¡No Hay Plata!

As reações e contra-reações ao Payroll mais forte nos EUA, o FOMC essa semana e a posse de Milei, na Argentina

Alexandre Aagesen

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ADP, JOLTs e Jobless Claims haviam mostrado um mercado de trabalho mais fraco. O que implicaria em salários mais baixos e menos pressão inflacionária. Boa notícia para mercados: podemos esperar menos juros e, portanto, bolsa para cima. Os Wall Streeters (“Faria Limer”, em inglês) estavam felizes, esperançosos, cabeça já em 2024, compras de Natal e Hanukkah mais generosas: em suma, já gastando o bônus por vir. Santo Agostinho (antes de ser santo) já dizia: “Deus, dai-me castidade, mas ainda não”. Bora dominar o mundo! (Corta a cena; Quinta Sinfonia de Beethoven ao fundo): caos, pânico, medo, dor. O Payroll veio bem! É o fim do mundo: desemprego caiu! (lembrem-se que boas notícias ainda são más notícias). Bolsa cai, juros abrem.

Mas, como sempre, quem quer encontrar um motivo pra comprar bolsa, sempre encontra. Ora, se tem mais emprego, então as pessoas vão consumir mais. Ok, que os juros subiram incríveis 15 bps do melhor até o pior momento, mas quem se importa? Se atividade está aquecida, compra bolsa! Mercado vira, e risk-on nas Big Techs. Apple volta a valer 3 Trilhões de dólares (com T de “Tim Cook”). Se fosse o PIB de um país, seria o sétimo, logo atrás do Reino Unido, e empatado com a França. Quase duas vezes o tamanho do Brasil e cinco vezes o tamanho da Argentina.

E vamos falar em Argentina. O nome do país significa literalmente “Prata” (do latim, “Argentum”), tanto pela abundância do minério, quanto por se localizar às margens do Rio da Prata. Pouco mais de 210 anos depois da independência do país da prata, um presidente toma posse e, no discurso inaugural, afirma: ¡No hay plata! Acabou o dinheiro. Usa ao máximo o discurso como um disclaimer pelo que está por vir nos próximos trimestres: Estagflação e ajuste fiscal. Apesar do discurso, não acho que a população vai ter paciência e boa vontade com a deterioração. Outra população que não é particularmente paciente e dada a acreditar em discursos, são os Wall Streeters. Powell está se descabelando (mais que o Milei) para tirar cortes da parte curta da curva de juros, sem sucesso. A curva precifica mais de 92% de probabilidade de pelo menos um corte no primeiro semestre de 2024. Ora, se não for isso que o Jay deseja, essa semana ele tem mais uma chance de avisar: o FOMC (com Dot Plot) é depois de amanhã.

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Alexandre Aagesen

Com mais de 15 anos de mercado financeiro, é CFA Charterholder, autor do livro "Formação para Bancários", host do podcast "Mercado Aberto" e Investor na XP Investimentos