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Se 2023 tem sido um ano de grande desafio para o varejo e seus fornecedores, para a Bombril esse parece ser o ano de importante recuperação. A companhia, dona de uma das mais tradicionais marcas do país, teve sua saúde financeira fragilizada por uma série de erros cometidos no passado. Mas mostrou no terceiro trimestre uma significativa melhora em diversos aspectos de seu balanço: liquidez, estrutura de capital e margem. Ainda há pontos de atenção a serem monitorados, mas a boa notícia, na visão do presidente da empresa, Ronnie Motta, é que a trajetória é suficientemente positiva para diminuir o “risco Bombril”.
“Melhoramos o perfil da dívida, que estava toda concentrada no curto prazo, e a empresa começa a ser vista como uma opção para oferta de crédito”, diz Motta. Hoje, a dívida líquida da companhia soma R$ 383 milhões, o que leva a um indicador de alavancagem de 1,5 vez o Ebitda.
Mas o aspecto que melhor demonstra a perspectiva de mudança de fase da companhia é o capital circulante líquido – ou capital de giro da companhia -, que hoje está negativo em R$ 85 milhões, mas que era negativo em R$ 219 milhões no fim de 2022 e em R$ 284 milhões em 2021. Esse indicador precisa estar no terreno positivo para a empresa demonstrar condição de liquidez suficiente para manter sua operação.
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O avanço desses indicadores reflete principalmente o acesso que a empresa teve a uma linha de crédito de R$ 300 milhões, por meio de um FIDC gerido pela BS factoring, que tem prazo de 48 meses. Movimento que, segundo Motta, reduziu o custo da dívida em 30% e está estimulando outros credores – especialmente em linhas bancárias – a renegociar melhores condições de custo e prazo para a companhia, o que poderia gerar uma espécie de círculo virtuoso.
A Bombril fechou o terceiro trimestre com um Ebitda ajustado de R$ 70,2 milhões, crescimento de 11,1% em relação a igual período de 2022. A margem Ebitda subiu para 18,8%, de 16,2%. Em nove meses, o Ebitda ajustado soma R$ 188 milhões (margem de 17,6%), praticamente o mesmo resultado apurado ao longo de todo o ano de 2022. Na comparação com igual período do ano passado, o avanço foi de 65%.
Já o lucro líquido ficou em R$ 45,2 milhões, 187% acima do verificado no terceiro trimestre de 2022. Com isso, a companhia conseguiu atingir um lucro líquido de R$ 83,7 milhões nos nove primeiros meses do ano, e reverter o prejuízo de R$ 1 milhão registrado em igual período do ano passado.
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A fotografia muito mais bonita tirada no último trimestre se deve, segundo Motta, ao trabalho de ajustes e simplificação que começou a ser implementado na empresa em 2022, quando o executivo assumiu a cadeira de CEO – mas sem abrir mão do chapéu de CFO. Esse acúmulo de funções marca, inclusive, o início do processo de reestruturação e redução de custos implementada por Motta: de sete diretores, ficaram apenas dois. “Era importante naquele momento sentir melhor o pulso da empresa, entender o que cada área estava fazendo e qual seria a estrutura mais adequada”, explica.
Após um período de análise, a Bombril passou a contar com quatro diretores. Ainda assim, a nova estrutura mais simples e eficiente gerou uma economia que permitiu uma melhora no vale-alimentação dos funcionários, conta Motta. A medida parece pequena, mas ilustra a nova política de gestão que o executivo passou a defender, mais próximo do dia a dia das áreas e dos funcionários. “É um momento importante, em que precisávamos criar uma cultura de confiança e engajamento”, diz o executivo.
Motta é o tipo de executivo que gosta de caminhar pela fábrica, de almoçar no restaurante da empresa com os funcionários, de estar perto do dia a dia da empresa. E também dos clientes. Ele diz que entender as dores do varejo, que atravessa um período desafiador diante do efeito dos juros altos sobre o consumo e o custo financeiro, faz parte dos esforços para melhorar o resultado da companhia. Além de negociações mais flexíveis de prazo de pagamento, um dos problemas que a Bombril tem tentado atacar junto com os clientes é o alto nível de estoque das lojas.
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“A gente tem investido em melhorar nossos prazos de entrega, com maior eficiência logística, para evitar que as lojas ampliem estoque desnecessariamente”, diz Motta. Para isso, a empresa firmou uma parceria com a IBM, que está desenvolvendo soluções de inteligência artificial. E também ampliou o número de regionais de venda e distribuidores, de forma a agilizar as entregas.
Outro aspecto da reestruturação passou pelo ajuste de preços e margens dos produtos. “Em alguns produtos, tivemos que baixar preço porque não vendiam; em outros, tivemos que adequar o posicionamento porque o preço passava uma percepção errada”, explica o executivo. “O que adianta ser líder e não ter margem? Se tiver que dispor de dois pontos de market share para ganhar margem, faremos isso”, diz.
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