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O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, disse, em entrevista concedida ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, na segunda-feira (4), que o caminho para a retomada da industrialização no Brasil passa por “medidas horizontais”, como a redução da tributação ao setor e da taxa básica de juros. Para ele, tais medidas, hoje, mostram-se mais eficazes do que as decisões protecionistas que deram benefícios fiscais a diversos segmentos da cadeia outrora.
“Eu, no passado, já participei de muitas entidades de classe e talvez tenha defendido ideias que hoje já não defendo. Eu acho que as medidas horizontais, especialmente as medidas de redução da tributação sobre a indústria e de redução do custo de capital, são as mais eficazes. Mas, infelizmente, nós industriais, até pela necessidade de sobrevivência, passamos a defender medidas verticais e protecionistas em um caso ou no outro”, afirmou Gomes.
O empresário, que é dono da fabricante de fios e tecidos Coteminas e tem mandato à frente da Fiesp até 2025, aproveitou a oportunidade para defender a criação de um “Plano Produção” nos moldes do Plano Safra, que neste ano poderá chegar próximo a R$ 440 bilhões para o agronegócio. Segundo um estudo conduzido pelo economista-chefe da Fiesp, Igor Rocha, para que a indústria de transformação brasileira retome o patamar de produtividade que tinha nos anos 1970, quando equivalente a 55% da norte-americana, o país precisaria investir no setor em torno de 4,6% do PIB anualmente, por um período entre sete e dez anos. Ou seja, uma média de R$ 456 bilhões por ano para suprir os gargalos do complexo industrial e retomar a produtividade perdida, que hoje é de aproximadamente 20% da americana. O estudo também mostra que atualmente a indústria de transformação tem investido cerca de 2,6% do PIB em relação à depreciação, abaixo do valor ideal, que seria 2,7%.
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“O agro tem terra, tem sol, tem água, tem empresários espetaculares, tem tecnologia, mas tem tributação muito baixa e tem, neste ano, um Plano Safra de 440 bilhões de reais. […] O ‘Plano Produção’ que nós defendemos é o equivalente a um ‘Plano Safra’ para a Indústria. Ele precisa ser feito”, afirmou. Ele fez um diagnóstico para a perda de valor do setor nos últimos tempos: “A indústria foi muito tributada e, ao ser muito tributada, perdeu a capacidade de investimento, e ela não tinha condições, porque diminuiu-se a geração de caixa livre das empresas industriais, e ela não poderia recorrer a recursos de terceiros, porque o custo de capital era proibitivo. O que aconteceu? A indústria brasileira investiu menos do que as outras indústrias de transformação ao redor do mundo, em um período em que as transformações tecnológicas foram muito fortes, amplas e rápidas. Por isso, a produtividade da indústria brasileira caiu.”
Para Gomes, um eventual plano de financiamento para o setor poderia priorizar segmentos voltados à transição energética e à digitalização da indústria.
Coteminas
O empresário também saiu em defesa de sua parceira comercial, a gigante do e-commerce de moda Shein, que tem feito um esforço para nacionalizar parte de sua produção. A empresa chinesa firmou, em abril, um acordo de produção com a Coteminas que também previa um empréstimo de US$ 20 milhões (cerca de R$ 100 milhões). “Eu, como industrial, vejo a Shein como uma cliente. Uma cliente que vende em mais de 170 países e que vende para mais de 650 milhões de clientes ao redor do mundo. Eu acho que a indústria brasileira tem uma oportunidade enorme de aproveitar essa plataforma de venda global para vender os seus produtos”, disse Gomes, que também elogiou a criação do programa Remessa Conforme, saída encontrada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva para a falta de isonomia entre a produção nacional e os itens importados pelo e-commerce. “Isso é uma questão antiga. Vários governos passaram sem oferecer uma solução. O programa Remessa Conforme, que está em funcionamento, tem estatísticas claras e transparentes.”
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O empresário não negou que a Coteminas passe por problemas. No primeiro trimestre deste ano, a fabricante teve sua receita líquida reduzida em 55,1% em relação ao mesmo período do ano anterior, para R$ 171,3 milhões, com prejuízo bruto de R$ 15,2 milhões. A empresa está se desfazendo de ativos para amealhar recursos e quitar seu passivo trabalhista – neste momento, funcionários estão com salários atrasados. “Estamos passando por um momento difícil em função das taxas de juros. Estamos vendendo patrimônio pessoal e em breve isso tudo vai estar normalizado”, disse Gomes, que classificou o episódio como uma “tempestade perfeita”. “A somatória de aumento muito rápido da Selic no ano passado com o aumento da matéria-prima durante oito meses no ano e a saída da pandemia fizeram com que o segmento de cama, mesa e banho diminuísse suas vendas”. Para fazer frente a isso, Gomes disse que a empresa reduziu drasticamente a quantidade de itens produzidos e, com isso, demitiu parte do seu quadro de funcionários.
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