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O curso era de “guiones”. Traduzindo: roteiristas! O local, Escola Internacional de Cinema e TV. A cidade, San Antônio de Los Banhos, um pequeno município próximo da capital, Havana. Estava em Cuba, terra do Comandante Fidel Castro.
Estávamos no final dos anos 90. Eu ficaria por lá, em regime de semi-internato, por um mês. Paguei caro pelo curso de quatro semanas que incluía alimentação e hospedagem.
Fidel e Garcia Marques
Famosa e muito prestigiada, a escola foi fundada pelo próprio Fidel e o consagrado escritor Gabriel Garcia Marques. O país ainda vivia o sufoco do bloqueio comercial imposto pelos Estados Unidos. Poucos turistas brasileiros visitavam Cuba. Nenhum turista americano, obviamente, era visto pela ilha caribenha. O país vivia fechado em si mesmo. O Comunismo ainda se debatia contra o Capitalismo. Alguns poucos sinais externos e um mínimo (mínimo mesmo) de abertura política eram permitidos.
Camarada tropical
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A referência era Moscou, de quem Cuba dependia financeiramente. Aqui e ali era possível ver sinais de iniciativa privada, como hotéis e alguns restaurantes chamados “paladares” tocados por famílias cubanas. Apesar da pobreza, da falta de alimentos, até mesmo da falta de papel na escola onde estudava, adorei Cuba. Impossível explicar porque. A comida? O sol? O mar esplendoroso? O povo para lá de simpático? Possivelmente tudo isso junto e misturado. Era comum – e eu fiz isso – levar produtos de higiene pessoal como sabonetes, toalhas, pasta de dente, etc para dar para os “nativos”.
Cambiando, cambiando…
Hoje tudo isso está mudando. Cuba é um destino cada vez mais presente para os brasileiros. Uma alternativa “bacana” para fugir dos clichês americanos e dos crescentes preços de uma Europa em recuperação econômica.
Os fatos e os números certificam isso. A Associated Press recebeu recentemente dados fornecidos pela Universidade de Havana. Os números mostram o crescimento dos turistas americanos que desembarcam na terra de Fidel.
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Comandante X turistas
Entre primeiro de janeiro e nove de maio deste ano, mais de 51 mil gringos americanos viajaram para Cuba, um crescimento significativo de 36 por cento em relação ao mesmo período do ano passado. Vale a pena. Os gringos que o digam. Estão redescobrindo Cuba atrasados. Os espanhóis já fazem isso há séculos.
E voltam sempre. Aliás, dados mostram que o aumento do turismo mundial para Cuba foi de 14% só no último ano. O mundo está redescobrindo Cuba. É verdade que o embargo comercial americano permanece. E que Cuba ainda figura como “país amigo do terrorismo” nos escritórios dos burocratas americanos.
Questão de tempo
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Impossível resistir a um país que criou o “mojito” (espécie de caipirinha com hortelã e rum branco), os “moros e cristianos”( arroz com feijão típicos cubanos) e os espetaculares “puros” ou charutos cubanos de primeiríssima qualidade. Isto sem falar na notável cultura de seu povo simpático e sempre sorridente. Eu me rendi lá atrás, há muitos anos. Até porque além do passeio sensorial pelas fantásticas praias com agua azul turquesa, da deliciosa culinária e da ‘falta de estresse”, ainda é possível bater papo em alto nível com qualquer morador “local”.
– Por que uma piscina é tão grande?
Pergunto ao rapaz que estava limpando a piscina dentro da Escola de Cinema, onde estudei. “Porque quando foi inaugurada, me explicou o ajudante geral, houve um discurso onde estiveram presentes as principais autoridades de Cuba, entre elas Fidel Castro e Gabriel Garcia Marques. Então, continuou ele, Fidel fez um daqueles discursos gigantescos de mais de sete horas e, no meio do discurso, disse: “E ali, naquele morro, vamos fazer uma piscina olímpica para treinar nossos jovens”.
Espantado, olhar arregalado, fiquei curioso para saber o final da história. O que aconteceu depois? Nada, respondeu o rapaz, todos se esqueceram do discurso, menos o burocrata que tomava nota de cada palavra do comandante. Alguns anos depois, a piscina olímpica foi construída dentro da Escola de Cinema. Detalhe: existe até hoje. E eu certamente voltarei.
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Praia de Varadero, Cuba | Crédito: Paulo Panayotis
Mãe e filha em Havana, Cuba | Crédito: Paulo Panayotis
Capitólio de Havana, Cuba | Crédito: Paulo Panayotis
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Praia de Cuba | Crédito: Paulo Panayotis