O alto custo de um serviço parco

Se por um lado, profissionais fazem corpo mole, por outro lado, lideres não incentivam a criatividade, causando prejuízo ao desenvolvimento econômico e social

Eli Borochovicius

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(Shutterstock)
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Faz algum tempo que vi nas redes sociais a foto do asfalto de uma estrada vazia, com a faixa da guia contornando a ponta de um galho caído à sua margem.

O compartilhamento trazia o título “Me pagam para pintar, não para remover os galhos”.

Trabalho porco! De acordo com Ari Riboldi, em sua obra intitulada “O bode expiatório: origem de palavras, expressões e ditados populares com nomes de animais”, a expressão “mal e porcamente” foi sendo alterada com o tempo.

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Originalmente, na linguagem erudita, usava-se a expressão “mal e parcamente”, que significa executar um serviço parco, sem qualquer zelo. Por analogia, acredito que a expressão correta para esse tipo de ação seja “Trabalho parco”.

A questão é que existe trabalhador oferecendo a sua mão de obra, o seu tempo e energia, exclusivamente em troca de dinheiro, sem se preocupar com o valor que está entregando à sociedade.

Parece que não há, em seu íntimo, a compreensão de que a remuneração pelo trabalho se dá porque alguém (pessoa física ou jurídica) precisa dele.

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Dessa forma, é relevante destacar que o salário representa o pagamento de um serviço prestado por um sujeito, embora não esteja diretamente relacionado aos bons resultados produzidos.

Há profissionais que por preguiça, comodidade, raiva, vingança ou qualquer outro sentimento que os levem a propositadamente fazerem um serviço com desleixo, acabam, de forma irresponsável, por prejudicar uma série de consumidores.

Na iniciativa privada, o funcionário pode ser demitido por tratar as suas tarefas com desprezo, mas não responde por todo o prejuízo que eventualmente tenha causado a todos aqueles que dependem dele.

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O servidor público, se não respeitar as regras do local de trabalho ou não cumprir com os deveres e proibições estabelecidos em lei, também. A estabilidade de emprego protege o servidor de uma demissão pela vontade do seu superior, mas não pelo descumprimento das regras estabelecidas.

O custo do descompromisso do funcionário público ou privado com o governo, empregador, clientes diretos, fornecedores, investidores, bancos e a sociedade, é muito alto. Parece cultural a criação de barreiras para fugir das dificuldades, em vez de enfrentá-las.

Por outro lado, tenho a impressão que a nossa cultura de aversão a risco incentive os trabalhos parcos, ao penalizar as mentes mais criativas que se dedicam à quebra de paradigmas.

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Os discursos das lideranças são voltados ao empreendedorismo, mas as políticas governamentais e empresariais parecem demonstrar o contrário.

Faça aquilo que é pago para fazer e não correrá o risco de perder o seu emprego. Se for pago para pintar, pinte. Retirar o galho que obstrui o seu trabalho não é tarefa sua.

Termino esse texto trazendo dois trechos da música Epitáfio, dos Titãs, que considero relevantes para a reflexão sobre o incentivo ao crescimento do país:

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Devia ter arriscado mais e até errado mais…
Devia ter me importado menos, com problemas pequenos…

A junção da cultura de aversão ao risco e do desincentivo à produtividade com a incompreensão metacognitiva do sujeito cria, no meu entendimento, um ambiente propício ao trabalho parco, uma barreira para o desenvolvimento econômico e social.

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Eli Borochovicius

Eli Borochovicius é docente de finanças na PUC-Campinas. Doutor e Mestre em Educação pela PUC-Campinas, com estágio doutoral na Macquarie University (Austrália). Possui MBA em gestão pela FGV/Babson College (Estados Unidos), Pós-Graduação na USP em Política e Estratégia, graduado em Administração com linha de formação em Comércio Exterior e diplomado pela ADESG. Acumulou mais de 20 anos de experiência na área financeira, tendo ocupado o cargo de CFO no exterior. Possui artigos científicos em Qualis Capes A1 e A2 e é colunista do quadro Descomplicando a Economia da Rádio Brasil Campinas