Erro estratégico que levou o petróleo a US$ 100 está ocorrendo agora com o urânio; entenda

Produtores estão investindo menos com medo do aumento da oferta por novas minas, mas a história prova que não é bem assim

Marcelo López

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Em 2000 foi feita uma das maiores descobertas no setor petrolífero mundial, o campo de Kashagan, no Cazaquistão. Com reservas estimadas em 13 bilhões de barris de petróleo, o campo é considerado a maior descoberta dos últimos 30 anos.

Após o anúncio vindo dos cazaques, vários consultores do setor diziam que o mundo seria inundado com petróleo barato e abundante vindo do Cazaquistão, e os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), em resposta a isso, diminuíram substancialmente os investimentos em bens de capital (Capex, na sigla em inglês) em seus campos.

Claro, se um grande produtor vai entrar em cena, não faz sentido investir para aumentar a produção.

Infelizmente, Kashagan só começou a produzir no final de 2013, muito depois das estimativas dos “experts”. Dificuldades técnicas e operacionais causaram um atraso muito maior do que muitos imaginavam. A falta de investimento em Capex, sem dúvida, contribuiu para a alta nos preços do petróleo observada entre 2005 e 2008.

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Sempre ouço pessoas dizerem que vão reformar a casa e que esperam terminar toda a obra em um tempo X e dentro de um orçamento Y. No final, o tempo vira 2X e o gasto real 3Y ou mais. Isso em uma residência, com ambiente controlado e conhecimento amplo dos detalhes do local. Agora, imagine o caso de uma mina.

Minas são famosas por levarem muito mais tempo do que o previsto para serem desenvolvidas. Um exemplo importante é o de Cigar Lake, que é uma das maiores minas de urânio do mundo e que foi descoberta em 1981. O início da produção foi estimado para 2007, depois 2008, depois 2010, depois 2011, 2013 e, por fim, 2014, quando a mina realmente começou a operar. 7 anos de atraso!

Hoje, não há grandes projetos de urânio esperados para os próximos anos, mas os consultores do setor continuam falando sobre Arrow e mais produto do Cazaquistão. Com isso, vários produtores de urânio estão diminuindo drasticamente os investimentos em Capex, o que impactará a produção em alguns anos.

Hoje, são produzidos menos de 140 milhões de libras de urânio por ano, enquanto são consumidos mais de 190 milhões.

A situação é insustentável e vemos vários consultores desestimularem o investimento no setor dizendo que novas minas estão a ponto de produzir e que não haverá surpresas.

Já vimos esse filme com o petróleo há alguns anos. A história não se repete, mas rima.

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Marcelo López

Marcelo López tem certificação CFA, é gestor de recursos na L2 Capital Partners, com MBA pelo Instituto de Empresa (Madrid, Espanha) e especialização em finanças pela principal escola de negócios da Finlândia (Helsinki School of Economics and Business Administration). Atuou como Gestor de Carteiras e de Fundos em grandes gestoras internacionais, tais como London & Capital e Gartmore Investment Management.