Moro: golaço ou ato falho do Rei?

A dúvida persiste: Bolsonaro percebeu o estado de xeque-mate permanente em que colocou o seu governo ao convidar alguém desde já intocável aos olhos do público?

Mario Vitor Rodrigues

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Blunder é um termo usado no xadrez para identificar erros crassos, potencialmente decisivos, em especial quando o Rei acaba exposto aos ataques do adversário.

Já faz mais de um mês que o juiz Sérgio Moro aceitou assumir o Ministério da Justiça, porém sempre me faço o mesmo questionamento quando ele se pronuncia, seja podando sutilmente a questão do porte de arma, seja quando diz, como fez ontem, que “nunca aceitaria uma posição no governo se visse o menor risco de discriminação contra as minorias”: o presidente eleito sabia o que estava fazendo quando convidou o juiz-ídolo das massas?

Vale ressaltar que a narrativa petista, dando conta de uma atuação enviesada do futuro ministro quando era juiz para quem sabe barganhar cargos numa gestão vindoura — daí a condenação de petistas graúdos, com destaque para Lula —, não merece nem ser considerada.

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Nada disso, a razão que fez Bolsonaro pensar em Moro é bem mais simples de ser compreendida e não inclui teorias conspiratórias. Diz respeito, acima de tudo, ao selo anticorrupção intrinsicamente atado à figura de Moro.

Estratégia idêntica foi seguida quando Paulo Guedes foi convidado, dada a inabilidade do candidato em tratar de temas relacionados à economia, aliada a seu interesse em se desfazer da imagem de estatista.
Pois bem, o motivo principal está claro, mas a dúvida persiste: Bolsonaro percebeu o estado de xeque-mate permanente que impôs ao seu governo quando convidou alguém desde já intocável aos olhos do púbico? E não apenas impossível de ser dispensado como capaz de retirar a tão desejada chancela se um dia decidir sair?

Até para dar o benefício da dúvida, não se pode descartar que sim. Quem sabe o presciente eleito não optou de caso pensado por colocar o bode na sala, constrangendo a própria administração e, assim, defendendo-a de si mesma? Seria ótimo. Uma inequívoca demonstração de astúcia e. ao mesmo tempo, de comprometimento com o Brasil.

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Todavia, também não cabe ignorar o caminho inverso: Bolsonaro não viu o copo meio vazio. Não imaginou embates entre a estrela maior do seu ministério, tão popular quanto ele, e defensores da linha ideológica que seu sucesso eleitoral representa.

Só o tempo dirá. Contudo, a não ser que Sérgio Moro caia em desgraça pública de maneira tão vertiginosa quanto improvável, o futuro presidente parece desde já em posição de risco.

Um Rei exposto por escolha própria.

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