A fusão entre FCA e PSA – e o pepino de R$ 5 bilhões

Dinheiro enviado pela filial brasileira da FCA ajudou a matriz na fusão com a PSA

Raphael Galante

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Publicidade

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores.

Caros leitores, digníssimas leitoras: parece que, aos 40 minutos do segundo tempo, o pessoal da FCA conseguiu arrumar um comprador para a sua operação – o nome carinhoso disso é “FUSÃO”.

(E sabem o que é pior disso tudo? É ter que escutar o estagiário atormentando que cantou a bola quatro meses atrás, dizendo que a PSA iria arrematar a FCA. Você pode relembrar aqui).

Continua depois da publicidade

O único ponto que realmente lamentamos, como entendemos lhufas do mercado financeiro, é que nós perdemos a valorização de 19% nas ações da FCA nas bolsas europeias durante a semana.

Ou seja, a festa de ano novo continuará sendo em Praia Grande!

Mas, voltando ao nosso tema.

Continua depois da publicidade

A nossa opinião não mudou em nada. O que achamos?

Para a FCA foi a salvação da lavoura, já que, com a mudança da regulamentação na Europa sobre poluentes, o impacto seria um desastre para eles. Para a PSA, foi fenomenal!

Imagine a situação dos franceses: uma empresa quase falida pouco mais de uma década atrás, e que agora vai brigar pelo TOP 3 de maiores montadoras do mundo. Além de conseguir acesso ao mercado americano, coisa que nenhum francês jamais conseguiu.

Continua depois da publicidade

E qual vai ser o impacto para o mercado brasileiro?

Inicialmente, não muda nada.

O máximo que poderá ocorrer no curto prazo é voltarmos a ter uma sinergia na parte dos veículos comerciais, já que num passado não tão distante os furgões Iveco Daily, Fiat Ducato (FCA), Citroen Jumper e Peugeot Boxer (PSA) possuíam o mesmo motor.

Continua depois da publicidade

Basta ver os exemplos que temos. Até pouco tempo atrás, o grupo PSA era bem separado (até no aspecto de empresas e departamentos), assim como a Renault-Nissan (nem considero a Mitsubishi, pois ela ainda é quase 100% independente).

Mas, o “mais-melhor-de-bom” dessa fusão foi como o pessoal da FCA decidiu “ornar a tia encalhada” para arrumar um noivo francês.

Não vou afirmar que o pessoal do grupo FCA “garfou” quase R$ 5 bilhões da filial brasileira (em impostos) e mandou o dinheiro para a matriz, pois o nosso seguro de responsabilidade civil ainda não foi renovado. Eu acredito que houve um “erro de interpretação”.

Continua depois da publicidade

Mas, vamos lá: a filial brasileira mandou 850 milhões de euros para a matriz em 2017 (em pleno “caos automotivo”) e mais 164 milhões de euros neste ano.

Convenhamos… acrescentar mais de um bilhão de euros no balanço da empresa “ornou” em muito a tia encalhada.

Vamos explicar um pouco mais sobre a procedência deste dinheiro:

Como o governo federal possui uma equipe “super técnica”, principalmente na área tributária, ele criou uma sistemática onde se cobrava PIS/Cofins sobre ICMS.

Exatamente isso o que você pensou: eu cobro imposto sobre o imposto! (viu como é fácil empreender no Brasil?)

As montadoras de veículos – mais um monte de empresas diversas – entraram com uma enxurrada de ações contra isso. Como a nossa justiça é célere, depois que os primeiros processos começaram a fazer festa de debutante, saíram os primeiros resultados.

Agora esses mesmos processos (que estão entrando na fase de tirar carta de motorista), terão no dia 05 de dezembro o seu resultado (provavelmente final). Você pode ler mais a respeito aqui.

OK! Tudo lindo e maravilhoso. E?

Bom… o grande ponto a se perguntar é: de quem é esse dinheiro?

Assim como nós, do setor automotivo, não somos especialistas no mercado financeiro, também não temos tanta experiência com a parte jurídica/tributária.

Mas como o estagiário é “old scholl”, ele gosta de ler… não fica vendo vídeo. Então, leu uma infinidade de parecer de bancas de advogados.

Quem pagava esse imposto eram as concessionárias de veículos. Mas o governo cobrava das montadoras, afinal de contas, é mais fácil eu cobrar de 26 montadoras, do que cobrar de mais de 5.000 concessionárias.

Mas o pessoal da FCA pode ter um entendimento diferente…

Sim, isso é verdade!

Dentre as 26 montadoras que estão no Brasil, a única que foi “experta” o suficiente para levantar (ou melhor, ficar com) o dinheiro foi o pessoal da FCA.

E as outras 25 montadoras?

Elas não são “tão expertas” como o pessoal da FCA (bando de juvenil).

O que eles fizeram? Uma boa parte vai esperar a audiência de dezembro para ver o que vai fazer. Uma outra leva está chamando a sua rede de concessionárias e costurando um acordo para dividir o dinheiro, e por aí vai…

O que o estagiário acha?

Que, acontecendo a audiência no Supremo Tribunal Federal em dezembro, vai dar SUPER RUIM para o pessoal da FCA.

Pois a regra é clara, Arnaldo: dinheiro que sai da filial para a matriz, não volta nunca mais.

O departamento que mais trabalhará nesta fusão vai ser o jurídico… só fazendo a mitigação da enxurrada de processos que ela vai tomar.

Como falei no começo, o pessoal da FCA encontrou um comprador aos 40 minutos do segundo tempo… MAS O JOGO SÓ ACABA AOS 45!

Aqui, dois conselhos para o pessoal da FCA Latam:

1- Vão até Aparecida e rezem para Nossa Senhora iluminar a cabeça do Ministro Dias Toffoli e postergar a modulação do assunto por mais uns seis meses (ou até sair a venda da FCA).

2- E, se eu sou CFO do grupo, reteria o bônus desse ano de todo mundo, para contingências futuras!

#ficaadica!

E aí, o que achou? Dúvidas, me manda um e-mail aqui. Ou segue no Facebook aqui, Linkedin aqui, Twitter aqui e Instagram aqui.

=)

Autor avatar
Raphael Galante

Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva