Seis anos do referendo do Brexit: o que mudou nos mercados desde então

Após mais de meia década e duas mudanças de primeiros-ministros, retirada do Reino Unido da União Europeia parece ter saído pela culatra

Rodrigo Lima

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(Shutterstock)
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No dia 23 de junho de 2016, 33,5 milhões de cidadãos britânicos compareceram às urnas para decidir sobre a permanência ou saída do país da União Europeia. Com cerca de 51,8% dos votos válidos, a retirada do Reino Unido do bloco de cooperação socioeconômica foi aprovada. O processo traria profundos impactos para todas as partes envolvidas.

No momento imediato após a divulgação do resultado do referendo, a libra esterlina se desvalorizou mais de 8% contra o euro, saindo da casa dos € 1,25 por £ 1,00, patamar que nunca mais seria recuperado pela moeda britânica. A desvalorização cambial foi apenas um reflexo das expectativas de retração no PIB britânico com o fim da união aduaneira com o continente europeu.

euro versus libra (fonte: Trading View)

Com a União Europeia representando mais de 56% das importações e 51% das exportações do Reino Unido, a derrocada da libra não foi surpreendente. De acordo com estimativas da House of Commons, a Grã-Bretanha já teria gasto com o Brexit mais de £203 bilhões, soma muito próxima dos £215 bilhões que teriam contribuído para o orçamento da União Europeia desde 1973.

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Naturalmente, isso também se reflete nas expectativas de crescimento da economia britânica, que a despeito de apresentar um desemprego de apenas 3,8% (nível que poderia ser considerado como de pleno emprego), ainda sofre para crescer, com estimativas de que o PIB cresça +3,75% em 2022 e cerca de +1,5% nos anos subsequentes, enquanto a União Europeia deve crescer +4,44% neste ano e cerca de +2% por ano até 2026.

Como era de se esperar, menores expectativas de crescimento se refletem em valuations mais baixos, afetando a performance das ações britânicas: desde o referendo, o FTSE 100, principal índice de ações do país, sobe apenas cerca de +14%, enquanto que o Euro Stoxx 50 sobe +23%. Apenas para efeitos comparativos, no mesmo período S&P 500, principal índice de ações da economia americana, sobe +84%.

Na realidade, boa parte das baixas expectativas de crescimento para a economia do Reino Unido pode ser explicada por um mercado de trabalho mais restrito. Com o pleno emprego da população local, a Grã-Bretanha sofre para preencher vagas de serviços de baixa qualificação, sobretudo nos setores de construção civil, industrial e de alimentação. Anteriormente, estas vagas eram disputadas por imigrantes de países da UE, onde o desemprego é maior.

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As perdas, portanto, não são unilaterais: com a saída do Reino Unido, a União Europeia perde cerca de 13% de sua população, 15% do seu PIB e 12% do seu orçamento. Para a Grã-Bretanha, porém, outra grande perda além da econômica pode ser a fragmentação política.

A retirada do Reino Unido da UE trás uma série de problemas para as nações que o compõem: a Irlanda do Norte passa a ter uma fronteira física com a União Europeia nos limites da república irlandesa e escoceses que votaram contra a independência de seu país em 2014 sobretudo para permanecer na União Europeia se veem traídos.

Com tamanho impacto sobre a política e economia do Reino Unido, não é à toa que o percentual de cidadãos britânicos insatisfeitos com a saída da União Europeia se encontra próximo a máximas históricas, em 49%.

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Por fim, há ainda de se lidar com o processo burocrático kafkiano com a realização da retirada da UE. Milhões de britânicos esperam que algum dia seja anunciada a conclusão do processo, porém como aponta o historiador britânico Niall Ferguson, é provável que ele nunca seja concluído. Não pois seria indesejável, mas sim porque o Brexit não tem fins estabelecidos, sendo apenas um processo. Um processo rumo ao retorno de negociações bilaterais em detrimento de tratados de livre comércio e de maior globalização como vimos acontecer durante os anos 90 e que passamos a tomar como um status quo garantido.

E como qualquer um que já tenha requisitado os serviços de um advogado sabe, processos são caros, custosos e levam tempo. Muitas vezes sendo danosos a todas as partes envolvidas.

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Rodrigo Lima

é habilitado como analista CNPI pela Apimec (Associação dos analistas e profissionais do mercado de capitais), com ampla experiência em análises de ações. Formado em 2016 pela UFRJ, tem MBA em Finanças pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Hoje atua como editor de conteúdo da Stake, plataforma que conecta pessoas de fora dos Estados Unidos à bolsa norte-americana, trazendo sua expertise em análises de mercado para auxiliar a tomada de decisão de investidores.