SEC acumula críticos com nova rejeição de ETF de Bitcoin à vista

Propostas reprovadas da Bitwise e da Grayscale são as mais recentes vítimas da recusa da SEC em aceitar um ETF de Bitcoin spot

Hashdex

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Publicidade

*Por Christian Gazzetta

No penúltimo dia de junho, a SEC (Security and Exchanges Commission, análoga à nossa CVM) rejeitou dois pedidos de gestoras de fundos que visavam lançar um ETF (fundo negociado em Bolsa) de Bitcoin à vista (inglês: spot) na NYSE.

As propostas reprovadas da Bitwise e da Grayscale são as mais recentes vítimas de uma longa lista de produtos financeiros que visavam replicar a performance de criptoativos e tiveram seu lançamento embarreirado pela autoridade regulatória americana desde 2013.

Continua depois da publicidade

Para o mercado de criptoativos, uma eventual aprovação representava a última esperança de um fato relevante com potencial de amenizar as perdas de um dos piores meses (-37,3%), trimestres (-59,1%) e semestres (-60%) em mais de uma década para o Bitcoin (BTC).

A aprovação de um ETF à vista é amplamente antecipado pelos investidores de cripto, que enxergam o evento como uma espécie de marco histórico que pode aumentar a demanda por bitcoins e ampliar a liquidez desse mercado. Um ETF de futuros de Bitcoin, aprovado em outubro de 2021, foi visto como um avanço em direção a esse marco e, consequentemente, levou o preço do Bitcoin a patamares próximos da sua máxima histórica.

Não foi dessa vez, nem nas dezenas de vezes em que um pedido de teor similar chegou à mesa de Gary Gensler, presidente da SEC, nos últimos doze meses. O posicionamento adversarial de Gensler frente aos ativos digitais o relegou ao papel de vilão para muitos investidores de cripto – uma reviravolta surpreendente para um ex-professor da MIT (Massachusetts Institute of Technology) que lecionava sobre o futuro promissor da tecnologia blockchain antes de presidir a SEC.

Continua depois da publicidade

Na justificativa do despacho que rejeitou o lançamento do ETF da Grayscale, a SEC alega que a gestora não atendeu os requisitos que visam “prevenir atos e práticas fraudulentas e manipulativas” que buscam garantir a proteção de investidores.

Foi um desfecho pouco surpreendente. Não obstante, à medida que cresce o número de pedidos rejeitados, aumenta o número de críticos à postura proibicionista de Gensler. O Wall Street Journal, o jornal mais renomado do mercado financeiro dos EUA, publicou uma matéria opinativa alegando que o presidente da SEC “mantém em sequestro” os investidores de cripto.

No caso, o resgate demandado em troca da liberdade dessas vítimas seria a consagração da sua autoridade regulatória sobre as exchanges, as bolsas onde são negociados ativos digitais. Segundo a SEC, para que um ETF spot seja aprovado, o seu gestor terá que comprovar que o ativo subjacente do fundo é negociado em um ambiente regulado. Trata-se de um pré-requisito inatingível, já que grande parte das exchanges, em que ocorrem a grande maioria das transações de Bitcoins, não são regulamentadas.

Continua depois da publicidade

Gensler já defendeu em diversas ocasiões que as exchanges de cripto sejam regulamentadas como corretoras de valores mobiliários tradicionais, argumentando que o papel das duas é semelhante e que os investidores de ambas merecem as mesmas proteções garantidas pela fiscalização de uma entidade regulatória.

Poucos dias antes da rejeição do seu pedido, a Grayscale se comprometeu “inequivocamente” com o lançamento do seu ETF, que seria criado através da conversão de um trust de Bitcoin já existente de US$ 13,5 bilhões. Em resposta à decisão da SEC, a gestora deu entrada em uma ação judicial que visa contestar a decisão em um tribunal americano. O tribunal pode manter, reverter ou solicitar uma nova análise do pedido por parte da SEC.

A Grayscale deve argumentar que um ETF à vista oferece as mesmas garantias e os mesmos riscos que um ETF de futuros (como os já aprovados pela SEC), já que o preço das cotas de ambos os fundos é determinado pelo mesmo ativo, negociado nos mesmos mercados não regulados. Sendo assim, a Grayscale entende que a rejeição do pedido que visa converter o seu fundo em um ETF configura tratamento discriminatório.

Continua depois da publicidade

É difícil antecipar quando e como um tribunal reagirá ao caso, mas os desenvolvimentos desse embate jurídico podem vir a afetar o preço do Bitcoin e, indiretamente, o mercado de criptoativos como um todo.

*Redator da Hashdex formado em Economia pela UFRJ, se dedica a aprender e ensinar sobre cripto desde 2017. Nos últimos anos, dirigiu grupos de estudo e palestrou em eventos como a Bitconf, além de organizar debates e palestras com representantes de entidades como IBM, CVM, ITS Rio, Mercado Bitcoin e Foxbit.

Autor avatar
Hashdex

Maior gestora de criptoativos da América Latina, já desenvolveu diversos produtos de investimento regulados. É pioneira no setor, tendo lançado o primeiro ETF de cripto da B3, a bolsa brasileira, e o primeiro ETF de índice de cripto do mundo, o HASH11, em parceria com a Nasdaq.