Fed engata marcha à ré e China enfrenta novos lockdowns: como fica o petróleo?

Apesar de ainda esperarmos a continuidade da guerra por um bom tempo, o preço do barril de petróleo tem resistido, ficando ao redor dos US$ 100

Roberto Dumas Damas

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(Divulgação)
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A Guerra da Ucrânia infelizmente não acabou e parece estar longe do fim. No entanto, apesar de termos em mente a importância da Rússia no suprimento de gás natural e petróleo para a Europa, estamos vendo o preço do barril ceder ao redor dos US$ 100. Quais seriam os motivos?

1. EUA anunciam liberação de mais de 2,2 milhões por dia

Na última semana, em entrevista, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou que liberaria mais de 2 milhões de barris por dia de petróleo de suas reservas emergenciais, como forma de segurar o preço do commodity.

Claro que mais oferta, dado o nível de demanda, tende a derrubar o preço, mas há de considerar que o mundo consome 100 milhões de barris por dia. Essa oferta adicional, talvez, não seja o fator principal pela queda do preço do barril.

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2. Ata do Fomc anuncia o fim do afrouxamento monetário e o início de compras de títulos públicos no valor de US$ 95 bilhões ao mês

Logo no início da pandemia, o receio de o choque de oferta suscitar uma queda no nível de atividade do país levou o banco central norte-americano (Fed, ou Federal Reserve) a implementar uma política monetária expansionista, reduzindo os juros a 0% e 0,25% e anunciando compras de títulos públicos e MBS (Mortgage Backed Securities – MBS – ou títulos lastreados em hipotecas) no valor mensal de US$ 120 bilhões.

Após uma expansão de quase US$ 9 trilhões no balanço do Fed, via compra de títulos públicos e MBS, a base monetária expandiu, ajudando na manutenção das taxas de juros a quase zero. Sim, pois quando a autoridade monetária compra títulos públicos do mercado, o banco central tem de emitir moeda ou base monetária para tal fim.

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Com a inflação ao consumidor batendo 7,5% (IPC) em março e o índice de preço ao produtor chegando a 7,9%, a última ata do Fed mostrou que a autoridade monetária não pretende mais diminuir os estímulos comprando menos títulos públicos (ainda expandindo a base monetária), como anteriormente anunciado, mas reverter completamente sua política monetária expansionista, passando a vender títulos públicos no valor de US$ 95 bilhões ao mês a partir de maio.

Ou seja, a base monetária tende a diminuir quase US$ 1 trilhão em apenas 1 ano. Imediatamente, o mercado já precificou a possibilidade de que as taxas de juros dos EUA alcancem 4% ou 4,25% em 2023, diminuindo a demanda agregada e consequentemente as expectativas quanto ao consumo de petróleo. Daí a força contracionista existente nos preços do barril.

3. China com sua política de Covid-zero

Apesar do PIB ter crescido 8,1% em 2021, graças aos recordes de exportação, o Partido Comunista Chinês (PCChinês) já espera um crescimento bem menos robusto para 2022, ao redor de 5,5% ou até menos.

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Com a política de Xi Jinping de Covid-zero para a China, várias províncias e cidades como Shenzhen, Shanghai, Ningbo, Jilin, etc. estão em lockdowns. E, mesmo que muitos possam trabalhar em modo home-office, plantas manufatureiras certamente sofrerão com um nível menor de produção.

Nível menor de produção significa uma menor demanda de petróleo ou, pelo menos, menor do que inicialmente esperado. Além dos lockdowns, Beijing tem adotado programas de testagens em várias partes do país, inclusive em portos, estradas e aeroportos, diminuindo o fluxo de atividade e impactando mais ainda o crescimento econômico esperado do país.

De tal sorte que, apesar de ainda esperarmos a continuidade da guerra por um bom tempo, o preço do barril de petróleo tem resistido, dadas essas forças contracionistas advindas da China e expectativas de juros mais altos nos EUA e na zona do euro também.

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Roberto Dumas Damas

Roberto Dumas Damas é estrategista-chefe do Voiter e representou o Itaú BBA em Xangai de 2007 a 2011. Em 2017, atuou no banco dos BRICs em Xangai. Dumas é mestre em Economia pela Universidade de Birmingham na Inglaterra, mestre em Economia Chinesa pela Universidade de Fudan (China), além de professor de MBA e pós graduação do Insper e da FIA e professor convidado da China Europe International Business School (CEIBS) e Fudan University (China)