Ricardo Amorim faz corajosa revisão do passado em “Depois da Tempestade”

Clareza do texto ajuda a entender como as escolhas tomadas pelo governo desde 2009 ajudaram o Brasil a entrar em uma das piores crises da sua história

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Em 20 de maio de 2008, o Ibovespa subiu 0,11% e bateu 73.516 pontos, sua máxima histórica. Naquele ano, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro subiria 5%, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s tinha acabado de elevar o rating do País para grau de investimento e seríamos em breve capa da The Economist falando sobre como a nossa economia decolou. Oito anos depois, enfrentamos a nossa mais grave recessão já documentada, perdemos o “investment grade” e a revista britânica nos pôs novamente na capa, mas desta vez pedindo por socorro. O que deu errado?

É essa a pergunta que o economista Ricardo Amorim tenta responder com seu primeiro livro, “Depois da Tempestade”. São pouco mais de 300 páginas de artigos que ele escreveu desde 2009 falando da conjuntura política e econômica do Brasil. Ao fim de cada artigo ele tece um comentário atual (lembrando que o livro foi escrito entre a votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados e a no Senado) analisando o que escreveu à luz do desenrolar dos fatos. 

Em alguns momentos, o autor admite até com certo orgulho as previsões corretas, mas em outros, ele demonstra coragem ao admitir que está errado. É o exemplo do comentário que faz sobre seu artigo de janeiro de 2010, “2010: ano de eleições = ano de crise?”, no qual disse que os brasileiros não deveriam temer uma crise após o pleito eleitoral, já que fosse qual fosse o vencedor, não haveria mudanças radicais na política econômica adotada por Fernando Henrique Cardoso entre 1994 e 2002 e posteriormente mantidas por Luiz Inácio Lula da Silva entre 2003 e 2010. Comenta Amorim: “[…] uma vez à frente do governo, cada vez foi ficando mais claro que as opções da já então presidente Dilma Rousseff eram outras e as consequências econômicas também”. 

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Mas talvez, o principal ponto positivo do livro de Amorim seja a maneira didática com que explica o que aconteceu com a economia brasileira desde então. Longe de ser um texto árido, tanto os artigos quanto os comentários são escritos de maneira simples. Fica claro para o leitor o importante papel que teve a entrada da China na OMC (Organização Mundial do Comércio) em 2001 na economia global e o reflexo positivo disso no Brasil. Em vez de apenas citar o boom das commodities, o autor explica como o aumento das exportações de manufaturados chineses, muito mais baratos por conta dos custos mais competitivos e do câmbio desvalorizado, ajudou a reduzir a inflação no mundo inteiro ao mesmo tempo em que provocou um forte aumento nos preços das commodities.

“[…]Um chinês que tinha acabado de se mudar de sua vila perdida no meio do nada para um centro industrial e arranjar um emprego numa fábrica de sapatos ou de brinquedos não podia nem pensar em usar seu primeiro salário para comprar um carro ou um notebook: ele comprava mais comida para a família”, resume Amorim. Mais claro e direto impossível.  

O ponto negativo fica por conta da própria conjuntura em que o livro se insere, um cenário mutante em que todas as projeções podem ficar ultrapassadas em um piscar de olhos. Olhar para o passado é sempre uma maneira mais segura de evitar esse tipo de envelhecimento, mas Amorim em diversos pontos, principalmente no fim do livro, decide fazer jus ao “Depois” no título da obra e projeta um quadro de recuperação para o futuro, conclamando a sociedade a ter o mesmo engajamento político que mostrou em 2015. As ideias trazidas pelo autor ficam então expostas ao teste da realidade. E esse teste não depende apenas da boa vontade do governo interino, mas também do exterior, que acaba ficando um pouco de lado sempre que Amorim fala do futuro. 

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Felizmente, o próprio economista ajudou a fechar essas lacunas na obra em entrevista ao InfoMoney. Lá, além de falar sobre o que tem achado da gestão Temer até agora, Amorim explicou sobre o risco de estouro de uma bolha no mercado acionário dos Estados Unidos. 

Para quem busca um guia fácil e relativamente rápido para entender ou relembrar todo o período que nos levou à crise atual, “Depois da Tempestade” é uma opção interessante, mesmo com esse risco de envelhecimento.  

Ficha técnica

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Livro: Depois da Tempestade  

Autor: Ricardo Amorim

Preço: R$ 49,90

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Páginas: 304 

Editora: Prata

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