Publicidade
A maioria dos brasileiros foi apanhada, de surpresa, pela degringolada econômica e seus efeitos perversos na renda das famílias e no bem-estar geral da sociedade. Talvez por isso mesmo, muitos se viram obrigados a dedicar maior interesse nas questões econômicas e nos fenômenos que deram origem às suas próprias dificuldades e temores. Alguns termos do economês passaram a ser de uso freqüente e começaram a ser mais bem compreendidos – ou pelo menos citados habitualmente – por aqueles já alcançados pela crise ou pelos mais inseguros quanto ao futuro imediato. Um desses termos é a “produtividade”, palavra utilizada para designar a eficácia da economia e de seus fatores, quando medida pela quantidade de produto (bens ou serviços) gerada com a mesma quantidade de insumos (mão-de-obra, energia, capital, matéria-prima, etc.). Cada vez um número maior de pessoas está dominando alguns conceitos derivados desse indicador, como, por exemplo: o de que quanto maior for a produtividade de um país ou região, maior será a competitividade dos seus produtos na concorrência globalizada; ou o de que aumentos reais de salários (acima da inflação) só podem ser concedidos, sustentavelmente, se resultarem de um ganho corresponde na “produtividade do trabalho”. Essa última expressão é utilizada para indicar a produtividade exclusiva da mão-de-obra envolvida na produção, sendo equivalente, por exemplo, ao cálculo do custo de um veículo ou de um apartamento dividido pelo número de homens-hora utilizados para fabricá-los. Alternativamente, a expressão “produtividade geral” ou “produtividade total dos fatores” é utilizada nos cálculos que relacionam o custo dos produtos com o de todos os fatores necessários para produzi-los (incluindo mão-de-obra, capital, equipamentos, insumos, instalações, logística, etc.)
Infelizmente, a situação brasileira não aparece bem nessa fita. Já há vários anos, a nossa produtividade nacional vem diminuindo e, se de um lado, alguns itens deixaram de ser competitivos internacionalmente e não podem mais ser exportados, de outro lado muitos produtos (bens e serviços) ficaram relativamente tão caros que estão sendo rejeitados pelo próprio mercado interno da nossa economia, mesmo quando se sabe que esta última vem sendo excessivamente protegida da competição externa.Nossos números são muito ruins. Uma instituição internacional de grande credibilidade, fundada em 1916, com sede nos EUA e denominada The Conference Board, Inc. vem divulgando periodicamente os resultados de produtividade na maioria dos países do mundo. Essa instituição acabou de divulgar resultados atualizadíssimos desse indicador, calculados para o exercício de 2014. Comparativamente, é fácil observar a contínua diminuição da produtividade brasileira, que voltou aos níveis medidos na década de 1950 do século passado e representa, hoje, apenas 24% daquela atingida nos EUA (já foi de 50% na década de 1980). Não há competitividade que resista à circunstância de que um trabalhador norte-americano produz, em média, o equivalente à produção de quatro operários brasileiros.
O noticiário jornalístico e os analistas especializados têm dado muito destaque a alguns fatores que indubitavelmente contribuem para os nossos péssimos índices de produtividade do trabalho, quais sejam, a baixa qualificação dos nossos operários (decorrente da educação deficiente e da falta de treinamento e capacitação no trabalho), o número excessivo de feriados, os encargos trabalhistas muito onerosos, a extensão exagerada das férias e outras incidências semelhantes. No caso da produtividade total dos fatores, há que se acrescentar outros efeitos, como, por exemplo, o custo da excessiva burocracia, os custos das deficiências logísticas, os juros elevadíssimos e as dificuldades para realizar investimentos, o baixo nível tecnológico aplicado, a carga tributária extorsiva e demais parcelas que compõem o assim chamado “Custo Brasil”. No entanto, quero concluir o presente tópico com um parágrafo especial, exemplificado, acerca dos efeitos da evolução tecnológica na produtividade, tema que, apesar de importante, não costuma ser muito abordado.
Continua depois da publicidade
Meu primeiro carro foi um Fusca, fato que formou em mim uma permanente simpatia pelo modelo e pela marca da respectiva montadora. Era um carro robusto, seguro para os padrões da época e de fácil manutenção, atributos que lhe garantiram o posto de campeão de vendas no mercado nacional. Aliás, o carrinho ainda mantinha a segunda colocação em vendas em 1986, ano em que sua fabricação foi descontinuada pela primeira vez (perdia, então, apenas para o Monza, fabricado por uma montadora concorrente). Naquele ano, a fabricação do Fusca foi interrompida pela circunstância de que o modelo estava ficando muito desatualizado, não só em relação à sua performance técnica, como também, e principalmente, pelas dificuldades de introdução de modificações que elevassem, na linha de montagem, a produtividade final na fabricação. Em 1993, por insistência do Presidente Itamar Franco (também com simpatia fidelizada para com o carrinho) a linha de fabricação do Fusca foi retomada, com pequenas e cosméticas modificações. A experiência durou pouco; o modelo já não conseguia repetir o sucesso de antes e teve a sua produção definitivamente interrompida. Naquele estágio, com incentivo legal à produção de veículos da classe 1.0 e com a introdução de fábricas modernas para a montagem de modelos atualizados tecnologicamente, o Fusca não conseguia mais acompanhar o salto tecnológico da Indústria e seu conseqüente aumento de produtividade. O fio da meada, no avanço tecnológico, tinha sido perdido e não havia mais como recuperar o mercado para o Fusca. Este exemplo, extraído da nostalgia pessoal, foi usado apenas para enfatizar a necessidade de manutenção de contínua evolução tecnológica, sem interrupções ou tropeços, para garantir o nível mínimo da produtividade nos segmentos econômicos e na nação.