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Não tem jeito, a tensão continua no tabuleiro geopolítico. Desta vez, não estamos falando da invasão da Ucrânia pela Rússia, mas da viagem que Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, está fazendo pela Ásia (Japão, Cingapura, Coreia do Sul, Indonésia e Malásia), com uma parada estratégica em Taiwan.
Nancy Pelosi será a principal autoridade americana a visitar a ilha em 25 anos. A importância da visita e o nervosismo óbvio de Beijing beira ao fato de que Pelosi corresponde à segunda na linha de sucessão presidencial, depois da vice-presidente dos EUA.
Beijing rangeu os dentes de forma nunca antes vista. Em um telefonema para Joe Biden, o presidente chinês Xi Jinping deixou claro que a visita violaria seriamente o princípio de “uma só China”, além de prejudicar a relação entre os dois países. O líder chinês pediu ainda que os EUA “não brincassem com fogo”. Palavras duras em um novo cenário bem diferente da última crise ocorrida no estreito de Taiwan, em 1996.
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A despeito da visita mostrar claramente o interesse dos EUA em continuar exercendo suas influências no círculo do Pacífico, visitando aliados na região, mostra também um país que parece abdicar um pouco de sua política dúbia em relação à intervenção no caso de invasão de Taiwan pela República Popular da China.
O timing não poderia ser mais desafiador: Ocorre no ano do 20° Congresso do Povo, em que Xi Jinping será eleito pela terceira vez como líder do Exército de Libertação do Povo (ELP) e líder do Partido Comunista Chinês (PC Chinês). O ambiente econômico não é mais tão pujante como antes, fortemente impactado pelas crises no setor imobiliário e pelo arrefecimento da atividade econômica, dados os constantes lockdowns implantados pelo governo como forma de controlar a Covid-19.
Do lado de lá, a China prometeu medidas militares não especificadas, enquanto o ELP já realizou 5 exercícios de artilharia na área costeira da província de Fujian, a 125 quilômetros de Taiwan. Inclusive, um navio destroyer chinês chegou a lançar a mesma ofensiva no mar do sul da China, onde o porta-aviões USS Ronald Reagan transitava.
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Obviamente que as coisas não podem e esperançosamente não vão sair do controle. Nenhum dos lados pode exagerar na dose. Mesmo com as ameaças do ELP, a China não pode agir sob o risco de uma resposta demasiada forte dos EUA, o que permitiria que os dois países entrassem em um conflito inimaginável para o mundo. Mas também nenhum dos dois deve recuar.
Se a China não mostrar suas exigências, talvez com mais e provocativas manobras militares, próximas à zona de exclusão militar, e eventualmente enviar aviões militares próximos ao avião de transporte de Nancy Pelosi, o princípio de “uma só China” pode ser desafiado pelos próprios taiwaneses. Por outro lado, um cancelamento da visita demonstraria que os EUA capitularam às intimidações da China.
Tenso. Para o atual presidente de Taiwan, Tsai Ing Wem, suas opções são limitadas. Se por um lado Taiwan precisa do suporte dos EUA em caso de uma invasão, por outro também não pode provocar a China deliberadamente, sob o risco de as coisas saírem do controle.
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Esta é a quarta vez que o estreito de Taiwan enfrenta uma crise.
A primeira foi em 1955, quando chineses e taiwaneses trocaram ataques militares, após a China atacar ilhas costeiras controladas por Taipei. A segunda iniciou quando a China bombardeou as ilhas de Quemay e Matsu, com o objetivo de trazê-las para o seu controle.
A terceira crise no estreito de Taiwan ocorreu em 1996, quando Beijing lançou mísseis próximos a Taipei, após o presidente Taiwan Lee Teng Hui visitar os EUA em 1995. A crise só foi amenizada após os EUA enviarem o porta aviões Nimitz à região, em uma forte demonstração à Taipei.
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Mas desta vez é diferente: o atual líder chinês, Xi Jinping, não é Jiang Zhemin (líder chinês à época da terceira crise); a China esta mais assertiva e preparada militarmente; o senso de nacionalismo e o apoio à união com Taiwan têm aumentando na China e, como comentamos, o momento econômico é o menos propício. Com a China crescendo menos, o PC Chinês pode querer buscar mais legitimidade em um confronto controlado com os EUA.
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