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Ou, trocando em miúdos: “A maior indústria do Brasil passa por seu pior momento, mas existe uma luz no fim do túnel”.
Este ano de 2016 está sendo particularmente difícil para a indústria da construção civil brasileira. Evidentemente, esse setor não poderia passar ao largo da intensa crise financeira que assola o país, decorrente de um profundo e irresponsável desequilíbrio fiscal e que vem gerando, como conseqüência, recessão, descapitalização, perda generalizada de renda e desemprego. Ninguém esperava, mesmo, um desempenho diferente para a construção civil nesse quadro recessivo. Grosso modo, a sua recuperação depende do sucesso da aposta que a nossa sociedade vem fazendo, ou pelo menos articulando, nas medidas econômicas saneadoras e destinadas à retomada geral do desenvolvimento.
No entanto, além do atrelamento inevitável ao desempenho geral da economia, a construção civil brasileira está tendo que lidar com algumas peculiaridades próprias do setor e do seu mercado, que agravam ainda mais o quadro problemático nacional. De fato, a queda nas vendas de novas unidades levou à prudente diminuição equivalente no número de novos lançamentos imobiliários. Mas, esse fluxo, que admitia algum controle empresarial, passou a ser agravado por uma importante variável exógena: o aumento exagerado no número de distratos. Essa circunstância adicional, além de produzir o inevitável desequilíbrio econômico e financeiro dos empreendimentos, acaba resultando, também, na elevação descontrolada dos estoques. Para completar esse quadro desfavorável, a construção imobiliária brasileira vem enfrentando, também, o mais baixo índice de confiança do mercado das últimas duas décadas.
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O quadro de dificuldades abordado resumidamente no parágrafo precedente parece indicar, à primeira vista, um ambiente mais desfavorável para o setor da construção civil do que as turbulências gerais que assolam o conjunto da economia nacional. Mas, não é bem assim. As dificuldades desse setor estratégico extravasam os seus próprios limites e contribuem para agravar o quadro econômico geral. A construção civil é – e continua sendo – o maior segmento industrial do Brasil, contribuindo para a formação de 12% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional. Da mesma forma, esse é o segmento que mais emprega no país, com um contingente ocupacional de 2,73 milhões de trabalhadores. Por isso, mas também pelos propósitos de suas atividades específicas, concentradas na tarefa de prover moradias seguras, higiênicas e adequadas aos estratos mais desfavorecidos da nossa população, o setor converteu-se no fator de maior indução ao desenvolvimento social do país. Como Presidente da ABRAINC – Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias, tenho tido a oportunidade de interagir com as maiores empresas de construção habitacional do Brasil e, também, de participar da organização dos dados setoriais (com a competente ajuda da FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), dados esses que são mensalmente divulgados pela própria Associação. O exame cuidadoso e continuado que faço desses indicadores, apesar de confirmarem o panorama adverso já mencionado, dão-me a convicção de que estamos no limiar de mudanças relativamente alvissareiras. Firmei essa convicção contando, também, com o cotejo entre os dados nacionais e os indicadores externos, cuja realidade conheço relativamente bem.
Com efeito, o Brasil é um dos poucos países do mundo a contar com uma indústria da construção civil razoavelmente sólida, sustentável, tecnologicamente atualizada e com boas perspectivas diante das projeções demográficas e econômicas. Os futuros consumidores da indústria habitacional brasileira, nascidos nos últimos 30 anos, constituem o portentoso contingente de 35 milhões de famílias que precisarão adquirir casa própria nos próximos anos. Uma demanda desse porte forçará, necessariamente, o seu equacionamento através de políticas e mecanismos eficazes de atendimento, justamente por tratar-se de um ponto socialmente muito sensível. Além disso, há que se considerar a eficácia de alguns mecanismos atuais de financiamento, que poderão ter a sua performance automaticamente melhorada com a esperada estabilização econômica. Realmente, o montante do crédito imobiliário no Brasil ainda é inferior a 10% do PIB, valor muito pequeno quando cotejado com as grandes economias mundiais. Há espaço para um crescimento robusto nesse particular. É por conta de tudo isso, que consolidei a minha visão esperançosa na recuperação próxima do setor da construção civil, resumidamente materializada na presente “Manifestação de Confiança”.