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No início do ano, a confiança no mercado de ações da China estava em seu nível mais baixo, mas os piores temores de muitos investidores sobre a economia chinesa não se realizaram. Convidei o meu colega Eddie Chow, vice-presidente executivo sênior e diretor executivo do Templeton Emerging Markets Group, para fornecer uma perspectiva da atual situação do mercado e da economia da China. Ele destaca o que mudou no decorrer dos últimos meses, e os riscos e as oportunidades que vemos na China, incluindo um importante canal para a negociação de ações que pode vir a atrair mais investidores estrangeiros para o mercado do continente.
O mercado da China, conforme representado pelo MSCI China Index, se recuperou dos baixos níveis de meados de fevereiro e está atualmente positivo no acumulado do ano até 20 de setembro1. A recuperação das ações chinesas está mais nítida no mercado externo, principalmente nas ações listadas em Hong Kong (classe H) e aquelas listados nos Estados Unidos como American Depository Receipts (ADRs). O mercado doméstico de ações de classe A da China — empresas locais chinesas, denominadas em renminbi e negociadas principalmente entre os investidores locais nas bolsas de Xangai ou Shenzhen — permanece relativamente fraco.
No início do ano, havia temores de que conforme o ciclo de taxas de juros dos EUA começasse a apontar para cima, os fluxos de saída de capital levariam a moeda chinesa a depreciar significativamente e a enxugar ainda mais a liquidez de um já fragilizado sistema de crédito. Muitos investidores estavam também desconfortáveis com a inconsistência do governo em relação a várias políticas econômicas, tais como o compromisso de atingir 6,5% de crescimento do produto interno bruto (PIB), não permitir a depreciação da moeda e executar ajustes estruturais como a redução/desalavancagem de capacidade.
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No decorrer dos últimos meses, a confiança do mercado melhorou por várias razões. O banco central norte-americano (Fed) tem estado menos inclinado a aumentar as taxas de juros este ano do que se temia, e o governo chinês tem se demonstrado eficaz em reduzir a saída de capital e introduzir políticas econômicas mais pragmáticas. Ele não está mais fortemente empenhado em atingir 6,5% de crescimento do PIB, permitiu que sua moeda seguisse em uma leve tendência de enfraquecimento e tomou medidas mais concretas para diminuir a capacidade nos setores de siderurgia e mineração. Os dados macroeconômicos da china permanecem fracos em geral, mas existem sinais nos relatórios de agosto indicando que a desaceleração do crescimento chinês começou a estabilizar. O temor de um colapso do crédito também diminuiu, à medida que o governo introduziu títulos lastreados em ativos (ABS – asset-backed securities) de créditos de baixa qualidade (NPL – non-performing loans) para os bancos descartarem seus créditos em atraso e, ao mesmo tempo, endureceu a regulamentação sobre a atividade bancária relacionada a produtos de gestão de patrimônio.
Os mercados de classe A em Xangai e Shenzhen são dominados por investidores de varejo, e eu acredito que muitos perderam a confiança no ano passado, quando o mercado caiu fortemente. Leva tempo para a confiança se recuperar. O mercado de Hong Kong é dominado por investidores institucionais, e durante o forte movimento de venda do início desse ano, o mercado foi exageradamente penalizado, com as avaliações de valor empresarial chegando a níveis muito mais baixos do que os dos mercados de Xangai e Shenzhen. Conforme os temores se acalmaram, a recuperação foi então mais forte no mercado de Hong Kong. A liquidez é também muito melhor no mercado de classe H e, à medida que algumas economias desenvolvidas optaram por políticas de taxas de juros negativas, a liquidez permaneceu relativamente baixa no mercado de classe A, impulsionada pelos fluxos de saída de capital.
Vulnerabilidade do setor bancário
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Alguns relatórios deste ano disseram que o sistema bancário da China está vulnerável e correndo risco, em função de uma dependência do financiamento interbancário. Na minha opinião, o nível de risco das atividades de financiamento entre os bancos grandes e os bancos menores da China não é muito alto. Assim como acontece em outros mercados, os grandes bancos se beneficiam da vantagem de escala e normalmente são mais fortes no segmento de depósitos. Normalmente, faz mais sentido os bancos menores tomarem emprestado dos grandes bancos no mercado interbancário. Seria improvável que isso se tornasse um risco sistêmico, se todos seguissem as exigências regulamentares e representassem com transparência os riscos de suas atividades em seus balanços patrimoniais. Do meu ponto de vista, o verdadeiro problema é que alguns bancos de médio ou pequeno porte podem estar escondendo seus empréstimos para clientes de alto risco, mediante acordos de swap com outros bancos. Tais acordos aparecem em seus balanços patrimoniais como ativos financeiros de menor risco, mantidos como contratos de recompra ou revenda com outros bancos. A finalidade é fazer com que esses empréstimos de alto risco consumam menos capital, para que os bancos possam fazer mais negócios (ou em outras palavras, assumir mais riscos) sem a necessidade de colocar mais capital. Essa situação pode se tornar um risco sistêmico. No caso de um evento de grande escala de inadimplências entre aqueles clientes de alto risco, esperaríamos algum grau de contração do crédito no sistema bancário, e os tomadores de empréstimos adimplentes provavelmente também seriam afetados.
