O “patinho feio” de R$ 200 bilhões

Como diria Nelson Rodrigues, o nosso “complexo de vira-lata“, não faz com que o brasileiro explore melhor um produto genuinamente nacional que movimentou/movimentará mais de R$ 200 bilhões.

Raphael Galante

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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O pessoal da B3 divulgou uma notícia super interessante sobre quais carros são mais vendidos pelo sistema de consórcios. No TOP 10 deles, o que se sobressaiu foram os modelos: Honda/HR-V; Toyota/Corolla; Fiat/Toro e Jeep/Compass.

O que chamou a nossa atenção foi que, nesse TOP10,  o HR-V e o Compass não estão entre os 10 carros mais vendidos no mercado nacional.

Além disso, fazendo aquela “crássica” “conta de padoca”, a grosso modo estamos falando de veículos que custam na casa de R$ 100 mil. Sabe, são aqueles veículos que “orbitam o mundo de caras”  – e o pessoal está comprando via consórcio.

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Então, decidimos nos debruçar por cinco minutos para saber um pouco mais sobre o sistema. E aí quebramos alguns paradigmas que nós tínhamos:

 

Consórcio é para pessoas que não tem crédito aprovado, ou para comprar um veículo “baratinho”, ou só serve para o pessoal de motos!

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A piada já começa em “carro baratinho”… mas vamos lá! A própria B3 quebrou esse conceito quando apontou aqueles carros da nossa hipótese. Mas mesmo assim fomos lá no BC para saber qual é o perfil do consorciado de carros. Bem, tem gente com crédito para carro “baratinho” (R$ 8 mil) e tem gente que está programando a compra do seu BMW X6 (R$ 450 mil).  O que percebemos? Que o produto consórcio é para o público de A a Z. Do cara que vai comprar o seu Gol Bolinha por 8K ao consumidor que está pensando em comprar uma X6 por R$ 450k.

Mas o BC nos deu outras informações bem legais. Somente no segmento de carros, o sistema movimentou/movimentará R$ 129 bilhões, o que significa que o consórcio de carros – naquela nossa conta – está movimentando uma média de R$ 26 bilhões.

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Se pegarmos os consumidores com créditos acima de R$ 45k, estamos falando de um universo de 630 mil clientes. Sendo que o valor médio desse crédito é de $ 66 mil. A distribuição é mais ou menos assim:

 

FAIXAS DE CRÉDITO QUANTIDADE PART.% VALOR DO CRÉDITO PART.% VALOR MÉDIO
Até 15 Mil 8.734 0,26% R$ 93.586.891 0,07% R$ 10.715
De R$ 15 mil até R$ 25 mil 533.379 15,60% R$ 12.214.512.367 9,44% R$ 22.900
De R$ 25 mil até R$ 35 mil 1.427.699 41,75% R$ 43.787.943.351 33,84% R$ 30.670
De R$ 35 mil até R$ 45 mil 820.204 23,99% R$ 31.841.355.095 24,60% R$ 38.821
Acima de R$ 45 mil 629.252 18,40% R$ 41.473.181.231 32,05% R$ 65.909
TOTAL 3.419.268 100% R$ 129.410.578.934 100% R$ 37.847

 

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Outro ponto é o estigma onde todos acham que o consórcio é só para comprar motocicleta. Mas não é para comprar a CGzinha da vida (vulgo motoboy – cachorro-louco)! Não, caros amiguinhos… o pessoal do BC fala que o mundo é vasto! Aqui ele pode arrematar desde uma cinquentinha da vida, com créditos a partir de R$ 3,8 mil, como pode comprar a gloriosa Harley Davidson CVO Limited, com todos os paranauês possíveis que o pessoal da Harley te vende, além de várias jaquetas para todos os membros da família. Já que, aqui no consórcio de motos, existem créditos superiores a R$ 180 mil!

A verdade aqui é outra: a moto para motoboy não é a maioria da realidade! 55% das cartas de crédito são para motos acima de R$ 10K.  Se pegarmos a “nata” do setor (créditos acima de R$ 15k), temos mais de 188 mil consorciados com um crédito médio de R$ 25k.

 

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FAIXAS DE CRÉDITO QUANTIDADE PART.% VALOR DO CRÉDITO PART.% VALOR MÉDIO
Até 5 Mil 6.963 0,30% R$ 32.487.646 0,12% R$ 4.666
De R$ 5 mil até R$ 8 mil 519.779 22,07% R$ 3.866.796.455 14,62% R$ 7.439
De R$ 8 mil até R$ 10 mil 539.889 22,92% R$ 4.634.542.105 17,52% R$ 8.584
De R$ 10 mil até R$ 15 mil 1.100.502 46,72% R$ 13.244.613.264 50,07% R$ 12.035
Acima de R$ 15 mil 188.419 8,00% R$ 4.675.249.868 17,67% R$ 24.813
TOTAL 2.355.552 100% R$ 26.453.689.337 100% R$ 11.230

 

A conclusão que chegamos com as informações do BC é que o sistema de consórcios – imaginando um ciclo de 5 anos – movimentou/movimentará o total de R$ 200 bilhões em aquisições de veículos. Seja aqui o carro, a moto ou o caminhão! Sabe quanto o sistema bancário financiou em veículos nos últimos 5 anos? Menos de R$ 500 bilhões. Ali, escondido de todos, o nosso patinho feio fez 40% do que todas as instituições bancárias fizeram em 5 anos. Isso sem levar em consideração o tamanho das instituições bancárias contra o das administradoras de consórcios.

Assim como em todo produto, no consórcio existem prós e contras. Tem quem goste e quem não. Mas o ponto que ninguém pode criticar, é que ele é acessível para todos! Não é um produto para “clientes negativados”. O público é o mais variado possível. Vai de R$ 3,8 mil até para mais de R$ 615 mil do pessoal que deve estar planejando a compra de uma máquina agrícola.

O que eu acho?

Se levarmos em consideração que quem mais está crescendo nas vendas de cotas de consórcio são as administradoras ligadas a bancos (como por exemplo o Bradesco Consórcios), e o pessoal do mundo de caras está orbitando pelo produto, isso só tende a reforçar ainda mais as qualidades e atratividades dos produtos. Já que estamos falando de dois públicos (bancos e o pessoal de Caras) que odeiam perder dinheiro!

Estamos vivendo uma grande safra da nossa “jabuticaba” neste ano, e provavelmente para os próximos, já que o crédito está minguando cada vez mais….

Como diria Leônidas: This is Consórcio!

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Raphael Galante

Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva