Ambiente Empresarial

Essa situação fica estatisticamente visível no pequeno interesse dos brasileiros por suas empresas. No Brasil, apenas 500 mil pessoas possuem ações negociadas na BOVESPA e um número ainda menor se preocupa freqüentemente com a saúde financeira das empresas de que são acionistas.

Rubens Menin

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Na economia, como na natureza, quase todos os processos e atividades – em maior ou menor grau, dependendo de sua espécie e complexidade – podem ser considerados como a resposta dos respectivos sistemas ao ambiente em que eles ocorrem. Em geral, existe uma regra básica que costuma ser aceita sem controvérsia: ambientes bons (saudáveis, equilibrados, sustentáveis ou racionais) são exigências obrigatórias para que os processos produzam bons resultados, incluindo, tanto aqueles de características naturais, como os antrópicos, classe em que podem ser enquadradas as atividades econômicas. Os especialistas em “software” para informática costumam definir esse fenômeno no âmbito de ambientes menos controlados em que alguns aplicativos são desenvolvidos – descontrole este que acaba gerando a produção de maus resultados – com uma expressão importada da engenharia sanitária: “GIGO: garbage in, garbage out”, ou seja, se entra lixo, sai lixo.

Nessas questões, costumo argumentar, sempre, com a analogia do processo de despoluição e revitalização do Rio Tâmisa, que corta a cidade de Londres e que, historicamente, sempre representou a fonte de abastecimento de água, de absorção de esgotos e resíduos e de transporte fluvial para a grande população estabelecida em suas margens.Tantos foram os maus tratos ao rio, que as suas águas passaram a ser impróprias para o consumo, transformaram-se em fonte de odores insuportáveis e de miasmas pestilentos (que, até, obrigaram a suspensão de reuniões do Parlamento Britânico), contribuíram para a extinção da fauna no curso d’água e em boa parte da sua bacia hidrográfica e ajudaram a potencializar episódios graves de saúde pública (incluindo a peste que vitimou o Príncipe Albert, marido da Rainha Vitória). Na realidade, o processo de degradação do rio inglês teve início ainda no Século XVII, ficou dramaticamente marcado no episódio do naufrágio do navio Princess Alice – ocorrido em 1878, quando quase 600 passageiros morreram de intoxicação enquanto nadavam em direção à margem – mas atingiu um nível definitivamente intolerável a partir da década de 1950. No período em que, a cada ano, mais lixo entrava, mais lixo saia também do sistema (este sob a forma de agressões à natureza e aos seres humanos). A civilizada Inglaterra decidiu, finalmente, ativar o maior e mais dispendioso programa de obras e serviços destinados a recuperar a qualidade das águas e a revitalizar uma bacia hidrográfica jamais conduzido, até então, em qualquer ambiente fluvial do planeta. O objetivo do programa era simples: impedir que lixo entrasse no sistema (esgotos, efluentes industriais, resíduos urbanos, fluxos de drenagem, etc.) para que nenhum lixo fosse produzido como resposta (mortes, doenças, degradação do patrimônio, extinção da fauna, etc.). Foi e continua sendo um sucesso!

Fiz essa longa introdução histórica para enfatizar a analogia da situação inglesa descrita, com outra que nos atinge atualmente. Não temos, no Brasil, um bom ambiente de negócios. E não estou me referindo, aqui, a problemas mais conhecidos e aceitos como o excesso de burocracia, a absurda carga tributária, a anacrônica regulamentação legal das atividades produtivas e comerciais, as deficiências de infraestrutura, o gigantismo do Estado, o desequilíbrio fiscal das contas públicas e outros fatores que aumentam o denominado “Custo Brasil”, diminuindo a competitividade nacional e, até mesmo, impedindo a continuidade de muitas atividades empresariais. Neste tópico, estou focando, essencialmente, a componente psicossocial do processo que deteriora o nosso ambiente de negócios, um pouco dentro do modelo estrutural sugerido pelo psiquiatra alemão Dr. Erik Erikson.

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Nos países desenvolvidos, as populações admiram, prestigiam e adotam as suas grandes empresas, vendo-as como fonte de progresso e como agentes do desenvolvimento. Aqui, ocorre generalizadamente um sentimento oposto: grande parte das pessoas desenvolveu uma espécie de preconceito antiempresarial, torce contra o sucesso das empresas e não percebe que são justamente esses agentes os responsáveis pela geração de riqueza e pelo desenvolvimento econômico e social. Figurativamente, esse é um tipo de “lixo” que compromete o ambiente de negócios e acaba por produzir “lixo” nas respostas do sistema. Essa situação fica estatisticamente visível no pequeno interesse dos brasileiros por suas empresas. No Brasil, apenas 500 mil pessoas possuem ações negociadas na BOVESPA e um número ainda menor se preocupa freqüentemente com a saúde financeira das empresas de que são acionistas. Para comparação, nos EUA, existem 100 milhões de pessoas proprietárias de ações negociadas em Bolsas de Valores e uma expressiva parcela delas acompanha atentamente os movimentos do Índice Dow Jones, por exemplo. E, claro, torcem pelo sucesso das empresas de que são donos, contribuindo, assim, para a criação e manutenção de um bom ambiente de negócios naquele país.

Essa diferença de comportamento e seus efeitos mereceriam uma atenção maior da parte dos formadores de opinião, das universidades e centros de pesquisa, dos sindicatos e associações de classe e, sobretudo, das lideranças políticas. Precisamos discutir e formatar um programa educacional com os conceitos pertinentes. Esse é o nosso Tâmisa a despoluir, com urgência. Precisamos remover o “lixo” desse sistema, representado pelo entulho ideológico e pelo atraso preconceituoso. É isso, ou continuaremos a produzir “lixo” como resposta ao ambiente inóspito

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É muito bom investir no esporte!

Atualmente, a MRV Engenharia é a empresa privada brasileira que mais investe em marketing esportivo e no patrocínio de clubes e atletas. Levamos muito tempo para alcançar essa posição. Foi uma jornada. Mas, rendeu bons frutos e nos ensinou muito.Tudo começou em 1996, logo após os Jogos Olímpicos de Atlanta, onde as meninas do Brasil haviam conquistado a histórica Medalha de Bronze no voleibol de quadra. Apesar dessa importante vitória, algumas das nossas melhores atletas voltavam para casa sem um contrato efetivo com um clube nacional de expressão na prática do vôlei feminino. Isso não poderia ficar assim. Seria um desperdício inglório, depois de tanta glória. Na busca imediata de uma solução, nosso grupo empresarial articulou-se com o Minas Tênis Clube, tradicional instituição esportiva de Belo Horizonte, naquela que viria a transformar-se em uma das mais bem sucedidas iniciativas do voleibol nacional. O time MRV-Minas, que começou abrigando as medalhistas Leila Barros, Virna Dias e Ana Flávia Sanglard, foi se transformando em um “ninho de cobras”, incorporando outras grandes atletas, que também brilharam com a nossa camisa, incluindo as premiadíssimas Sheilla Castro, Fernanda Garay, Fabiana Claudino e Thaísa Daher, construtoras do nosso festejado bicampeonato olímpico. No percurso, o nosso time foi acumulando títulos: campeonatos mineiros, campeonato paulista, Copa do Brasil (1997), Campeonatos Sul-Americanos (1999 e 2000), Copa dos Campeões do Brasil (2000) e Super Liga Feminina (2001/2002).

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