E se amássemos menos o que temos, e mais o que somos?

Como seria o mundo se tivéssemos a capacidade de nos aprovar independente do que possuímos, do que aparentamos, de quem participa de nossas vidas? Bem diferente, é a resposta.

Wilson Marchionatti

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A civilização humana passou por milhares de anos lutando pela sobrevivência. Embora a espécie humana de hoje tenha se originado há 50 mil anos, somente a partir do século XIX, ou seja, há somente 200 anos, é que a população em geral começou a ter acesso a confortos como higiene, educação, moradia. Um processo lento, que ainda nem se completou em países subdesenvolvidos, como o Brasil.

Mas seja há 50 mil anos, ou hoje, a busca por conforto material é uma grande preocupação humana. Pode-se dizer até que virou uma obsessão, uma patologia.

Nossas decisões são excessivamente pautadas pelo apego ao material. São decisões puramente “econômicas” e pouco ou nada “espirituais”. Vale lembrar que espírito não é nada exotérico. Espírito remete simplesmente à essência de uma pessoa, ou seja, o pedaço de nós que independe do que temos.

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São muitos os casos de pessoas que após terem conquistado todos os confortos materiais possíveis ainda se sentem vazias, como se algo estivesse faltando. E realmente há algo que falta e que não somos ensinados a buscar: o amor a si próprio, independente do que temos do lado de fora.

A moderna psicologia, as religiões, os mestres espirituais são os locais onde as pessoas que percebem esse vazio vão buscar esse algo que falta. E muitos encontram.

E se todos tivéssemos esse algo? Como seria o mundo se cada um amasse mais o que é, e menos o que tem? Bem diferente, é a resposta.

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Aceitaríamos menos morar em cidades de baixa qualidade de vida, poluídas, com engarrafamentos de 2-3 horas, com raro acesso à natureza, somente porque permitem um salário melhor.

Não aceitaríamos trabalhos ou qualquer envolvimento com atividades degradantes e ilícitas, como corrupção, prostituição e drogas.

Não criaríamos relações de puro interesse material.

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Um homem não veria uma mulher exclusivamente como objeto de prazer.

Uma mulher não veria um homem exclusivamente como provedor de segurança.

Casamentos não serviriam para completar pessoas incompletas, mas sim para unir pessoas que se complementam.

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Separações não seriam motivo de vergonha e fracasso, mas sim a percepção de que aquela união deixou de funcionar.

Não veríamos o outro como um competidor, mas sim como um aliado.

Não precisaríamos mais nos agarrar em preconceitos de raça, sexo, classe econômica ou nacionalidade para nos sentirmos superiores. Assim perceberíamos que o ego coletivo é uma ilusão que criamos, tudo para tentar creditar circunstancias materiais e temporárias em méritos naturais de nossa essência e deméritos permanentes da essência dos outros.

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Menos preocupados com conquistar e mais focados em ser, seríamos mais criativos e produtivos, pois como Einstein mesmo disse: “Nenhum problema pode ser resolvido com o mesmo nível de consciência que o criou”. É quando estamos de alma livre que surge a mais alta inspiração humana.

Não seria um sacrifício economizar quando for necessário. Mas também não acreditaríamos que valemos o saldo que temos no banco.

Não seria um sacrifício deixar de comprar tal roupa de marca, ter tal carro. Afinal, não somos essas coisas.

Não veríamos o ato de ter filho como uma realização obrigatória, e não traríamos ao mundo crianças enquanto não somos capazes de criá-las para seu próprio bem, e não para nosso ego.

Ter maior espiritualidade é amar mais nossa essência, independente do que possuímos. Ter maior espiritualidade não é deixar de ser econômico ou racional. É simplesmente incorporar amor próprio em nossas decisões e comportamentos. É um caminho para plenitude, pois ao longo da vida o que é material se corrói. A beleza envelhece, a saúde adoece, as relações por interesse acabam, as pessoas amadas morrem, o filho fica independente. E acabamos com a única coisa que sempre nos acompanha: nosso espírito, ou seja, nossa essência.