Publicidade
De acordo com o CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, nos últimos cinco meses com dados já disponíveis (outubro de 2014 a fevereiro de 2015), o Setor da Construção Civil registrou um saldo negativo de 250 mil postos de trabalho. Em ouatros termos, nesse período e em todo o país as demissões excederam as admissões em cerca de 10% da força de trabalho contratada anteriormente. É o maior índice de desemprego entre todos os setores da economia analisados desagregadamente. E o pior, a queda bruta observada desta vez, alarmante por ter sido muito elevada, veio somar-se a outros números negativos antecedentes, quando se considera tanto a modalidade da Construção Imobiliária (habitacional e comercial) quanto a da Construção Pesada (obras de infraestrutura).
Essa é uma situação paradoxal, já que o Setor deveria estar se destacando justamente por um comportamento oposto ao descrito no parágrafo antecedente. No segmento imobiliário, por exemplo, além do desafio representado pela existência de um escandaloso déficit habitacional, que precisa ser enfrentado com disposição, ainda temos que atender as demandas representadas pela formação de novas famílias.Em conjunto, estima-se que teriam que ser construídos 35 milhões de moradias nos próximos 25 anos, para equacionar razoavelmente ambas as faces do problema. Em outros termos, esse ritmo de construção habitacional seria mais de duas vezes superior àquele alcançado nas épocas mais ativas do período recente (até 2013), quando o programa governamental “Minha Casa, Minha Vida” deixou importante contribuição. Paradoxo semelhante ocorre com o segmento da Construção Pesada. Temos um passivo enorme a recuperar no que concerne a depauperada infraestrutura nacional, incluindo todos os segmentos da logística, do transporte e das comunicações. Aliás, foram justamente as deficiências do país no que tange às rodovias, aos portos, aos aeroportos, à geração de energia, ao saneamento básico e a itens correlatos, os principais gargalos que travaram o nosso crescimento econômico e aceleraram a degringolada que se converteu na crise atual. O paradoxo é maior quando se observa que, apesar de toda a crise e da falta de credibilidade junto aos investidores, ainda existe um potencial razoável de financiamento para as obras de infraestrutura, que poderia ser ativado em um ambiente menos intervencionista e mais favorável aos negócios. Então, por que esses segmentos estratégicos, ao invés de contratarem, estão eliminando tantos empregos?
Essa pergunta não admite uma resposta simples e direta, dada a complexidade do conjunto da economia e a propagação das causas e efeitos desde os segmentos mais sensíveis ou menos promissores até aqueles apontados como estratégicos e relativamente bem estruturados. Mas o fato é que os efeitos da crise econômica e política que eclodiu no país acabaram por afetar indiscriminadamente todos os setores. Todos estão, em maior ou menor grau, prejudicados pelo aumento estratosférico dos juros (necessário para segurar o descontrole inflacionário, mas ainda assim, nefasto para os negócios), pelas restrições ao crédito (inevitáveis diante do aumento da inadimplência e dos riscos, mas igualmente nefastas para o consumo), pelo patamar elevadíssimo do “Custo Brasil” (potencializado pelo arrocho tributário), pela falta de segurança e de confiança dos consumidores (que paralisa as compras e negócios) e pelo descrédito do país diante dos investidores (nacionais e internacionais). Percebo também, que, além de todos esses fatores, o setor da Construção Civil foi – e ainda está sendo – vítima do “Escândalo do Petrolão”, seja em função da paralisação do programa de investimentos da Petrobras (muito significativo), seja pelas providências administrativas e judiciais que acabaram por atingir as grandes empresas de construção pesada e as maiores firmas de montagem industrial. Esses problemas não deveriam estar contaminando o segmento da construção habitacional, mas o fato é que estão. E, por conta disso, um setor estratégico para alavancar a retomada do crescimento está cada vez mais manietado e menos ativo. Resta a esperança de uma reversão rápida de expectativas, como resultado das providências postas em curso pela nova equipe econômica do governo. Trata-se de uma agenda positiva a ser firmemente apoiada pelo empresariado do setor e por todos os agentes bem-intencionados deste país. Temos que eliminar, de imediato, esse absurdo paradoxo. E voltarmos rapidamente a empregar, antes que esse problema alcance proporções intratáveis.