O que Donald Trump significa para as startups e empresas de tecnologia?

Donald Trump, 70, é o novo presidente eleito dos Estados Unidos. Depois de uma frenética campanha eleitoral, ele assumirá a Casa Branca em 20 de janeiro. A sua eleição colocou todos os mercados mundiais sob alerta e caso cumpra parte de suas promessas feitas durante a campanha, poderá acarretar em diversas mudanças nas empresas de tecnologia e startups dos Estados Unidos e por todo o planeta.

Leonardo Reis

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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Trump é um bilionário norte-americano que fez fortuna no setor imobiliário e como investidor em diversos outros negócios. A sua vida é marcada por grandes disputas, polêmicas e exposição pessoal. Nascido na era “baby boom”, quando houve a explosão populacional nos Estados Unidos, promete trazer novamente aos americanos uma “vida próspera”. Sob uma campanha nostálgica com slogans melancólicos como “Make America great again”, Trump invoca um passado glorioso em que a América do Norte era um lugar seguro, próspero e igualitário para todos os americanos. Uma época em que as empresas de tecnologia eram pouco conhecidas.

As promessas de Trump, embora sejam idealistas e carregadas de patriotismo, o que realmente se espera de qualquer presidente de um país, coloca em revisão importantes pilares de discussão como a política econômica dos EUA, a globalização, o livre mercado, a imigração e a própria Internet. Tudo isto gera aflição no mercado e sobretudo no setor da tecnologia, um mercado que explodiu nos últimos 30 anos, graças à própria liberdade que a tecnologia proporciona. Já Trump promete fechar os EUA e criar barreiras protecionistas, o que pode levar a um retrocesso jamais visto na inovação, desenvolvimento tecnológico e empreendedorismo digital.

Polêmicas em torno dos vistos para imigrantes

Talentos humanos é a força motriz da inovação. Sem pessoas não se faz inovação ou desenvolvimento tecnológico. Trump quer interromper, ou no mínimo fazer uma grande reforma no programa de vistos americanos chamado H-1B. Este é um programa de visto americano, que permite dentre outros, com que estrangeiros possam se estabelecer nos EUA enquanto buscam o visto permanente “Green Card”.

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As empresas de tecnologia e startups americanas ingressam anualmente com milhares de pedidos de vistos H-1B para seus profissionais estrangeiros. É por meio deste programa que milhares de profissionais estrangeiros altamente qualificados residem nos EUA. Desta maneira, o Vale do Silício e milhares de empresas norte americanas de tecnologia apoiam fortemente o processo de imigração, enquanto que Trump pretende dificultar a imigração em prol da geração de empregos para os americanos, ou seja, forçar a todo custo que as empresas deem empregos aos americanos.

Imigrantes fazem a diferença no setor de tecnologia norte-americano

A dificuldade de vistos para os imigrantes pode frear o desenvolvimento tecnológico nos EUA e por todo o mundo. Milhares de empresas de tecnologia não apenas possuem estrangeiros em seu quadro de trabalho altamente qualificado, como também possuem CEOs ou Founders estrangeiros, como é o caso da Uber, norte-americana, fundada pelo canadense Garrett Camp e pelo americano Travis Kalanick. A gigante norte-americana Tesla é outro exemplo, fundada pelo sul-africano Elon Reeve Musk.

Segundo o Wall Street Journal, cerca de 51% das Startups bilionárias nos EUA foram fundadas por estrangeiros.

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O desenvolvimento da tecnologia da informação em todo o mundo é fortemente influenciado pelo que acontece no Vale do Silício e em várias outras regiões dos EUA. Um impacto neste progresso é um retrocesso no setor de TI, nas empresas de tecnologia e nas startups em todo o mundo.

O que as Startups e o setor da tecnologia da informação pensam sobre Trump?

Antes da eleição de Trump, um grupo de empresários do Vale do Silício, colaboradores, investidores, capitalistas de risco e pesquisadores publicaram uma carta aberta contra Donald Trump. A carta publicada conclui que Trump seria um desastre para a inovação.

Em um dos trechos da carta é afirmado que “Sua visão está contra a troca aberta de ideias, a livre circulação de pessoas e engajamento produtivo com o mundo exterior que é fundamental para o nosso setor”. A visão do novo presidente é contra os princípios base de tudo que a inovação precisa.

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Satya Nadela, CEO da Microsoft, se reservou a simplesmente parabenizar o presidente eleito (“We congratulate the president-elect”) em uma publicação em sua conta no LinkedIn.

Já o presidente do Twitter, Jack Dorsey, que já havia trocado mensagens indiretas com Trump, afirmou em sua conta no Twitter “This country was founded on one self-evident and undeniable truth: all people are created equal” em uma tradução literal “Este país foi fundado em uma verdade evidente e inegável: todas as pessoas são criadas iguais”.

