceiros viticultores, o que nos levou ao aumento em market share. Estamos no tipping point e vamos começar a ver um momento mais positivo, de melhoria nas margens para nós e nossos parceiros”, afirma.

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Esse foi o resultado de uma estratégia que começou em 2020 e foi implementada, com mais força, no ano passado. “Em 2022, em razão do câmbio, tivemos uma forte queda de receita e a gente sabia que ia ter que reorganizar. O que colocamos em prática nas nossas unidades de negócio foi entender como a gente poderia acelerar”, diz o CEO.

Para melhorar a margem bruta do clube e não ficar tão refém da variação cambial, a empresa passou a comprar com escala, como 130 mil garrafas do mesmo rótulo – o que gera descontos de 45 a 50% no preço avulso. Essa venda, afirma D’Arienzo, também é benéfica para os produtores, que conseguem um retorno objetivo e específico sobre o produto. “Compras desse volume [20 containers] são incomuns, mas quanto mais escala ganhamos, mais conseguimos trabalhar os preços”, resume.

Com 16 lojas próprias, a maior parte do faturamento da companhia (35%) ainda vem das assinaturas, que fez a marca ficar conhecida. “Outros 20 p.p. vêm de vendas avulsas que são feitas, em 95% dos casos, também para assinantes”, afirma o executivo. A base de assinantes teve uma adição líquida de 45,5 mil novas assinaturas e chegou a 395 mil assinaturas ativas.

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Vinho na bolsa

A Wine tem dois fundos de private equity como acionistas: o Península, de Abílio Diniz, e a EB Capital. “Como uma empresa de fundo, a listagem pode ser um caminho a perseguir no futuro. Mas os fundos não têm pressão de tempo para sair, não tem faca no pescoço para gerar liquidez”, afirma o executivo.

A companhia fez o registro na CVM para abrir capital em 2020, mas os planos de IPO esfriaram. “Quando procuramos este caminho, a gente tinha um uso para o recurso. O principal era comprar a Cantu [importadora de vinhos], mas conseguimos fazer isso com a emissão de uma debênture, que começamos a pagar neste ano. Geramos valor com alavancagem”, afirma D’Arienzo.

Mesmo sem presença na bolsa, o setor de vinhos deve passar por uma consolidação. “Para nós, foi muito importante adquirir a Cantu, que complementou nosso B2B, mas vejo, sim, oportunidades para avançar nessa agenda de M&As”, diz.

Taças de vinho: brasileiros estão consumindo mais (Foto: Divulgação)

Taças mais vazias na Europa

Enquanto o Brasil vive um momento de crescimento no setor, a União Europeia, maior produtora de vinho a nível mundial, passa por uma tempestade perfeita que fez aumentar os estoques de produtores e colocou o bloco em alerta.

Por um lado, a colheita excepcional de 2022 fez com que a produção aumentasse 4% com relação ao ano anterior. Por outro, a inflação nos preços de alimentos e bebidas reduziu o consumo em todo o bloco, de 7% na Itália até 34% em Portugal. As flutuações cambiais e o aumento da inflação no mundo também derrubaram as exportações entre janeiro e abril de 2023, uma queda de 8,5% na comparação com 2022.

“Este contexto de mercado tem trazido dificuldades de venda para os viticultores e produtores da UE, redução dos preços de mercado e, consequentemente, uma grave perda de rendimentos sobretudo em algumas regiões mais atingidas por estas tendências”, registrou, em comunicado, a diretoria geral para Agricultura e Desenvolvimento Rural da União Europeia.

Diante do cenário, a Comissão Europeia anunciou medidas temporárias que vão até o dia 15 de outubro e incluem a possibilidade de os produtores retirarem garrafas de vinho do mercado, – principalmente de rosé e tinto da França, Espanha e Portugal, os mais afetados pela alta de estoque – e destilarem para uso do álcool em fins não alimentícios.

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Mariana Amaro

Editora de Negócios do InfoMoney e apresentadora do podcast Do Zero ao Topo. Cobre negócios e inovação.