Alckmin deveria agradecer a Bolsonaro

Ao ser empurrado do ringue da polarização pelo bolsonarismo, Alckmin pode ser ele mesmo

Mario Vitor Rodrigues

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O título que escolhi é peculiar, não resta dúvida. Afinal, que espécie de dívida de gratidão poderia ter Geraldo Alckmin com Jair Bolsonaro?

Deveria agradecer pelo êxodo de eleitores avessos à esquerda, quase um feudo do PSDB desde a reabertura democrática? Ou, quem sabe, pelo fato de Bolsonaro ser capaz de demonstrar vigor, certa dose de agressividade e até mesmo algum desinteresse pela própria imagem, pacote esse capaz de macular a imagem de qualquer político tradicional?

Bem, se a resposta deve ser direta, então é sim. Para ambas as hipóteses. Contudo, vale a pena esmiuçar esse cenário, que, de algumas semanas para cá, tem ficado cada vez mais alvissareiro para os lados do tucano.

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A começar pela premissa de que todos os eleitores que hoje se dizem decididos a votar em Bolsonaro seriam capazes de recebê-lo no aeroporto aos berros de “mito”. Um equívoco absolutamente legítimo, já que o histrionismo da claque chama mesmo a atenção, mas ainda assim um equívoco.

Sim, existe uma espécie de núcleo duro no eleitorado que apoia Bolsonaro para presidente do Brasil e o general Mourão para seu vice. É inegável. Contudo, há também uma parcela que, antes de ser fiel ao bolsonarismo, nutre repulsa pela ideia de ver a esquerda voltar ao poder.

O eleitor que se acostumou a votar em candidatos tucanos e se viu frustrado pela postura do partido, principalmente quando ele esteve na oposição — sem falar na sua inércia nos primeiros meses deste ano —, bandeou-se para a opção considerada mais viável.

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Esse eleitor, insisto, é mais fiel ao seu pavor de ser governado novamente pelo PT e pela esquerda de maneira geral do que a este ou àquele candidato.

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Falando agora sobre o estilo de cada candidato, não caberia aqui tergiversar sobre uma questão já dada: Alckmin nunca foi, e jamais será, um Lula, um Bolsonaro ou mesmo um Ciro Gomes. Suas credenciais são outras e não envolvem o carisma típico dos políticos capazes de arrastar multidões.

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O ponto, porém, é que, ao ser empurrado do ringue da polarização pelo bolsonarismo, Alckmin hoje se vê podendo dialogar justamente com o eleitor que nutre apreço pelo que de fato ele é, e não pelo que, na certa, não conseguiria tentar imitar.

Trocando em miúdos, o eleitor moderado, não por acaso aquele que vai decidir a eleição, tem mais chances de dar ouvidos a um candidato que seduz pela experiência do que pelos arroubos comuns aos extremos do tabuleiro.

Não se trata aqui de uma regra que valha para todos, mas Alckmin deveria respirar fundo pela sorte que está tendo de não se ver obrigado a jogar um jogo que não lhe é conveniente.

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Diga-se, difícil será para candidatos com a verve de Ciro e do próprio Bolsonaro fazer o caminho inverso. Ou seja, vender para o eleitor, agora mesmo, um candidato que eles jamais serão.


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