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Em um futuro não muito distante, nenhuma empresa vai funcionar sem que seus produtos e serviços contem com o uso da inteligência artificial (IA) em ao menos algum momento – seja no atendimento aos clientes, análise de dados, segurança ou transações financeiras. E a corrida entre as empresas de tecnologia para atender a esse novo mercado gigantesco está em curso.
A avaliação é do presidente da IBM no Brasil, Marcelo Braga, que se reuniu com jornalistas na última semana, para falar sobre as perspectivas de mercado. Ele contou que a multinacional norte-americana especializada em softwares, serviços e consultoria de informática decidiu colocar a inteligência artificial como prioridade na sua estratégia de negócios por perceber que ela é um ponto de interesse para todos os tipos de atividades.
“A IA é o centro da nossa estratégia como empresa porque deixou de ser apenas uma área específica para estar presente em tudo”, afirmou. Segundo ele, não tem como a IBM prover serviços digitais sem pensar em acoplar a inteligência artificial. “Ela está permeando tudo”, enfatizou.
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Essa percepção se consolidou ainda mais com o avanço da IA generativa – aquela que tem capacidade não só de realizar comandos automáticos após receber uma programação inicial, mas que também tem consegue “aprender”, isto é, gerar respostas novas e mais complexas depois de coletar informações continuamente.
Há mais de um ano, a filial da IBM no Brasil vem despontando como uma das unidades com maior crescimento do grupo ao redor do mundo e, segundo Braga, boa parte disso vem, justamente, da IA. Há um grande interesse das instituições locais em descobrir tipos de aplicações, sendo que a maior demanda é de bancos, varejistas, empresas de infraestrutura e telecomunicações.
No caso do setor bancário, o impulso veio do Pix, que fez disparar o volume de transações e de tráfego de dados. Por trás de cada Pix é feita mais de uma dezena de processos de validação de dados e ritos de segurança pelas instituições financeiras, o que demanda uso da inteligência artificial no cruzamento das informações. “São de 30 mil a 40 mil transações Pix por minuto em cada um dos cinco maiores bancos do País. Então, vimos um incremento muito grande no tráfego de dados”, disse o executivo. Com a agregação da IA generativa, será possível cruzar mais dados e reforçar o cerco contra fraudes.
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Outra aposta da IBM está na aplicação de IA para canais de atendimento a consumidores. Recentemente, a IBM fechou contrato com a Equatorial Energia para fornecer uma ferramenta que simula voz humana, interpreta perguntas, responde aos clientes (com sotaque de acordo com a região) e é capaz de perceber até palavras e entonações que indicam estresse do outro lado da linha.
O acordo envolveu também a startup Onni.ai, especializada no uso de IA generativa para voz. A startup tem um laboratório de US$ 2 milhões que desenvolve sistemas de informática que falam e entendem português e espanhol. Por sua vez, a IBM tem trabalhado no aprimoramento da governança desses sistemas. O objetivo é que a IA “não fale” grosserias, nem passe informações erradas.
presidente da IBM ressaltou que a inteligência artificial está criando um novo marco para o universo tecnológico, que será lembrado no futuro com a mesma importância da chegada dos computadores ou da internet na vida das pessoas, empresas e governos. “Os negócios vão se apoiar em IA para se tornarem mais produtivos”, sintetizou.
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Braga afirmou também que o mercado de IA “não é um jogo de um vencedor”. Ou seja: tem espaço tanto para as grandes corporações fornecedoras da tecnologia base e soluções customizadas até startups capazes de criar serviços inovadores e aplicações específicas.
“Não é uma plataforma travada, em que se usa apenas a Open AI, Google ou a IBM. É um jogo de somatória, como um jogo de montar, um lego”, disse, referindo-se à possibilidade de um cliente buscar serviços de vários fornecedores. “Acreditamos que as plataformas de IA têm que ser abertas para que os clientes consigam tirar proveito do que há de melhor delas”.
‘Marco Regulatório
O presidente da IBM, Marcelo Braga, afirmou que o projeto de lei em discussão no Congresso para regulamentar a inteligência artificial não deve ser uma barreira para a inovação no Brasil, embora concorde com a importância do tópico da privacidade dos dados. O Projeto de Lei 759/23 traça diretrizes para a aplicação da IA, entre as quais a proteção da privacidade, dos dados pessoais e do direito autoral. Isso quer dizer que os sistemas de IA generativa não podem sair por aí capturando dados de forma irrestrita.
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“Temos que fazer um posicionamento, como indústria, para que não haja restrições que impeçam a inovação, mas com a garantia de privacidade e de que a IA está sendo usada para um propósito adequado”, disse Braga. “A discussão de privacidade é um dos pontos cruciais. Sim, a inovação tem que ter guardrails”, declarou.
Braga disse que o decreto da presidência dos Estados Unidos publicado neste mês orientando as empresas norte-americanas sobre a adoção de medidas que mitiguem os riscos do uso da IA é o “primeiro marco significativo do setor” e que deve ser servir de referência para outras partes do mundo.
Na visão do executivo, o Brasil deve combinar preceitos de outros países com a realidade local, mas sem exageros que possam fazer as empresas daqui perderem negócios para as de fora. “A regionalidade tem sua relevância, mas não adianta ter uma caracterização muito tropicalizada, porque essas soluções (de TI) são globais. Se o serviço não for feito aqui, será feito lá fora”.
Braga ponderou que a IBM vai fechar um posicionamento sobre o PL 759/23 junto com a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação, Comunicação e Digital (Brascom).