O BC parou de vender novos swaps, e agora?

O BC parou de vender novos swaps e o dólar caiu no Brasil, fato que sinaliza que o mercado cambial pode estar se equilibrando. Porém, a forte agenda internacional a partir da próxima semana deixará a cotação do dólar volátil.

José Faria Júnior

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Publicidade

Nesta segunda postagem vou comentar o que ocorreu na semana passada e indicar os principais eventos com potencial de alterar a cotação do dólar, no exterior e no Brasil, aos quais devemos ficar de olho nos próximos dias.

Mas, antes, é importante deixar claro que o dólar/real tem 2 vetores (ou motores): um vetor externo e um vetor interno. Ou seja, a cotação de nossa moeda é também influenciada por questões sobre as quais não temos nenhum domínio. E, as questões externas, foram a principal causa desta forte alta nos últimos dias, como comentado na semana passada. Então, vamos deixar combinado o seguinte: em alguns momentos, os fatores externos são mais importantes do que os fatores internos (e vice-versa) e, muitas vezes, os dois vetores apontam para o mesmo lado, ou seja, para a queda do dólar no Brasil ou para a alta do dólar no Brasil. Não se preocupe em entender tudo agora, com o tempo o assunto ficará bem mais claro!

Na semana passada, comentamos que o pior do dólar/real deve ter passado. E, parece que sim. Notamos basicamente o seguinte:

Continua depois da publicidade

1-     Vetor externo: a taxa de juros de 10 anos dos títulos dos Estados Unidos subiu, mas em ritmo muito menor, fechando a sexta-feira (19 de novembro) em 2,33%. Ainda acredito que esta taxa deverá subir um pouco mais nos próximos meses, mas em ritmo mais moderado.

Abaixo o gráfico da evolução dos juros das Treasuries de 10 anos: fica bem clara a mudança de patamar da principal taxa de juros do mundo!

 

Continua depois da publicidade

 2-     Vetor interno: as intervenções do Banco Central (BC), que voltou a ofertar swaps pela primeira vez após muitos meses longe desta estratégia. Em outras palavras: quando a cotação do dólar sobe muito por aqui, de forma rápida e desordenada, o BC costuma agir para acalmar o mercado. Esta ação pode ser a venda direta de dólares (temos quase USD 370 bilhões em reservas) ou a oferta de swaps no mercado futuro, que é o método que está sendo utilizado neste momento.

Traduzindo: como não se observa falta de dólares no mercado à vista (o fluxo cambial de novembro está positivo), o BC atua para conter a formação da expectativa dos agentes econômicos vendendo dólares no mercado futuro. Ele passa a seguinte mensagem: se vocês estão com medo do dólar subir muito, então eu ofereço garantia agora e comprem os swaps que estou vendendo.

De forma simples, swap é a troca de fluxo de caixas. No caso, o BC vende dólares para um investidor que se compromete a pagá-los com reais mais taxa de juro. Na data do vencimento do contrato, verifica-se o que ocorreu. Veja os exemplos didáticos abaixo supondo contrato de swap de USD 1 milhão, prazo de 10 meses, taxa de juros de 10% no período e dólar negociado hoje a R$3,50:

Continua depois da publicidade

 a-      Hipóteses:

Abaixo, a situação na data do vencimento do contrato:

 

Continua depois da publicidade

            Neste exemplo, o BC GANHA a diferença, que é de R$250.000,00.

b-     Hipóteses:

Abaixo, a situação na data do vencimento do contrato:

Continua depois da publicidade

 

 Neste exemplo, o BC PAGA a diferença, que é de R$150.000,00.

 Conclusão: toda vez que o dólar variar menos do que a taxa de juros, o BC ganha. E, toda vez que o dólar variar mais do que a taxa de juros, o BC perde.

E, o que devemos esperar nos próximos dias?

Na semana passada, indiquei 6 pontos muito importantes para serem observados:

1-     Trump – ainda é cedo para entender como será o seu governo e o mercado seguirá “desconfiado”;

2-     Juro dos títulos de 10 anos dos Estados Unidos está próximo de 2,33% e a sua estabilização é condição necessária para o mercado ficar menos volátil;

3-     Situação financeira do Estado do Rio de Janeiro (cuidado, pois há outros Estados – e também municípios – em situação de penúria fiscal) – o assunto pouco progrediu, e há temores de que as reformas propostas pelo governo Temer sofram alterações em meio a maior pressão popular; por outro lado, muitos acham que o caso do Rio de Janeiro é didático, e se não nada for feito, o País seguirá o destino do Rio de Janeiro;

4-     Aprovação da PEC 55 no Senado, que deverá ocorrer até meados de dezembro;

5-     Atuação do BC, que hoje anunciou apenas a rolagem dos contratos de swaps já existentes, ou seja, parou, por enquanto, de fazer novas ofertas e isto é um sinal de que o pior já passou;

6-     Preço das commodities – no caso do petróleo, é muito importante a reunião da OPEP do dia 30 de novembro, pois as commodities ainda seguem em alta e este sempre foi um fator importante para conter a alta do dólar no Brasil.

Poderia incluir outro item, que é a Lava Jato. Mas, este assunto ainda irá perdurar por muitos meses. Assim, é importante termos em mente que esta operação é como a “Espada de Dâmocles”!

 

Segue, agora, a agenda de eventos até meados de dezembro. Todos eles influenciarão o mercado, ou seja, o dólar poderá subiu ou cair aqui no Brasil.

 

Assim, como indicamos na semana passada, é bem provável que o pior ficou para trás. A própria parada da atuação do BC indica isto. Agora, nos resta esperar o desenrolar desta agenda para verificar o que acontecerá, mas parece que o dólar/real caminha para se consolidar em patamar ao redor de R$3,30.

O destaque para a semana é a ata da reunião do FOMC (que é o Comitê de Política Monetária do Fed – Banco Central dos Estados Unidos). Esta ata será divulgada no final da tarde de quarta-feira e teremos redução na liquidez (ou seja, menor número de negócios) do mercado brasileiro na quinta-feira e na sexta-feira devido ao feriado do dia de “Ação de Graças” nos Estados Unidos.

Provavelmente, haverá variação de cotação entre os dias 01 e 15 de dezembro devido a forte agenda externa. Acredito que a agenda interna deverá fazer “menos preço” porque o mercado espera que a PEC 55 (antiga PEC 241) seja aprovada no Senado e que a taxa Selic seja reduzida pelo Copom em apenas 25 pontos (0,25%).

Vamos acompanhar, e até a próxima segunda-feira!