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Um árabe casado com uma brasileira e radicado em Washington é quem está por trás da aproximação do Brasil e da Arábia Saudita nos últimos anos – e que levou ao desembarque neste domingo (30) em São Paulo de uma comitiva com mais de 90 empresários sauditas e agentes do governo que acompanham o ministro do Investimento Khalid Al-Falih na mais promissora missão ao país.
Head de investimentos para as Américas do Ministério do Investimento da Arábia Saudita, Adbulrahman Bakir já esteve no Brasil 25 vezes e até se arrisca a falar em português. Ele conta que, como parte de sua estratégia para aproximar os dois países, sugeriu certa vez que uma comitiva da Arábia Saudita, em visita aos Estados Unidos, se hospedasse no Fasano da Quinta Avenida, em Nova York.
“Quando contei a eles que era uma rede brasileira, ficaram impressionados, porque o governo saudita ainda associava o Brasil apenas ao samba, churrasco, frango e futebol”, relembra. “Agora, o Brasil está se tornando um mercado prioritário para a Arábia Saudita e um parceiro estratégico. Nossa relação com o Brasil tem potencial para ir muito além do agronegócio. Há oportunidades em mineração, energia, odontologia, saúde, farmácia, tecnologia.”
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A diversificação é parte central na estratégia da Arábia Saudita de investimentos fora de seu território. “A visita do ministro de investimentos com a delegação dá um sinal importante de diversificação da nossa pauta [da balança comercial], que, hoje, é muito concentrada em commodities”, afirma Osmar Chohfi, presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, citando o Visão 2030, plano de desenvolvimento divulgado pelo governo saudita para transformar e diversificar a base econômica do país – hoje centrada, principalmente, em exploração de petróleo. A Arábia Saudita possui mais de 15% das reservas de combustíveis minerais.
A Arábia Saudita tem dinheiro para investir e está procurando oportunidades. “O Brasil tem muito a oferecer: de obras públicas, inovação e tecnologia e até economia verde”, afirma Chohfi, que destaca ainda a posição geográfica privilegiada do país. Segundo ele, o Brasil está longe de grandes tensões, não tem rivalidades estratégicas ou problemas de fronteiras. “A economia está estável, com indicadores positivos, além de termos um imenso mercado consumidor”, resume.
Na visita ao Brasil, a agenda da comitiva da Arábia Saudita está sendo organizada pela consultoria Sete Partners, de André Skaf, filho do ex-presidente da Fiesp, e será intensa: com encontros com ministros de Estado, com o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, visitas às empresas Suzano e Embraer, e encontros com dirigentes de times de futebol. Nesta segunda (31), eles participam de um fórum na Fiesp, organizado pelo presidente da entidade, Josué Gomes da Silva, e, à tarde, vão à XP para um evento sobre oportunidades de investimento no Brasil que será aberto pelo presidente executivo do conselho da instituição, Guilherme Benchimol.
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“Mais de 20 MOUs (memorandos de entendimento) estão sendo preparados para serem assinados, um deles com uma previsão de investimento de US$ 200 milhões”, afirma Skaf. “Essa é a primeira grande visita da Arábia Saudita ao Brasil e abre oportunidades para irmos muito além das negociações de commodities”, resume.
Brasília mais perto de Riad?
O ano passado marcou um recorde histórico de negociações entre o Brasil e a Arábia Saudita: US$ 5,3 bilhões em importações e US$ 2,9 bilhões em exportações. O volume total de US$ 8,2 bilhões é o dobro do negociado um ano antes. “E neste ano, tudo se encaminha para que um novo recorde seja batido”, afirma José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Apesar da aproximação entre os dois países, o aumento do volume financeiro negociado, por enquanto, está associado a razões macroeconômicas. A balança comercial entre os dois países é relativamente simples, explica Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getulio Vargas: o Brasil importa derivados do petróleo e fertilizantes e exporta carne e miúdos de aves e açúcar e melaço. E a Guerra na Ucrânia, que começou em fevereiro de 2022, impactou o preço desses produtos.
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Na balança comercial, Castro vê poucas possibilidades de diversificação. “Esbarramos na nossa produção industrial, que é baixa para o volume que seria necessário, na competição com Estados Unidos no que já exportamos e na competição com a China e a Índia para novos setores”, diz. Mas a reforma tributária, em tramitação, e o caminho pavimentado para recuperar o grau de investimento estariam criando, diz, um ambiente para que o Brasil retome o posto de exportador e aumente a presença de empresas brasileiras por lá.
Presença brasileira
Hoje, Petrobras e BRF estão entre as companhias tradicionais com operação na Arábia Saudita. A segunda chegou em 2019, depois de investir US$ 120 milhões para construir uma planta de processamento de aves. E, no fim de maio, o fundo soberano da Arábia Saudita, Salic, se comprometeu a injetar R$ 2,25 bilhões na empresa, em um aumento de capital em que a Marfrig, de Marcos Molina, concordou em aportar outros R$ 2,25 bilhões. O Salic já detém participação na Minerva.
Uma novata entre as brasileiras por lá é a Oakberry e, para Michel Alaby, consultor de relações internacionais, o açaí e outros alimentos industrializados são, justamente, alguns dos nichos de mercado em que o Brasil tem competitividade e possibilidade de crescer.
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Para além de relações comerciais, outro dado chama a atenção dos empresários brasileiros: US$ 778 bilhões, o valor que o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (PIF), administrado pelo governo, possui em investimentos. “O PIF está à procura de projetos de alta rentabilidade, principalmente na área de infraestrutura, segurança alimentar e energia. E nesses pontos, o Brasil pode sair na frente”, avalia Alaby.
Para Leonardo Paz, da FGV, há outras razões para a Arábia Saudita investir no Brasil: “os países buscam aumentar suas zonas de influência e os sauditas estão em um movimento de melhorar a imagem internacional deles, com investimentos em sustentabilidade, tecnologia e esportes”, afirma. Como exemplo, o país entrou para o calendário da Fórmula 1, em 2020 e times de futebol locais têm feito ofertas milionárias para grandes estrelas do esporte como Cristiano Ronaldo, Lionel Messi e Kylian Mbappé. Até agora, no entanto, apenas o jogador português topou a mudança. Messi e Mbappé preferiram driblar a oferta.
Vale
Na semana passada, a Vale (VALE3) anunciou um acordo vinculante com a Manara Minerals e a gestora americana Engine No. 1 para vender uma fatia de 13% de sua unidade de metais básicos (VBM) pelo valor de US$ 3,4 bilhões. O montante total será pago à vista na conclusão da transação, sujeita aos ajustes usuais.
A Manara Minerals, uma joint venture entre a mineradora Ma’aden e o PIF, fundo soberano da Arábia Saudita, deterá 10% da unidade de metais básicos da Vale, enquanto a Engine No. 1 ficará com uma participação de 3%, informou a mineradora.
Este é o primeiro investimento da Arábia Saudita na área de mineração e o maior já feito no Brasil.
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