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Os diversos fatores (internos e externos) que concorreram para debilitar a economia brasileira no momento atual combinam-se de maneira diferenciada em sua ação deletéria pelos diversos setores e segmentos. Por isso, algumas atividades acusaram mais rapidamente os seus efeitos. Também por isso, outros segmentos foram afetados mais fortemente. No presente tópico, quero destacar especificamente o comportamento do setor industrial nessa época de crise e alinhavar algumas das características esperadas no período subsequente da sua recuperação.
De início, seria prudente observar que a forte redução observada nos meses mais recentes no setor terciário e, em especial, no comércio varejista, que apresentou a maior queda no volume de vendas dos últimos quinze anos, não deve ser generalizada ou estendida uniformemente aos demais setores, sem que se cometa um erro significativo de interpretação. De fato, em outros setores os efeitos foram menos pronunciados ou vêm ocorrendo de forma menos aguda. Por outro lado, existem segmentos econômicos que têm se ressentido da crise há mais tempo e de forma mais persistente, ainda que os seus indicadores apresentem quedas menos abruptas. Esse é especificamente o caso da Indústria, que pode ser apontada, sem risco de erro, como sendo o setor da economia nacional que mais se deteriorou nos últimos tempos. De fato, de acordo com o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a nossa produção industrial encerrou 2015 com o maior tombo registrado nos últimos doze anos (o recuo de 8,3% nesse ano é o maior desde 2003, quando teve início a série histórica dessa variável).
Existem várias explicações para esse comportamento peculiar da Indústria e algumas alcançaram dimensão significativa no contexto da crise atual. Uma das singularidades setoriais que seria importante destacar de início foi a sensibilidade do setor diante da realidade cambial que manteve a nossa moeda excessivamente valorizada por muito tempo e que somente foi corrigida, em parte, no último ano. Esse efeito prejudicou muito a competitividade das nossas indústrias no mercado globalizado, seja por dificultar as exportações dos produtos nacionais, seja por facilitar a entrada de similares estrangeiros no mercado doméstico. Essa razão, por si só, respondeu por uma parcela significativa da diminuição de performance do setor industrial brasileiro. Uma outra singularidade igualmente importante do setor industrial é a constatação de que esse tipo de atividade ressente-se muito mais pronunciadamente do agravamento de fatores que compõem o denominado “Custo Brasil”, em especial as deficiências na infraestrutura nacional (ferrovias, rodovias, portos, aeroportos, energia, comunicações, etc.). Essas duas peculiaridades do setor industrial acabam por somar-se a outros ingredientes que estão a prejudicar todos os demais ramos de atividade econômica, como a elevadíssima carga tributária e os níveis estratosféricos dos juros, que alcançaram patamares intoleráveis por conta da necessidade de combate ao recrudescimento inflacionário.
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Paralelamente a tudo isso, eu gostaria de enfatizar, também, outra circunstância importante. A reconstrução, recuperação e reativação plena de um parque industrial, notadamente daqueles com características tão complexas e portentosas como já foi o brasileiro, demanda um tempo muito elevado. Em geral, esse tempo de recuperação costuma ser superior ao que foi aplicado na construção original ou na primeira implantação. Todas essas considerações já são de conhecimento geral e costumam ser apontadas em todas as regiões e países do globo, independentemente do seu estágio de desenvolvimento econômico. Em função delas, o setor industrial, por sua natureza estratégica, costuma ser justamente aquele que é mais protegido das adversidades na maioria dos países organizados e desenvolvidos. Em virtude disso, entendo que os esforços para a retomada do crescimento econômico no país deveriam incluir um elenco prioritário de ações aplicáveis especificamente à recuperação do nosso parque fabril e ao setor industrial como um todo. Seria uma medida prudente, estratégica e inteligente.