Conteúdo editorial apoiado por

“Enquanto você preferir a renda fixa, esqueça os IPOs” – as reflexões da Faria Lima sobre o mercado de capitais

Saída de recursos dos fundos de investimento ainda segue jogando contra a abertura de capital de empresas

Rikardy Tooge Lucinda Pinto

Publicidade

“Você está guardando seu suado dinheiro na renda fixa ou investindo em Bolsa?”, pergunta um experiente banqueiro com presença proeminente no mercado de capitais à reportagem do IM Business.“Enquanto a renda fixa estiver pagando 12%, 13% ao ano, não tem como competir”. Então, é muito pouco provável que a janela para ofertas públicas iniciais (IPOs, em inglês) se reabra neste ano no Brasil. O raciocínio do banker é simples, os fundos estão sem apetite e muito menos liquidez para ancorar as ofertas. “Aqui, temos a lógica de muitos fundos multimercados, em que não há mandato que obrigue o gestor a investir na renda variável e ele precisa entregar resultado.”

De janeiro a agosto, o resgate líquido dos fundos de investimentos está em R$ 76,3 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Em 12 meses, a fuga de capital dos gestores chegou a R$ 211,1 bilhões, reflexo, entre outras coisas, da alta atratividade da renda fixa. “Somente um novo fluxo de investimento nos fundos para que os institucionais voltem a pensar em IPO”. No caso das ofertas subsequentes (“follow-on”), houve liquidez por serem empresas com histórico entre os investidores. “Essa é a vantagem de ser listada em uma crise, a empresa consegue se financiar no mercado.”

Isso não significa que a Faria Lima está parada, pelo contrário, diz a fonte. Entende-se que é natural do ciclo macroeconômico que os agentes fiquem em compasso de espera até a liquidez voltar ao mercado de capitais. “É o momento que plantamos sementes para o futuro, colocamos clientes em contato com os investidores. Todo mundo está com mais tempo para ouvir as histórias e criar seus benchmarks”, prossegue.

Continua depois da publicidade

Sede da B3, em São Paulo: sangue novo na Bolsa deve ficar para 2024

Nessas conversas, o discurso dos empreendedores que pretendem abrir capital mudou. Se na janela de 2020 e 2021 as métricas de crescimento infinito faziam brilhar os olhos e atraíam os cheques do mercado, agora a rentabilidade ganha força. “Um IPO vai sempre pressupor crescimento, é do negócio. Mas agora todos entendem que não podem prometer uma expansão a qualquer custo”. Para a fonte, parte das candidatas à Bolsa deverá ser a mesma da janela anterior.

E, ao contrário do que defende parte do mercado, a fonte não acredita que a onda de fusões e aquisições retirou candidatas ao IPO da fila. “Pegou-se duas ou três empresas para corroborar uma tendência que não existe. Não podemos misturar laranja com banana: IPO é para financiar uma estratégia de crescimento. O M&A é outra lógica, seja para priorizar core, obter liquidez ou dar saída a investidores.”

Nesse sentido, há muitas aquisições e ideias de IPO no pipeline, mas ninguém quer avançar rápido demais. “O tempo médio dos negócios aumentou muito, vemos muita mortalidade de M&As. É um momento diferente. Mas também talvez tenha sido o ritmo de 2021 que estava fora do normal.”

Continua depois da publicidade

A última abertura de capital na B3 foi da empresa de fertilizantes biológicos Vittia em 31 de agosto de 2021 – no fim daquele ano, em 8 de dezembro, o Nubank entrou na Bolsa americana e listou seus BDRs no Brasil.

Tópicos relacionados

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br