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SÃO PAULO – Em meio às tensões e reflexões causadas pelo movimento “Black Lives Matter” no mundo empresarial, alguns comentários feitos por funcionários do LinkedIn em uma reunião online mostram o despreparo das empresas para lidar com discussões raciais no local de trabalho.
O recém-nomeado CEO do LinkedIn, Ryan Roslansky, realizou um bate-papo em vídeo no dia 3 de junho para discutir a morte de George Floyd e a desigualdade racial nos Estados Unidos. O que deveria ter sido um momento de reflexão, porém, revelou uma outra face dos funcionários da companhia.
Segundo o site The Daily Beast, vários comentários foram feitos por funcionários de forma anônima no bate-papo, com questionamentos sobre a política de contratação a partir do pilar da diversidade, manifestações contra a promoção de minorias para cargos de liderança e tentativas de minimizar a brutalidade da polícia na abordagem que resultou na morte de Floyd.
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“Como uma minoria, toda essa conversa me faz sentir que devo me sentir culpado da minha cor de pele”, escreveu um funcionário durante a chamada. “Sinto que devo deixar alguém menos qualificado preencher minha posição. Tudo bem? Parece que sou um prisioneiro de meu nascimento. Não é isso que Martin Luther King Jr. gostaria de ter para alguém”, escreveu outro funcionário de forma anônima.
“Negros matam negros 50 vezes mais do que brancos matam negros. Geralmente é o resultado da violência de gangues no centro da cidade. Onde está o clamor?”, disse outro.
Funcionários de todo os Estados Unidos estão pedindo que os líderes adotem posições firmes contra a injustiça racial e este é um dos desafios que o novo executivo deve enfrentar durante a sua gestão. O LinkedIn precisa difundir entre os seus uma cultura empresarial mais inclusiva para funcionários negros e não brancos, que siga os ideais defendidos pela vice-presidente de diversidade global, Rosanna Durruthy.
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A executiva afirmou em entrevista ao site Business Insider que a companhia está trabalhando para combater a xenofobia e o racismo em seus escritórios, mas os comentários expostos pelo The Daily Beast indicam que as ações precisam ser mais eficientes.
Em resposta aos comentários, outros funcionários manifestaram preocupação por sua segurança na empresa e alguns demonstraram estar chocados com as observações anônimas.
“Não me sinto seguro trabalhando nesta empresa em um local onde já estava desconfortável com o tratamento que recebi da minha equipe desde que comecei”, escreveu um funcionário. “Isso é tão triste.”
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“Existem alguns comentários extremamente ofensivos aqui que vão completamente contra o espírito dessa reunião”, acrescentou outro. “Estou completamente chocado com alguns desses comentários racistas de meus colegas de trabalho. Completamente enojado!”
CEO se desculpa após o episódio
Em 4 de junho, Roslansky pediu desculpas aos funcionários. Ele enviou um e-mail endereçando “um pequeno número de comentários ofensivos” que “reforçavam o trabalho duro que ainda temos que fazer”. E ele pediu desculpas por não conseguir rastrear e abordar os “comentários apavorantes” em tempo real.
“Sinto muito e isso não acontecerá novamente”, escreveu ele no e-mail. “Além disso, oferecemos a capacidade de fazer perguntas de forma anônima, com a intenção de criar um espaço seguro para todos. Infelizmente, isso possibilitou adicionar comentários ofensivos sem responsabilidade. Eu disse isso ontem no grupo da empresa e direi novamente: não somos e não seremos uma empresa ou plataforma em que o racismo ou discurso de ódio é permitido”, reforçou.
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Apesar de estar há pouco mais de uma semana no cargo de CEO, Roslansky trabalhou no LinkedIn por 11 anos como vice-presidente sênior de produtos e experiência do usuário antes de ser selecionado como diretor-executivo.
Ele substitui Jeff Weiner, um dos principais responsáveis pelo sucesso da plataforma nos últimos anos e um dos executivos mais populares dos EUA, com base na satisfação dos funcionários da Glassdoor. Weiner teve uma taxa de aprovação de 97%.
A permissão para comentários anônimos na chamada criou um ambiente para que as pessoas compartilhassem suas opiniões sem prestar contas, escreveu Roslansky em seu e-mail aos funcionários. O CEO enfatizou ainda que comentários anônimos não serão permitidos em futuras reuniões da empresa.
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Diversidade racial na prática
De acordo com o relatório de diversidade da força de trabalho de 2019 do LinkedIn, cerca de 48% da força de trabalho da empresa é composta por brancos, enquanto apenas 4% são negros. Desses, só 1% dos funcionários negros estão em cargos de liderança.
Na outra ponta, 61% dos líderes se identificam como brancos, 32% asiáticos, 2,8% como “latinos” e 2,8% se identificam como inter-racial. Em relação à diversidade de gênero, a empresa vem cumprindo bem o seu papel, o número de mulheres na liderança aumentou 56% nos últimos cinco anos.
Durruthy disse ao Business Insider que os líderes devem criar um espaço seguro e confiável para todos os funcionários, já que a empresa está lidando com xenofobia e problemas de saúde mental internamente.
“Não há espaço para a xenofobia, e não há espaço para as pessoas se atacarem, e acho que é uma mensagem importante para os líderes serem responsáveis”, afirmou ela. “Em um momento como esse, é realmente uma grande manifestação de como uma empresa pode manter sua cultura, suporte, inclusão e pertencimento não apenas ao abordar a situação imediata, mas também ao abordar as circunstâncias provocadas”, acrescenta.
Na área de contratação, ela disse que o LinkedIn está se afastando das referências de funcionários, porque tende a atrair candidatos que têm antecedentes semelhantes aos empregados existentes.
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