Como montar um currículo para trabalhar fora do Brasil

Cerca de 91% dos brasileiros têm vontade de deixar o país para trabalhar no exterior

Mariangela Castro

Uma pesquisa divulgada no início deste ano pela companhia de recrutamento e seleção Talenses revelou que 91% dos brasileiros têm vontade de deixar o país para trabalhar no exterior.

As vagas de trabalho internacionais podem ser realmente tentadoras, mas para concorrer é necessário apresentar um currículo estrangeiro. Dependendo do país, o modelo é bem diferente do que os profissionais estão acostumados no Brasil.

O InfoMoney conversou com Tana Storani, que já foi recrutadora na Europa de empresas como LinkedIn e HP e, hoje, possui uma consultoria especializada em carreira internacional, na qual recebe brasileiros e adapta o currículo deles para os padrões europeus.

1 – Tamanho ideal e informações obrigatórias

De acordo com Storani, o currículo internacional é totalmente diferente do brasileiro. “Principalmente na Europa, é necessário adicionar muito mais informação”, diz ela. Por isso, o ideal é que o documento possua de 2 a 3 páginas.

A especialista aconselha que os candidatos pesquisem as especificidades de cada país antes de enviar as informações. Na Alemanha e na Holanda, por exemplo, é muito importante especificar a data de nascimento e inserir uma foto pessoal. Na Irlanda, por outro lado, esses dados não são bem vistos.

Além disso, segundo uma nova lei criada pela União Europeia e colocada em prática no último ano, a GDRP (Regulamento Geral sobre Proteção de Dados), uma pessoa só é obrigada a informar no documento o número de telefone, email, nome e o perfil do LinkedIn”, explica Storani. A ideia é manter a privacidade.

2 – Summary

Após as informações pessoais obrigatórias, é necessário inserir um “summary”, que consiste em um parágrafo de aproximadamente quatro linhas informando, de forma geral, a experiência que o profissional possui, o que faz hoje, quantos idiomas fala, quantos anos de trabalho possui e em quais áreas já atuou.

“Essa parte deve ser baseada em dados e conquistas, em números; não em palavras como ‘proativo’, ‘pontual’, etc.”, comenta a especialista.

3 – Education

Logo abaixo do summary, deve ser inserida a formação acadêmica do candidato, especificando faculdade e cursos, o país de cada um deles, o ano de início e conclusão. Se o candidato tiver acabado de se formar, ele pode colocar os principais módulos de sua graduação.

“Não recomendamos escrever ‘diploma’, isso é muito vago, o ideal é colocar ‘Bachelor Degree’. Pode ser Bachelor Degree in psychology, ou in engineering”, exemplifica Tana. “Também é possível colocar ‘Master Degree in’, ‘MbA in’ ‘Technical Degree in’, etc”.

4 – Carreer Background

Abaixo de education, então, é necessário inserir todas as experiências profissionais em ordem cronológica, começando pelo trabalho atual do candidato e apresentado as anteriores da mais recente para a mais antiga.

Storani alerta a importância de inserir sempre o mês em que começou e terminou cada trabalho e o país em que atuou. “Quanto mais internacionalizado for o currículo, melhor. Mesmo que o profissional só tenha trabalhado no Brasil, se já fez algum projeto para outros países em uma multinacional, é importante especificar.”

Ainda sobre ordem cronológica, se o candidato realizou algum intercâmbio, curso no exterior ou passou determinado tempo fora do Brasil, ele deve inserir esta atividade junto com as profissionais, para não deixar no currículo nenhum intervalo de tempo vazio.

5 – Achievements

Abaixo de cada experiência, o candidato deve colocar quais projetos e conquistas realizou na empresa. “Chamamos isso de ‘achievements’, eles consistem em tudo que um profissional trouxe de valor para a empresa, construiu, desenvolveu, ou cortou custos – tudo que ele fez a mais.”

