O papel dos ETFs na construção de carteiras de investimentos

Os ETFs revolucionaram a construção de carteiras de investimentos, oferecendo uma abordagem passiva, diversificação internacional e baixo custo para os investidores

Evandro Buccini

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(Getty Images)
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O processo de investir começa muito antes da construção da carteira de investimentos, com o planejamento financeiro para poupar e a definição dos objetivos e prazos. A escolha das classes de ativos e suas ponderações é uma das etapas mais comentadas em vídeos, palestras e sites, rivalizando apenas com o passo seguinte, que é a escolha dos ativos e das gestoras. Existem livros e artigos dedicados a cada uma dessas etapas, e a terceirização para gestores é particularmente complexa. No entanto, essa tarefa pode ser simplificada com os fundos de investimento passivos, que se tornaram ainda mais acessíveis com a listagem de ETFs (Exchange Traded Funds) em bolsas de valores.

Duas pessoas são fundamentais para a evolução dessa forma de investir e sua aplicação. Eugene Fama, ganhador do prêmio Nobel de economia em 2018, tem uma importante contribuição teórica, a hipótese de mercados eficientes, cuja principal consequência é que seria impossível ganhar consistentemente do mercado, uma vez que os preços incorporam todas as informações disponíveis. Já John Bogle, fundador da Vanguard, foi um dos pioneiros na criação de fundos listados que buscam acompanhar os principais índices de mercado. Em 1976, ele lançou o primeiro fundo passivo do mundo nos EUA. Após um início lento, captando apenas US$11 milhões na abertura, o fundo levou 6 anos para alcançar US$100 milhões, mas a partir da década de 80 teve um crescimento rápido, chegando a US$500 milhões em 1986. Ambos são figuras muito importantes no desenvolvimento das finanças no século XX.

O investimento passivo encontrou o formato de fundo listado no Canadá em 1993, quando a bolsa AMEX criou o produto para aumentar suas receitas de negociação. Em um excelente livro lançado há alguns anos, intitulado “Trillions: How a Band of Wall Street Renegades Invented the Index Fund and Changed Finance Forever”, o jornalista do Financial Times, Robin Wigglesworth, conta a história desses fundos que, desde a década de 1960 até hoje, se transformaram em uma indústria de aproximadamente US$10 trilhões. Atualmente, os fundos listados acompanham índices de várias classes de ativos e alguns até mesmo adotam estratégias múltiplas, originando carteiras diversificadas. Além disso, existem fundos considerados ativos fora do Brasil. Uma inovação recente são os índices/fundos smart beta, que possuem uma ponderação diferente da tradicional, baseada no valor de mercado.

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Os ETFs demoraram a chegar no Brasil. A elevada taxa de juros atrasou por muitos anos os avanços do mercado de capitais, especialmente na área de renda variável e alternativos. Em 2004, por meio de um projeto que envolveu o BNDES e alguns grandes bancos, a B3 lançou o PIBB, primeiro ETF do Brasil, que tem como objetivo acompanhar o IBrX50. A evolução foi lenta, e em 2019 havia apenas 15 fundos dessa natureza no Brasil.

A BlackRock, maior gestora do mundo, entrou no Brasil nesse intervalo. Com a forte queda da taxa de juros em 2020, o número de ETFs explodiu, chegando a quase 90 atualmente, sendo 7 deles em renda fixa. Entre 2016 e 2021, o número de investidores passou de 22 mil para quase 600 mil, mas tem se mantido praticamente estável desde então, devido ao aumento da taxa de juros. Os ETFs de renda variável internacional são os mais bem-sucedidos, contando com 407 mil investidores.

A diversificação internacional tornou-se muito mais fácil com a segurança, transparência e eficiência dos ETFs, impulsionando o lançamento de BDRs de ETFs, ou seja, ativos negociados no Brasil com lastro em fundos listados no exterior. Atualmente, existem mais de 200 ativos (na verdade, fundos considerando o risco subjacente) de diferentes gestoras, principalmente nas áreas de renda variável, renda fixa, moedas e commodities. Com esses fundos, é possível montar uma carteira extremamente diversificada no Brasil e no exterior.

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No mundo complexo dos investimentos, a construção de portfólios é apenas uma etapa do processo, mas é uma das mais complexas para quem está começando ou não tem muito tempo para se dedicar ao tema. A tarefa se torna ainda mais complicada quando é necessário escolher gestores de fundos para cada classe de ativos. A possibilidade de superar o mercado deve ser ponderada em relação ao baixo custo dos fundos passivos, como um ETF do Ibovespa, que atualmente custa cerca de 0,3% ao ano. Os benefícios são tantos que uma parte desses fundos deveria estar presente na carteira de todos os investidores, respeitando a alocação indicada para cada um. A ampla variedade de opções em diferentes geografias e classes de ativos permite uma diversificação abrangente apenas com esses ativos.

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Evandro Buccini

Sócio e diretor de gestão de Crédito e Multimercado da Rio Bravo