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“É hitmaker”: a produtora de funk que faz músicas em ritmo industrial

Mercados emergentes devem dominar crescimento de streamings nos próximos anos, principais fontes de faturamento com vendas de música

rodrigofaller

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Mais de 10 estúdios de gravação e vídeo, depósitos, salas de reunião, blocos administrativos e até piscina e churrasqueira: é difícil para quem chega naquele quarteirão da Vila Guilherme, na Zona Norte de São Paulo, não notar a produtora GR6. Por trás de grandes muros e portões espalhados pelos dois lados da rua, estão os cerca de 120 funcionários da frenética produção de hits do funk paulista.

E bota frenética nisso. 

No modelo batizado de fast music, a produtora vai da ideia de uma música até sua publicação nas plataformas de streaming em um período próximo a um dia. Daí o motivo de toda a estrutura. Com poucos passos pelos anexos da GR6, um artista – e os produtores – conseguem resolver todos trâmites criativos, jurídicos e financeiros para fazer a roda girar.

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André Morrissy, diretor da GR6. (Foto: Divulgação/GR6)

“Muitas vezes acontece de fazermos uma reunião aqui às 10h da manhã de uma quinta-feira e no dia seguinte já estarmos gravando o clipe. Terminamos de gravar o artista na madrugada, às 11h da sexta-feira a música já está pronta e às 14h já estamos gravando o clipe no nosso estúdio aqui ao lado”, conta o diretor da GR6, André Morrissy. O resultado dessa “maneira de produção fordista” é uma média de 40 músicas e 15 videoclipes lançados por semana.

A inspiração veio do fast fashion, termo popularizado pelo New York Times para descrever varejistas de moda com desenvolvimento rápido de coleções, como a Zara. É a fórmula por trás de sensações do gênero como os MCs Hariel, Livinho, Don Juan, Pedrinho ou Binn (antes, Bin Laden), em busca de capturar o promissor mercado musical brasileiro.

Em 2023, mercados emergentes – como a América Latina – representaram 50% das novas inscrições em serviços de streaming, aponta o estudo “Music in the Air”, do banco Goldman Sachs. Até 2030, essa participação deve chegar a 70%. A avaliação é de que o futuro da indústria, da dinâmica de distribuição de royalties às prioridades de alocação de capital, passe por esses mercados.

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Empresa tem mais de 10 estúdios em terreno na Zona Norte de São Paulo. (Foto: Divulgação/GR6)

No Brasil, onde o streaming corresponde a 99% do total da receita com vendas de músicas, a GR6 registrou 6 bilhões de transmissões em 2023. É uma fonte de receita relevante, de aproximadamente 50% na linha de produção musical (a outra metade vem da produção de shows e eventos), mas desafiadora.

Mercados de países emergentes possuem uma receita média por cliente baixa nos streamings. As projeções do Goldman Sachs sugerem que a contribuição dessas regiões em assinaturas pagas deve chegar apenas a 22% em 2030. Além do mais, os repasses das grandes plataformas também são menores. “A receita proveniente das plataformas digitais ainda é baixa em comparação a países desenvolvidos. Acredito que com o tempo isso irá melhorar. Temos trabalhado para isso”, diz Morrissy.

Negócios do streaming

Embora a perspectiva seja de crescimento da participação de usuários de streaming no Brasil, a penetração de clientes que pagam por seus serviços em mercados emergentes ainda está em 7%, contra 33% nos desenvolvidos. O binômio de assinaturas e publicidade (no caso dos streamings pagos) determina a remuneração repassada a artistas – e os planos por assinatura tem maior influência no pagamento final.

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“Por isso nos voltamos a uma produção em massa, com constância, apostando no volume”, diz o executivo. Em julho, alguns dos 120 artistas produzidos pela companhia dominaram o top 200 do Spotify (S1PO34): foram 40 artistas da GR6 no “Top Charts”, análise mensal da gigante do streaming que ganhou relevância entre os engravatados do setor da música. “Let’s Go 4”, com alguns dos principais nomes da casa, bateu o recorde de 86 dias no top 1 da plataforma.

Parte de um dos prédios em que fica a GR6. (Foto: Divulgação/GR6)

Cerca de 15 dos principais artistas da produtora tem parcerias com as majors, incumbentes do setor musical como Sony, Warner, Universal e Som Livre. Essas empresas conseguem desembolsar valores maiores para produções e campanhas – nos últimos cinco anos, o relacionamento rendeu R$ 200 milhões em contratos –, embora muitas vezes a própria GR6 fique encarregada de boa parte do processo.

“Ninguém melhor que alguém próximo, aqui da quebrada, para conhecer o funcionamento e o consumo do funk. O dia a dia aqui faz muita diferença”, conta Morrissy. Em um dia normal na GR6, artistas se reúnem à beira da piscina para um churrasco, de onde boa parte das ideias de feats e contribuições surgem – estúdios abertos 24 horas por dia e técnicos e executivos ficam sempre prontos para colocar o som na pista.

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Parceria com marcas

Nos últimos anos, a GR6 tem buscado diversificação, de olho no crescente interesse de marcas por penetração no gigante mercado consumidor da música urbana. Uma unidade de negócio dedicada a patrocínios começa a ganhar tração e movimentou R$ 10 milhões no primeiro semestre de 2024.

Um dos estúdios da GR6. (Foto: Divulgação/GR6)

Campanhas bem sucedidas como a feita com a Lacoste, cujos artigos se tornaram item de desejo nos guarda-roupas dos consumidores de funk nas periferias, gabaritaram a GR6 junto às agências de publicidade. Algumas lojas da marca de emblemáticas camisas polo trocaram suas fachadas para “Lalá”, apelido que passou a fazer parte de alguns funks.

Um contrato com a Versace está encaminhando para um fechamento e marcas como Ipiranga, Ruffles, Heineken, Vivo e Itaú já fizeram ações junto à produtora. “É inegável que o funk gera muito movimento. A audiência é muito alta e essas marcas estão cada vez mais buscando pelas produtoras e artistas que geram esses números”, diz Morrissy.

Embora não revele o faturamento anual, a batida de crescimento da empresa está alinhada ao mercado, de pouco mais de 16% ao ano.