O tapete vermelho e a diplomacia econômica: onde cada detalhe importa

Uma palavra pode parecer um mero detalhe. Mas são justamente eles que têm o poder de mudar o rumo (ou impedir a mudança) da economia

Rachel de Sá

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Gillian Anderson como a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher em "The Crown" (Reprodução/Netflix)
Gillian Anderson como a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher em "The Crown" (Reprodução/Netflix)

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Se tem uma coisa que eu gosto, é acompanhar premiações de séries e filmes. No momento da premiação em si, raramente consigo ter assistido a todos aqueles que estão concorrendo aos prêmios de melhor série, melhor longa-metragem, melhor atriz/ator, musical ou comédia, e por aí vai. Mas adoro acompanhar os looks no tapete vermelho e buscar por filmes e séries para minha listinha “to watch”, que só cresce a cada dia (bem ao lado da “to read” e do desejo que um dia tivesse mais horas disponíveis).

Assistindo ao último Emmy, me deparei com a reflexão de que Gillian Anderson, a vencedora do Emmy 2021 na categoria “Melhor Atriz Coadjuvante em Série de Drama”, e eu tínhamos algo em comum!

Gostaria de dizer que esse elo entre nós duas seria “uma carreira em Hollywood”. Infelizmente, porém, essa não é a minha realidade (ainda).

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A verdade é que nós duas já tivemos um pezinho no Governo Britânico, embora seja bom frisar que minha participação foi bem menos glamurosa do que a de Gillian, interpretando Margaret Thatcher na série The Crown.

Antes de enveredar minha carreira para o mundo financeiro, olhava para um outro lado da economia — o lado das políticas públicas. Trabalhando como economista do governo do Reino Unido no Brasil, atuei bem de perto de todos os meandros da diplomacia econômica entre a terra da Rainha e de Gillian e o lado de cá do Atlântico.

Infelizmente, não conheci “Bethinha” (como brincávamos de chamar nossa “chefinha máster”, Rainha Elizabeth II) ou nenhum membro da família real em meus anos no Ministério das Relações Exteriores Britânico. Mas tive a oportunidade de executar muito do que a série do Netflix mostra de perto.

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Desde a elaboração de briefings e discursos para ministros e secretários à seleção de convidados para jantares de alto nível entre governos, até o enfrentamento de uma bateria de burocratas para a aprovação de uma Declaração Conjunta (famoso “Joint Statement”), após um diálogo com líderes de diversos países.

Nesse contexto, uma cena em particular desta última temporada da série — que retratou os anos de Thatcher como Primeira-Ministra do Reino Unido —, me lembrou muito dos meus anos britânicos. Uma cena (não contém spoilers, prometo!) em que líderes de diversas nações que formam a Commonwealth tentam tomar uma posição conjunta sobre sanções contra a África do Sul, devido ao regime do Apartheid.

Na cena, o documento oficial negociado entre as autoridades — para mim, meu velho amigo, “Joint Statement” — é minuciosamente elaborado a muitas mãos, até chegar no modelo perfeito para todos, exceto Thatcher. O documento fica, então, por horas/dias nas mãos da Primeira-Ministra e sua equipe, só faltando sua assinatura.

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Tudo isso por conta de… uma palavra! Depois de muito vai e vem e muitas opções de palavras, o documento é aprovado e publicado. Os secretários e diplomatas declaram vitória. Positivo ou negativo, eles tinham chegado a um consenso.

Pois é, isso fazia parte do meu dia a dia há não muito tempo atrás. Para muitos, uma palavra pode parecer um mero detalhe. Mas se aprendi alguma coisa nesses anos de diplomacia, é que são justamente os detalhes que têm o poder de mudar o rumo (ou impedir a mudança) da economia, da história, e da vida de todos nós — seja para o que julgamos positivo ou não.

Viu como o há muito além de belos looks em um bom Emmy? Ansiosa ao que nos aguarda no Oscar (março de 2022, me aguarde)!

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Rachel de Sá

Formada em Relações Internacionais em 2011 pela PUC-SP com passagem pela Universidade Sciences-Po, em Paris.Entrou na XP Investimentos em 2019 como analista de macroeconomia e, em junho de 2021, assumiu o desafio de ser a nova Chefe de Economia da Rico Investimentos (XP Inc.). Rachel é responsável pela análise econômica e política da casa, destacando o que de mais importante está acontecendo no cenário econômico do país e do mundo. Nas redes sociais, é ela quem conta tudo sobre o que está rolando na economia, na política e no mercado. Sempre com uma linguagem “gente como a gente”. Nas horas vagas, anda de bike, surfa e canta em uma banda amadora de rock. Compartilha conteúdos pelo canal @raborgesdesa no Instagram