Estas conquistas podem ser algum aumento de lucratividade ou produtividade e alguma mudança. Storani explica que o candidato não precisa tê-las feito pessoalmente: se ele fez parte do time que desenvolveu o processo já é suficiente.

“Para uma empresa europeia pagar o visto e trazer de outro país uma pessoa completamente nova, que não conhece a cultura local, a companhia deve ter certeza de que este funcionário não vai fazer só o que foi contratado para fazer, e sim mais.”

Quando um candidato possui muitos tempo de experiência, como 10 ou 20 anos, para apresentar as vagas mais antigas não é necessário descrever todo o trabalho realizado, e sim apenas o cargo e as conquistas.

6 – General Skills

Essa parte do currículo, que deve ser inserida abaixo das experiências profissionais, envolve idiomas que o candidato fala, habilidades de computação, softwares e, também, ‘soft skills’, ou habilidades humanas – agora sim, características como ‘proativo’ e ‘pontual’ são bem-vindas.

Storani também aconselha que o candidato especifique nesta parte as skills exatamente como descritas na vaga da empresa.

“Na Europa, cada empresa tem um software chamado ATS (application time solution). Este programa faz um rastreamento e procura quais currículos melhor correspondem ao ‘job description’ da empresa.” Segundo ela, essa busca é feita por palavras-chave cadastradas e somente os currículos selecionados serão consultados pelos recrutadores.

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Por causa deste software, Storani sugere que o candidato possua um currículo genérico, idêntico ao linkedIn e, para cada vaga ele que ele deseje aplicar, altere a descrição e insira as palavras-chave específicas.

7 – Volunteering and professional references

Por último, é fundamental em um currículo europeu que o candidato apresente seus trabalhos voluntários, caso tenha realizado, e quais referências profissionais possui.

Após a implementação da lei GDRP na Europa, não é permitido colocar o nome nem o telefone de pessoas que trabalharam com você. O que deve ser feito é colocar a empresa, o e-mail geral da empresa e o site de algum projeto online, se existir.

Somente na entrevista de emprego o candidato pode informar o nome e o contato de algum antigo chefe ou colega de trabalho.

Atenção à tradução

É comum entre os profissionais brasileiros que, ao aplicarem para uma vaga internacional, apenas traduzam os cargos e as informações. Tana alerta que essa tradução exata é muito arriscada em determinadas profissões.

“Um erro muito comum acontece com assistentes administrativos, que é uma vaga muito boa. Grande parte dos profissionais traduz como ‘assistant administrator’, que aqui na Europa é uma vaga de estagiário. O correto seria ‘account assistant’”.

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Para Tana, o mais recomendado é pedir ajuda a uma consultoria, como a dela, ou a um profissional que trabalhe com recrutamento no mercado internacional – e não a um tradutor. Outro conselho para saber a tradução da vaga está correta é sempre buscá-la no LinkedIn, conferir se existe e consultar qual a formação das pessoas que trabalham nestes cargos.

“Eu sempre indico que nos currículos a vaga esteja escrita da forma mais genérica possível, para o recrutador não possuir dificuldades de entender. Durante a descrição do cargo os profissionais podem explicar mais detalhes.”

Perfil do LinkedIn é importante

“Os brasileiros precisam entender que o LinkedIn não é uma rede social, é uma plataforma de recrutamento. Na Europa, as multinacionais contratam os serviços da plataforma para poder monitorar os candidatos mais qualificados e ‘roubá-los’ de outras empresas”, comenta a especialista.

Por isso, para aqueles que desejam uma vaga no exterior, o mais importante de tudo é manter o perfil no LinkedIn sempre atualizado, com as informações mais completas possíveis, o e-mail e site de cada empresa que o profissional já trabalhou, tudo em inglês.

Tana explica que “o currículo enviado pelo candidato deve bater 100% com as informações do LinkedIn. Se isso não acontecer, o recrutador vai achar que o profissional está mentindo e, então, descartá-lo”.

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