Um novo canal para as ações
A aprovação recente do programa Shenzhen-Hong Kong Stock Connect facilita a negociação estrangeira e doméstica entre o mercado local da China e Hong Kong e, para nós, isso significa que o mercado chinês de classe A estará mais aberto. Assim como tem ocorrido com as ações listadas na bolsa de valores de Xangai, os investidores estrangeiros poderão adquirir ações listadas na bolsa de Shenzhen diretamente. Isso aumenta significativamente o número de ações disponíveis para os investidores estrangeiros e existem também mais empresas privadas em Shenzhen do que em Xangai, o que em nossa opinião é positivo. Para o mercado doméstico chinês de classe A, uma participação maior por parte dos investidores estrangeiros, especialmente investidores institucionais, é um acontecimento positivo, uma vez que isso pode potencialmente oferecer uma maior abrangência no curto prazo e, no longo prazo, ajudar a promover uma melhor governança corporativa, uma melhor estrutura regulatória e uma fiscalização mais rigorosa.
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Ação — ou inércia — na política monetária
O governo chinês tem evitado introduzir medidas monetárias mais fortes nessa fase, reconhecendo que a política monetária não é a ferramenta mais eficaz para ajudar a economia. Os economistas já indicaram que a contribuição do crédito para o crescimento do PIB está rapidamente diminuindo. Muitos dos créditos criados são tomados por empresas estatais ineficientes do setor industrial legado, da velha economia. Além disso, o governo gostaria de manter sob controle a situação da dívida, já em níveis bastante elevados. Com certeza, existem alguns setores que podem se beneficiar do foco do governo em aumentar os projetos de infraestrutura. Por exemplo, o governo planeja ter mais sistemas de trens metropolitanos. Do ponto de vista de investimento, isso seria uma boa notícia para alguns fabricantes de sistemas ferroviários.
Por outro lado, o banco central (Fed) dos EUA parece estar no caminho de um aperto monetário, ao contrário de muitos outros bancos centrais que ainda estão em modo de flexibilização. Em geral, um aumento nas taxas de juros dos EUA seria negativo para o mercado da China porque quando a diferença de taxa de juros entre os países aumentar, os recursos provavelmente sairão da China, enxugando a liquidez ou a oferta de dinheiro no sistema, o que é prejudicial para o crescimento econômico. No entanto, eu acredito que, com o atual ciclo de aperto monetário dos EUA, o mercado não reagirá com tanta volatilidade como talvez ocorresse no passado, uma vez que o mercado já precificou um aumento nas taxas de juros dos EUA e, nos últimos meses, muitas empresas chinesas conseguiram zerar suas exposições à dívida estrangeira. Além disso, com os bancos centrais da Europa e do Japão mantendo suas políticas de taxas de juros negativas, eu acredito que os fluxos de investimento para os mercados emergentes devem continuar positivos.
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Temas de investimento: produtos de consumo e de tecnologia
Em termos das potenciais oportunidades de investimento que estamos analisando na China, estamos focados no setor de tecnologia e Internet, uma vez que achamos que muitas empresas podem desfrutar de forte crescimento estrutural, à medida que a economia migrar para mais transações, compras e serviços on-line. Também gostamos de determinadas empresas voltadas para o consumo, especialmente o setor automobilístico e de roupas esportivas. Buscamos oportunidades em setores (por exemplo, papel para embalagens) que já passaram por uma consolidação, onde as barreiras de entrada aumentaram e onde o ambiente competitivo tornou-se mais benigno.
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1. Fonte: O MSCI China Index representa as ações da China de média e alta capitalização da classe H e da classe B, Red chips e P chips. Com 149 componentes, o índice abrange cerca de 84% do universo das ações chinesas. Índices não são gerenciados e não se pode investir diretamente em um índice. Eles não incluem taxas, despesas ou encargos de venda. Performance passada não é indicação nem garantia de performance futura.