Se você pensa que somente os ativos de renda variável estão sofrendo com a alta volatilidade dos mercados, por conta da incerteza com relação ao futuro da economia, está muito enganado.
Até fundos do tipo DI, modalidade de investimento utilizada geralmente por aqueles que “não querem correr o risco de perder dinheiro”, apresentaram rentabilidade negativa no mês de março. E isso não acontecia em tão grande magnitude desde 2002, ano em que o mercado reagiu com nervosismo à expectativa de eleição do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo levantamento realizado por meio da plataforma do Comdinheiro, de 182 fundos do tipo DI analisados, 119 tiveram pelo menos um dia de retorno negativo entre 26/02/2020 (quando foi registrado o primeiro caso de Covid-19 no Brasil) e 31/03/2020.
Fonte: Comdinheiro – Ferramenta Histórico Múltiplo.
Dentre esses 119 fundos, 98 estão sujeitos ao tratamento tributário de longo prazo, ou seja, possuem carteira de investimentos com prazo médio superior a 365 dias. Vale lembrar que ativos/portfólios com prazos maiores costumam apresentar maior volatilidade.
Além disso, dos 182 fundos do tipo DI analisados, 70% tinham algum percentual da carteira alocado em crédito privado, sendo que 65% da amostra total apresentou pelo menos um dia de retorno negativo.
Por outro lado, do restante da amostra que não investe em crédito privado, somente três apresentaram pelo menos um dia de retorno negativo.
Com relação à rentabilidade acumulada do período, 23% do total de fundos analisados apresentou prejuízo no período.
Dentre os mais afetados, podemos citar o Safra Capital Market Premium FIC FI RF Ref. DI CP Privado e o Porto Seguro FI Ref. DI Crédito Privado, que apresentaram retorno de -2,02% e -1,90%, respectivamente, entre os dias 21/02/2020 e 31/03/2020.
Na tabela a seguir, você pode conferir os fundos que apresentaram melhor e pior desempenho no período:
OBS.: O CDI entre 21/02/2020 e 31/03/2020 foi de 0,39%.
Fonte: Comdinheiro – Ferramenta de Comparação de Fundos.
Para a realização dessa pesquisa, consideramos as seguintes restrições:
• Fundos de Renda Fixa, segundo a classificação da CVM, com o sufixo “DI”;
• Fundos com patrimônio acima de R$ 50 milhões;
• Fundos com mais de 50 cotistas;
• Fundos não exclusivos;
• Fundos com mais de seis meses de atividade.
Por que isso ocorreu?
Como ressaltamos no início, dentre os fundos do tipo DI, os com alocação em crédito privado foram os que mais sofreram com a chegada da Covid-19. E isso se deve a dois motivos:
1º) A elevação do risco de crédito
A falta de previsibilidade com relação à propagação da Covid-19 e os seus impactos na economia trazem grandes inseguranças quanto ao futuro de qualquer empresa, incluindo o das instituições financeiras. Frente a isso, houve um aumento do risco de crédito global, exigindo que títulos privados aumentassem a remuneração prometida.
Consequentemente, pudemos observar a desvalorização dos preços de mercado dos ativos de renda fixa privados. E aí é que está o problema: segundo a Instrução CVM 438, fundos de investimento devem utilizar a marcação a mercado para acompanhar a rentabilidade dos valores mobiliários que compõe a sua carteira. Sendo assim, uma queda nos preços de mercado desses títulos impacta diretamente no valor das cotas dos fundos de investimento.
2º) Aumento do número de resgates
Segundo a Anbima, os fundos da classe Renda Fixa foram os que mais sofreram no mês de março em termos de captação líquida: R$ 42,9 bilhões resgatados no mês de março. Para fins comparativos, o resgate líquido nos meses de janeiro e fevereiro, somados, foi igual a R$ 20,7 bilhões.
Em momentos de crises, investidores tendem a resgatar suas aplicações de maior liquidez, seja para pagar contas, garantir a sobrevivência do seu negócio ou mesmo para aproveitar oportunidades (o índice Bovespa registrou queda de 29,9% no mês de março e, paralelamente a isso, os fundos da classe Ações registraram entrada líquida de R$ 8,3 bilhões).
Independentemente do motivo, um aumento da pressão vendedora de títulos de renda fixa leva a uma consequente queda dos preços de mercado desses ativos, levando a uma desvalorização das cotas dos fundos dessa classe.
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