Retomada de Bolsonaro esbarra na inflação; o que esperar?

Esse obstáculo fica mais evidente quando se olha a evolução dos assuntos que mais preocupam a população: hoje, 26% dos brasileiros dizem que a alta dos preços é o tema mais importante para ser enfrentado pelo próximo presidente

Paulo Gama

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O presidente Jair Bolsonaro (Foto: Marcos Corrêa/PR)
O presidente Jair Bolsonaro (Foto: Marcos Corrêa/PR)

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A pesquisa Ipespe divulgada na sexta-feira (13) reforça sinais relevantes do movimento de recuperação de Jair Bolsonaro — movimento esse que se estende desde o início do ano. Além da manutenção da tendência de crescimento na avaliação positiva e nas intenções de voto, há ainda a percepção positiva da economia que — embora ainda distante da percepção negativa — atinge os maiores índices desde fevereiro do ano passado.

Há, no entanto, um obstáculo principal à frente para que essa tendência se amplie: a inflação. Os dados do início da semana reforçando um índice mais persistente e as revisões das projeções para cima no decorrer do ano endossam a percepção de que o problema deve incomodar o presidente ao longo do ano.

Esse obstáculo fica mais evidente quando se olha a evolução dos assuntos que mais preocupam a população: hoje, 26% dos brasileiros dizem que a inflação é o tema mais importante para ser enfrentado pelo próximo presidente – é o ponto mais mencionado entre os nove itens testados. E ele vem crescendo desde o final do ano passado, quando girava entre 15% e 18%.

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Cruzamentos com dados da pesquisa do início de maio mostram que o eleitor que não está com Bolsonaro hoje é ainda mais sensível à temática econômica, o que reforça seu desafio no período à frente.

Na mesma linha, um modelo de popularidade presidencial produzido pelo economista Victor Scalet, da XP, mostra correlação alta entre a aprovação à gestão e dois indicadores principais: desemprego e inflação. As projeções atuais continuam indicando a popularidade de Bolsonaro com viés de alta daqui até outubro, mas novas revisões para cima da alta dos preços podem atenuar a melhora esperada para a aprovação do presidente.

Os oitos pontos percentuais que Bolsonaro avançou em intenção de voto desde o início do ano praticamente esgotaram o estoque de votos disponíveis para que ele continue a avançar no mesmo ritmo. Isso significa que a melhora futura do presidente depende de conseguir reduzir sua rejeição para entrar no eleitorado que hoje declara seu voto em outros candidatos, inclusive em Lula.

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Como já foi tratado aqui, Bolsonaro tem algumas armas à mão para tentar avançar sobre esse eleitor. Tem apoio da política tradicional para lhe dar capilaridade na divulgação de ações e pretende reacender o antipetismo, focado principalmente no radicalismo de esquerda – além de ser esperada uma melhora na popularidade que presidentes incumbentes costumam ter. O caminho, no entanto, fica mais difícil se a inflação continuar a se sobrepor na preocupação do eleitorado.

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Paulo Gama

Paulo Gama é analista político da XP desde 2017. Tem experiência de mais de dez anos na cobertura do cenário político nacional. Antes da XP, atuou entre 2009 e 2017 como repórter da Folha de S.Paulo, sediado em Brasília e em São Paulo. É formado em jornalismo pela USP com pós-graduação pela Universidade Lyon 2, na França.