Será que entraremos em 2024 como entramos em 2023?

Um primeiro questionamento para o ano que vem é: será que não teremos crescimento maior do que projetado pelo mercado?

Luiz Fernando Figueiredo

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

(iStock/Getty Images Plus)
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Aparentemente não, chegamos ao fim de 2023 com um ambiente relativamente mais construtivo.

O crescimento deve ser ao redor de 3,0%, bem acima do que se esperava no início do ano. A inflação ficará por volta de 4,5%, dentro do intervalo de meta. A taxa Selic fechará o ano em 11,75%, após quatro cortes de 50 pontos base. A política fiscal entregando bem menos que em 2022, um déficit de 1% do PIB versus um superávit primário de 1,3% em 2022, além de um provável déficit para 2024 frente a uma promessa anterior de ter as contas primarias equilibradas.

Um primeiro questionamento para o ano que vem é: será que não teremos crescimento maior do que projetado pelo mercado?

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O Focus aponta para 1,5% de PIB, mas nos lembremos que estamos há três anos consecutivos, desde 2021, com surpresas mais para positivas no crescimento anual, e essas surpresas estão atreladas a outro questionamento, de que o nosso PIB potencial deve ter aumentado.

Embora seja difícil ter uma evidência conclusiva sobre o aumento do potencial, nos parece bastante razoável esperar isso dado o conjunto de reformas estruturais aprovadas.

A partir de 2017, com a implementação da reforma trabalhista, e de 2019 em diante, com inúmeros marcos regulatórios, a independência do Banco Central, a reforma da previdência e uma outra grande lista de reformas micro, como a lei de liberdade econômica, lei das startups, lei de cabotagem entre várias outras.

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Sem contar que temos em andamento a reforma tributária e talvez os primeiros gatilhos da reforma administrativa.

Outra discussão diz respeito a nossa NAIRU, a taxa de desemprego que não acelera e nem desacelera a inflação, ter caído.

Nesse sentido, estamos vendo um mercado de trabalho ainda robusto e com baixa taxa de desemprego, sem impacto significativo no comportamento da inflação de serviços, que mantém trajetória de alívio e está bem comportada.

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Portanto, se o fantasma fiscal colaborar parcialmente (leia-se: o governo ser capaz de aprovar as medidas de arrecadação e não desancorar o resultado primário e a dívida pública), apontamos para um próximo ano de uma certa estabilidade e menor incerteza a respeito das políticas macro.

Embora não possamos esquecer que estamos só postergando um importante ajuste, da ordem de 2,5% a 3% no resultado das contas primarias com relação ao PIB para chegarmos a uma política fiscal sustentável, em que a dívida deixa de crescer com relação ao nosso PIB.

Com o fiscal minimamente controlado, embora ainda insustentável, a inflação corrente e as expectativas pouco devem se mover. A dinâmica benigna continuaria e fecharíamos 2024 com o IPCA entre 3,5% e 4%.

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A Selic teria espaço para continuar caindo, atingindo patamar de um dígito e encerrando o ano ao redor de 9,0%.

O efeito dos juros em queda impacta positivamente a atividade econômica e ajuda os investimentos: somado ao cenário de aumento de PIB potencial, acredito que possamos ter um crescimento de pelo menos 2,0% no ano que vem.

Tudo isso sem mencionar o ambiente externo também mais tranquilo do lado da política monetária. A tendência dos indicadores aponta para a economia americana reduzindo os juros a partir do segundo trimestre do ano que vem e a Europa no segundo semestre.

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E além do que comentei acima, iniciamos o ano com uma menor “cacofonia”, a prática fiscal foi bastante descolada da narrativa principalmente com relação a política fiscal e monetária ao longo deste ano. Em ambos os casos, o risco atual parece ser menor do que o risco que tínhamos no fechamento de 2022 após as declarações do presidente Lula.

Este artigo tem a co-autoria do economista da Jive Investments Luan Takada

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Luiz Fernando Figueiredo

Presidente do Conselho de Administração da Jive Investments. Com passagens pelo JP Morgan e BBA, foi diretor do Banco Central. Em 2005 fundou a Mauá Capital, após a cisão da Gávea Investimentos. É economista e fundador do Instituto FEFIG.