Mark Zuckerberg publicou em sua conta no Facebook uma reflexão “Eu pensei sobre  todo o trabalho pela frente para criar o mundo que queremos para os nossos filhos” e continuou “Este trabalho é maior do que qualquer presidência e o progresso não se move em linha reta”.

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Além destes, milhares de outros empreendedores, pesquisadores e profissionais do setor da tecnologia se posicionaram em grande maioria contra a vitória de Trump.

Comércio eletrônico, espaço virtual e a Internet poderão ter mais controles

O setor de tecnologia e de software cresceram nativamente globalizado e sem fronteiras. Uma empresa no Brasil, nos Estados Unidos ou em qualquer outro país facilmente pode vender sua solução online para qualquer pessoa ou empresa de qualquer outro país.

Porém, Trump quer colocar mais controles sobre a rede mundial de computadores. No fim de 2015, Trump passou a defender um controle mais rígido da Internet para combater o terrorismo. Quando questionado durante uma entrevista sobre o Estado Islâmico e a Internet, Trump afirmou “Eu certamente pensaria em fechar áreas onde estivermos em guerra com alguém. Com toda certeza não quero deixar que pessoas que desejam nos matar e assassinar nossa nação usarem nossa rede”. Fechar a Internet ou controlá-la levará a um impacto na liberdade e livre iniciativa dentro da rede.

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Investimento de capital de risco nas Startups

Investidores em geral não gostam de incertezas, porém o que mais se tem neste momento com Donald Trump eleito são inúmeras indefinições. As dúvidas quanto a política econômica que Trump irá desempenhar pode interromper diversas decisões de investimentos em Startups.

Por exemplo, não se sabe ao certo a postura que Trump terá quanto as tecnologias “self-driving” dos carros autônomos, se Trump quer tanto proteger os empregos, ele será contra mais este desenvolvimento tecnológico? O grande problema não é o que Trump irá fazer, mas a falta de informação e clareza quanto ao que será controlado ou regulado ou desregulado na era Trump. Portanto, os investidores estarão muito cautelosos em tomar grandes decisões, sejam em investimentos nas Startups norte-americanas ou até mesmo fora dos EUA.

Tecnologias geradas nos EUA ficarão mais caras

Um outro impacto no setor tecnológico. Trump prometeu ferozmente trazer a produção de bens da China de volta aos EUA. Trump disse no início de 2016 à Wired “Nós vamos fazer a Apple construir os seus computadores nestes país, em vez de outros países” e complementou “A Apple e todas essas grandes empresas terão que construir seus produtos nos Estados Unidos e não na China ou Vietnã”.

Para que isto aconteça, Trump provavelmente terá que elevar as tarifas de importação, forçando que as companhias norte-americanas produzam em solo americano, em vez de fora do país. Isto fará com que o custo de produção aumente, uma vez que o custo nos EUA passaria a ser maior do que fora de lá. Estes produtos então chegariam em todos os demais continentes com preços mais altos, gerando menos inclusão digital, e assim menos pessoas e empresas poderão usufruir destas novas tecnologias americanas.

Oportunidades podem se abrir no Brasil e em outros locais do mundo

Acredito fielmente que aqueles que votaram a favor de Donald Trump, buscam por meio de respostas simplicistas a resolução dos seus problemas. Ainda é muito cedo para afirmar se Trump cumprirá as suas promessas. A comunidade americana e internacional de tecnologia espera que não, mas viveremos ainda alguns meses de incertezas até sabermos do que Trump será capaz.

No mais, acredito que o governo, seja americano ou brasileiro, desempenha um papel fundamental no desenvolvimento tecnológico e na inovação. A inovação está plenamente ligada à liberdade de escolha e ao livre mercado. Sem dúvidas, o desenvolvimento tecnológico eliminou diversos empregos e postos de trabalho em todo o mundo, mas também gerou novos empregos e oportunidades de empreendedorismo. Caberá ao governo controlar isto ou o próprio mercado?

Por outro lado, os riscos e desafios no setor de tecnologia dos EUA poderão abrir espaços para um desenvolvimento mais forte de polos de tecnologia fora dos EUA, seja na China, Israel, França, Portugal, Alemanha e, sobretudo, na América do Sul aqui no Brasil e no Chile.

Cabe a nós aproveitarmos estas oportunidades, sabendo nos proteger dos impactos negativos de uma possível política mais protecionistas e fechada de Trump, mas explorando eventuais oportunidades que podem se abrir. Neste sentido algumas Startups, Fintechs e empresas de tecnologia não americanas poderão ganhar espaço em um mercado amplamente globalizado.

Oportunidades em Startups e Fintechs

Mesmo com todos os desafios, há diversas oportunidades se abrindo em torno das Fintechs e Startups. Neste sentido, a Cedro Technologies, com apoio da XP Investimentos e InfoMoney, elaborou um estudo completo sobre as Fintechs no Mercado de Capitais brasileiro.