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A ansiedade com as eleições de 2018 e o que sairá das urnas é explicada facilmente pela necessidade absoluta que o país tem de de encerrar o infindável ano de 2014. A disputa deste ano dirá o que será do futuro político do PSDB e do PT, partidos que disputam o poder há 24 anos ininterruptos. Também dirá o que será de Jair Bolsonaro, se ele se tornará o símbolo de algo ou só mais um dos muitos políticos caricatos que temos no Brasil, dessa vez um pouco mais anabolizado pela fragilidade do establishment partidário e a indignação da população com a corrupção, violência, e todos os demais temas do difícil cotidiano do brasileiro.
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Para nós, analistas políticos, sem dúvida nossa final da copa do mundo não será em julho, mas sim em outubro. E será jogada em dois turnos.
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Teremos um primeiro ponto de corte, uma espécie de funil, no próximo 7 de abril. Até lá deve ser intensificada o embaralhamento das cartas. Vejamos como se comportam os principais atores:
– Michel Temer – Reagiu ao cerco e esvaziamento político que sofreria quando a reforma da previdência caísse por falta de votos com uma intervenção na segurança pública do Rio de Janeiro. Se mantêm no centro do jogo, sendo ventilado como candidato à reeleição ou inventando uma criatura. Tem o tempo e estrutura a seu favor, além de experiência e audácia política. Sobre o sucesso da intervenção não há o que se discutir, já que, salvo em caso de tragédia, os cidadão do Rio de Janeiro – especialmente os da zona sul, onde se forma opinião – se sentirão, e possivelmente estarão, algo mais seguros.
Virasse o Rio uma Genebra, ou fosse Temer um grande comunicador e a sua candidatura poderia se tornar algo a ser encarado com seriedade, já que além de segurança, ele teria a vitrine da economia como algo importante a apresentar.
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Bem, não vai nevar no Rio de Janeiro, Temer não virará um Churchill em 30 dias, mas convém jamais subestimar a audácia de Jucá, Temer, Padilha e cia. Eles farão o que estiver ao seu alcance para que a aliança de centro a ser formada passe pelo Planalto, mesmo que os outros partidos não queiram.
– Jair Bolsonaro: Se posicionou publicamente contra a intervenção porque na prática não foi dado aos militares “licença para matar”. Na sessão que avaliou o decreto na Camara dos Deputados votou a favor do decreto mas disse ao Poder 360 que “Temer não roubaria seu discurso.” Segundo Bolsonaro, ele torce a favor da intervenção, mas acredita que em 30 dias pode “tudo ter voltado ao normal”.
Erro politico que não saiu de graça, Bolsonaro foi um tanto errático e defensivo em momento importante, e falhou quando se exigiu dele velocidade e sagacidade para se reposicionar. A saída pela tangente foi encontrada por seu economista, o professor Paulo Guedes, ao conceder entrevista falando sobre suas convicções econômicas.
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Ao dizer que “Temer já roubou muita coisa, mas que não roubara seu discurso” Bolsonaro pode até não perceber, mas ele já divide o tempo que se fala em segurança no país com Temer e o governo.
– Geraldo Alckmin: Fiel seu estilo, este campeão mundial de resta-um não fez grandes manifestações, apenas elogiou as forças de segurança de São Paulo no dia do anúncio da intervenção.
Nas redes sociais se viu a mensagem “O Rio de Janeiro é igual São Paulo, só que sem os governos do PSDB”, mas o governador mesmo segue esperando ser escolhido o candidato oficial do partido. Alckmin realmente respeita esses prazos e não se contagia pela conjuntura, lendo-a de forma fria, traçando uma estratégia e definindo sua tática.
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São palavras do governador de São Paulo as que dizem que “a disciplina vence até a inteligência”.
Dito isso, um “prussiano” Geraldo Alckmin seguirá conversando com os partidos e trabalhando para atrair DEM, PP, PSD, PTB, PRB,PPS, SD, e tentando não perder o controle sobre o complicado jogo da própria sucessão em São Paulo, estado-chave no quebra-cabeças nacional.
– Lula: O PT naturalmente se posicionou contrariamente à intervenção. Lula não disse palavra. O ex-presidente que teve de mandar forças de segurança para o Rio de Janeiro seguramente faz leitura menos apaixonada e não-parlamentar do que acontece no Rio de Janeiro.
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Para Lula, que vinha sendo pauta nacional de forma negativa, o descanso que o noticiário lhe deu recentemente veio em boa hora. Logo mais ele deve retornar ao centro das atenções de uma forma nada positiva: O TRF4 irá terminar o julgamento de seu processo e a prisão do ex-presidente será um tema importante.
O líder nas pesquisas com 37% (DataFolha) é uma evidência do paradoxo que vive o Brasil: ao invés de pensar em como venceria as eleições, Lula se preocupa em formas de escapar de mais condenações e de não ter cumprida a prisão já decretada quando do fim do seu processo no TRF4.
Marina Silva outra vez mais foi ambígua e disse pouco sobre a intervenção e a conjuntura geral. Para completar o pesadelo dos “sonháticos”, a REDE perde aceleradamente deputados que mudam para outros partidos. Reservadamente as críticas a Marina Silva são muito relevantes para a decisão de parlamentares que abandonam o barco.
Ciro Gomes defendeu a intervenção, mas segue perdendo para o Lula no Ceará, estado que recebe ajuda militar federal na parte de inteligência. Se Ciro se manifestasse contrariamente perderia a iniciativa política para Eunício Oliveira (MDB e Presidente do Senado). Para completar a trinca de problemas que tem Ciro – ser viável pela esquerda, ter apoio do PT e enfrentar problemas estruturais do pequeno PDT – a entrevista de Lula dizendo que um candidato de esquerda no Brasil só é viável com o apoio do PT e o lançamento da candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) atrapalham ainda mais o caminho de Gomes. Sua personalidade não ajuda muito, já que há também no meio político certa preocupação com o comportamento mercurial de Ciro Gomes, o que gera cautela na declaração de apoios a ele.
Conversar com dirigentes partidários neste momento é algo muito interessante para se observar o jogo de declarações, cálculos eleitorais, ações ambíguas e preservação de poder. Nos próximos meses veremos a preparação dos exércitos, já que esta é uma fase de montagem das forças brutas que se enfrentarão em outubro nas urnas. Esta montagem de forças não é completamente formada sob a luz do dia, por isso então é muito necessária a fumaça e o fog produzidos em Brasília e nos partidos.
A partir de abril, este será cada vez mais um jogo para profissionais.