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Há mais ou menos 65 milhões de anos, um meteoro com aproximadamente 12 quilômetros de diâmetro atingiu o planeta Terra em um ângulo de 60 graus, impacto considerado fatal por muitos cientistas.
O impacto não foi o responsável pela extinção dos dinossauros, e sim pela liberação de enxofre, junto com a poeira que bloqueou a luz solar no planeta. Juntos, esses eventos foram responsáveis por uma queda na temperatura média da Terra de 25º C por pelo menos os próximos 15 anos seguintes do impacto.
Pode parecer uma variação pequena, mas aproximadamente 75% da fauna e da flora terrestre não resistiram. A ciência nos diz que esse foi o pior dia da Terra desde que a vida apareceu por aqui.
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Hoje, aproximadamente 65 milhões de anos depois, estamos de olho em um asteroide, observado pela primeira vez em 2001, que viaja a 120 mil km/h e que deve passar “raspando” pelo nosso planeta. O seu nome é 231937 (2001 FO32).
O asteroide de nome robótico deve passar a 2 milhões de quilômetros da Terra. Ele possui 1 quilômetro de diâmetro, pequeno se comparado ao tataravô de 65 milhões de anos atrás, mas potencialmente perigoso. Se acertasse nosso planeta, teria um impacto 3.800 vezes mais poderoso do que a bomba de Hiroshima, por exemplo.
O fato é que se um asteroide dessa magnitude atingisse a Terra, não haveria espaço seguro em nosso planeta para nos abrigar – nem mesmo a outra face da Terra ficaria incólume ao impacto.
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Isso te lembra alguma coisa? Não? Pois esse evento me lembra o mercado financeiro brasileiro, e eu vou te contar o porquê.
E qual é o “asteroide” nesse caso?
Bom, quem investe há mais de cinco anos tem em mente que o principal problema brasileiro pode ficar mascarado, ou sumir por algum tempo, como ele fez bem nos últimos anos, mas, vira e mexe, volta a dar as caras – assim como o asteroide que deve passar pela Terra no dia 21 de março de 2021: o problema fiscal.
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Dessa vez, o asteroide fiscal parece ter ganhado força e velocidade em sua última órbita. Ele volta aos noticiários mostrando que o Brasil tem uma dívida pública sobre o seu PIB maior do que 100%, um nível muito mais elevado do que a última vez em que nos preocupamos com isso e, mesmo assim, apresentamos déficits fiscais ano a ano cada vez maiores.
Seria o mesmo que dizer hoje que você está muito mais endividado ou endividada com o seu banco, mas está pegando cada vez mais dinheiro emprestado. A pergunta é: se continuar nessa situação, em quanto tempo você vai à falência?
Pois é essa pergunta que os investidores fazem ao Brasil.
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Lembramos que, se a nossa situação fiscal se deteriorasse de uma vez, abandonando por exemplo a regra do teto de gastos, que garante uma estabilidade em nossas despesas, nem mesmo o ativo mais seguro do país, que é o Tesouro Selic, deve ficar incólume – pois ele pode, sim, apresentar desvalorizações de preço, como já vimos em outubro e novembro do ano passado.
Se não bastasse o tamanho do asteroide fiscal já em órbita, o governo parece lutar para que ele chegue aqui ainda mais rápido e maior do que já é.
Nas últimas semanas, o presidente Jair Bolsonaro reduziu os impostos incidentes sobre o diesel e o gás de cozinha, abrindo mão de bilhões de reais de arrecadação em um momento extremamente delicado do ponto de vista fiscal.
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A solução veio da tributação sobre um dos setores que ainda se mantém em pé no Brasil: o dos bancos.
Sem entrar no mérito aqui da interferência sobre o livre mercado, quero ressaltar um ponto: a solução para o nosso problema fiscal hoje passa pela superação da pandemia da Covid-19. Por quê?
Bom, hoje, no ápice da pandemia, com o maior número de novos casos registrados diariamente e também com o maior número de óbitos registrados por dia, nenhum deputado ou senador tem coragem suficiente para defender a responsabilidade fiscal, mesmo sabendo que, a médio e longo prazos, as medidas são extremamente importantes para o crescimento do país, do emprego, da renda da população e da qualidade de vida do brasileiro.
Isso acontece porque corte de gastos é um assunto extremamente impopular, nenhum cidadão quer ouvir falar em controle de gastos em meio a uma crise sanitária dessas proporções.
Mas ao menos parece que o Congresso entendeu o mecanismo, e a Câmara dos Deputados aprovou o projeto que libera a aquisição de vacinas contra a Covid-19 pelo setor privado, por estados e municípios.
Antes que você pense que o setor privado “roubará” vacinas do setor público, saiba que a matéria que trata dessa possibilidade coloca que as compras realizadas por instituições privadas servirão de benefício em grande parte para o setor público. E lembre-se de que não necessariamente as empresas brasileiras que comprarem as vacinas estarão negociando as mesmas que o governo brasileiro; elas iriam negociar lotes que não foram adquiridos ainda pelo governo brasileiro, ou seja, é um reforço para a vacinação pública já em andamento.
Quando um arrefecimento do número de casos diários, de ocupação dos leitos de UTI e, principalmente, de óbitos ao redor do Brasil começar a ser observado, aí, sim, Brasília deve ficar mais à vontade para falar sobre e encaminhar as propostas de ajuste fiscal.
Enquanto isso não acontece, o que vemos nos noticiários são floreios que efetivamente não mudam a trajetória do asteroide.
Nas próximas semanas, acredito que a nossa percepção sobre o risco fiscal deve seguir o rumo do asteroide verdadeiro monitorado pela NASA: passará raspando pela Terra, mas sem necessariamente atingi-la – e nossa percepção nessas próximas semanas deve continuar muito ruim, mas o temor dos investidores quanto a um grande impacto, ou seja, uma deterioração final em nossas contas públicas não deve realmente se efetivar.
O que isso significa?
O caos embutido nos preços dos ativos de renda fixa hoje, principalmente os de curto prazo, não deve se concretizar na minha opinião, podendo ser um bom momento para adquirir um pouco desses ativos para a sua carteira.
Lembre-se sempre de que oportunidades só aparecem em cenários turbulentos e nenhum ganho relevante te espera em órbitas previsíveis e extremamente seguras.
Abraços,
Gui Cadonhotto