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A macroeconomia é um tema bastante debatido no mundo dos investimentos, mas nem sempre é relacionada diretamente com a variação no preço dos ativos. Para entender como o assunto vai afetar sua carteira, vale a pena lembrar algumas regras básicas.
A forma mais elementar de precificar um ativo é trazer a valor presente seus futuros fluxos de pagamento. Tentando traduzir, um ativo vale a soma dos pagamentos a serem realizados – pode ser dividendo no caso de uma empresa ou juros no caso de um ativo de renda fixa. Como esses pagamentos serão realizados no futuro, é preciso aplicar um custo do dinheiro no tempo, uma taxa de juros, para descobrir quanto esse fluxo vale hoje. Usando essa relação simplificada, podemos avaliar como cada indicador macroeconômico afeta o preço estimado de um ativo.
Para quem gosta de equações: Preço estimado=(Soma pagamentos futuros)/(Taxa de juros)
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O crescimento da economia, medido por diversos indicadores de alta frequência e agregados no PIB, afeta especialmente a previsão dos fluxos de pagamentos em ativos de renda variável. Normalmente, o crescimento da receita das empresas é correlacionado positivamente com a situação macroeconômica. Para ativos de renda fixa, os fluxos são conhecidos (essa é a origem do nome), então os preços estimados não são afetados diretamente por oscilações da atividade.
A taxa de juros afeta todos os ativos. Um aumento da taxa de juros eleva o denominador da relação descrita no primeiro parágrafo e, portanto, reduz o valor final projetado. Ao contrário, uma redução da taxa de juros, aumenta o resultado. Para quem quiser, é possível aprofundar e entender que a taxa de desconto de cada ativo é diferente, mas os efeitos são sempre esses.
Na renda fixa, essa fórmula é utilizada para a “marcação a mercado” – a forma como os ativos são precificados todos os dias em fundos e em carteiras de investimentos, para representar o valor mais próximo pelo qual poderiam ser vendidos. E as variações nas taxas de juros são a principal fonte para as variações de preços. Há uma exceção, se um título é pós-fixado, ou seja, seus fluxos dependem da taxa de juros, a variação no denominador será compensada pela mesma variação no numerador, portanto, sem alteração no valor.
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Para a inflação, é importante observar os efeitos tanto no numerador quanto no denominador da relação. Podemos assumir que os fluxos futuros, de uma empresa, por exemplo, serão correlacionados com sua receita, que é uma medida com alguma correção monetária. Já a taxa de juros do denominador também pode incluir a variação de preços, quando a chamamos de nominal. Assim, não haveria impacto de alterações da inflação no preço estimado. Entretanto, pode haver algum descasamento entre o índice que corrige cada componente da equação. Já para renda fixa, os fluxos podem ser corrigidos pela inflação (como uma NTN-B no Brasil, também chamada de Tesouro Inflação), mas na maioria dos casos não são. Por isso, normalmente, a inflação é inimiga da renda fixa.
Por meio dessa simplificação é possível ver que os momentos de forte crescimento econômico e taxa de juros baixa são os melhores para as ações, enquanto a renda fixa não depende diretamente do ciclo econômico. Já quando há uma surpresa inflacionária, a não ser que o título de renda fixa seja indexado a algum índice de preços, a renda variável tende a ter um desempenho melhor. A vida real é muito mais complicada do que isso, mas esse é o fundamento por trás de quase todas as análises de investimentos. Um exemplo dessa complexidade: como essas três variáveis macroeconômicas principais são correlacionadas é muito difícil analisá-las individualmente.