Star Wars e a ilusão monetária: como a “Força” ajuda desde Hollywood até o Federal Reserve

Inflação muda a percepção das pessoas sobre resultados de bilheteria, mas também favorece o Fed em sua política de aumento de juros

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Desde que estreou, em meados de dezembro, não se para de falar sobre os recordes de bilheteria que “Star Wars – O Despertar da Força” está batendo sucessivamente. Mas isso não está muito correto, já que não estamos olhando para o número real da bilheteria do sétimo longa da franquia. E um texto publicado no The New York Times mostra ainda que isso tem total relação com o Federal Reserve.

No último final de semana, o mais recente lançamento da franquia superou a marca de US$ 812 milhões no mercado americano, o que o coloca como a maior bilheteria da história nos EUA. Como destaca a publicação, isto é um recorde, mas também um exemplo de “ilusão monetária”, que é a tendência das pessoas de acreditar mais no valor nominal, e não no valor real, das coisas.

Para se ter uma ideia, ajustado pela inflação “O Despertar da Força” ganhou metade do que o filme original de “Star Wars” conseguiu em 1977, segundo dados do site Box Office Mojo. Essa atenção especial de Hollywood com os dados nominais de bilheteria ocorre simplesmente para mostrar um crescimento da indústria. Neste cenário, cada novo lançamento tem chance de bater os recordes do anterior.

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Mas o mundo do cinema não está tão bem assim. A realidade é que a indústria do cinema vendia em média cerca de 80 milhões de bilhetes durante uma semana em 1930, ou 65 bilhetes para cada 100 americanos. Em 2015, foram vendidos cerca de 23 milhões de bilhetes por semana, ou 7 por 100 americanos.

E esta ilusão das pessoas com os dados nominais e reais não serve para ajudar apenas Hollywood a mostrar crescimento, este é um tipo de “estratégia” que também valoriza o trabalho do Federal Reserve, por exemplo. Apesar de, em geral, a inflação ser vista como uma coisa ruim pelas pessoas, o Fed percebeu que pelo menos um pouco dela é necessária.

Vale lembrar que atualmente, neste momento de elevação dos juros nos EUA, a autoridade americana coloca como uma meta 2% de inflação ao ano, e está preocupada porque não está conseguindo fazer a taxa subir para este patamar. Isso tudo para evitar a deflação, algo que economistas tendem a concordar que é negativo para a economia.

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Pense que, com uma deflação, os consumidores adiam as compras, aguardando melhores ofertas. Diante disso, o crescimento para e os preços seguem caindo, o que torna cada vez mais complicado romper este ciclo. Um caso que serve como exemplo é o Japão, que vem tentando há duas décadas acabar com a deflação.

A inflação também aumenta a capacidade do Fed em estimular a economia, cortando custos de empréstimos. Por exemplo, consideremos que as taxas de juro de curto prazo são de 5% e a inflação está em 2% quando a economia de repente desaba. Se o Fed cortar as taxas para zero, enquanto a inflação permanecer em 2%, o custo dos empréstimos cai para 2% negativo, aumentando o impacto do estímulo.

Mas não é apenas neste cenário, a inflação também tem alguns benefícios importantes. Durante crises econômicas, empresas são muitas vezes relutantes em cortar salários, atrasando ajustes econômicos necessários, porque os trabalhadores odeiam cortes salariais. Segurando os salários nominais ou aumentando a remuneração abaixo da inflação oferece uma alternativa mais palatável para reduzir gradualmente o valor desses salários.

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Em geral, seja no cinema ou na política de juros do Federal Reserve, a inflação tem diferentes impactos na vida de cada um – não apenas no aumento de preços -, e pode muitas vezes ser positivo para uma economia, mesmo que seja uma “ilusão” para as pessoas. Da próxima vez que você ouvir sobre os recordes de “Star Wars”, saiba que eles são verdadeiros, mas não são reais.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.