Exclusivo: Caroline Putnoki é a nova Diretora da Atout France Brasil

Executiva: perfil

Paulo Panayotis

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A primeira diretora da história do turismo francês no Brasil avisa:
“Descentralização, Turismo Familiar e Enogastronômico serão prioridades!”
Esta é a base dos projetos de Caroline Lídia Ilona Putnoki, 46 anos, empresária do setor e primeira mulher a assumir o cargo no Brasil.
Em entrevista exclusiva ao InfoMoney ela revela um pouco dos projetos dela nos próximos três anos.


NEM CATÓLICA, NEM ESPÍRITA: MUITO PELO CONTRÁRIO!

Sou “agnóstica”. Acredito em um ser superior e não importa se ele é católico, hindu ou espírita! A frase é de Caroline Putnoki, a nova diretora geral para América do Sul e Latina da Atout France, o organismo oficial de turismo da França no Brasil. Encontro Caroline, a primeira mulher a exercer tal cargo no País, na manhã de uma quinta feira muito quente. É feriado. É dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira de um Brasil predominantemente católico. Empresária, vivendo no Brasil há seis anos e meio, para ela não há feriado há mais de três décadas.
Dona de olhos de um azul profundo, desconfiados e quase ingênuos ao mesmo tempo, tem a atitude de alguém bastante confiante e segura de si. Sem brincos, traz no pescoço uma rara pérola rosa do Taiti. Aliança na mão esquerda e quatro anéis, tipo aliança, juntos, na direita, entrevisto a nova executiva do turismo francês em uma cafeteria na zona oeste da capital paulista.
Com quase um metro e oitenta de altura, esta loira, a bordo de um leve vestido côr de salmão, não tem como passar despercebida. “Estoi atrazad?” pergunta Caroline, forte sotaque francês, antes de começar a entrevista pontualmente as nove horas da manhã. “Je adorei o lugarrr”, avisa ela. “Costumo frequentar quase sempre os meshmos lugaresh quando estoi de folga em casa, completa. Mas é bom variarrr, non é meshmo?


Nascida em Cayenne, a capital da Guiana Francesa, filha de pai húngaro e mãe parisiense, desde sempre não nega sua paixão pela ‘Amazonía, um lugar fascinanti’. Papai era um torneiro mecânico revolucionário que fugiu do regime político da Hungria e se tornou asilado politic em Paris. Mon mamã uma típica secretária comercial. Ele protestante e ela católica. “Meshmo así, sem eu ser nem uma coisa nem otra, eu batizei minha filha na igreja católica… por causa da família… “ justifica ela.

A filha a qual se refere, é a pequena Iris, que teve há dois anos com o marido, o também francês Jean-Philippe Perol. “Conheci ele em Nova York, quando eu trabalhava em Montreal, no Canadá. Ficamos por dez anos na ponte aérea. Como eu já tinha 30 anos de idade, decidi que estava na hora de optar entre o trabalho ou a vida pessoal, non? Mudei para Nova York e, de lá, viemos para o Brasil.
E como você foi nascer na Guiana? pergunto eu antes mesmo de chegar o primeiro expresso. É que mon papá foi trabalhar lá, esclarece ela como se fosse a coisa mais natural do mundo, há meio século, alguém ir trabalhar na Guiana Francesa. Por isso, gosto de pensar que sou uma cabocla europeia!
Começo a entender porque o amor pela Amazônia.
Comecei a trabalhar cedo, aos 17 anos, quando fui estudar turismo e marketing em Bordeaux, na France. Fiz um pouco de tudo, inclusive demonstradora de produtos em supermercados como Leclercq e Auchan. Não queria estudar muito, queria mesmo era ganhar dinheiro, confidencia ela sem o menor constrangimento.
Foi uma época intensa, de aprendizado constante. Acho que foi ali que formei boa parte de meu caráter pessoal e profissional e descobri que gostava de lidar com o público, com gente. Acho que foi a primeira vez na minha vida que descobri o mundo como ele realmente é, ou era, ri ela…”
JE SUIS FILLE DE IANSÃ!
Hoje, Caroline está prestes a descobrir como é o mundo do ponto de vista de uma poderosa executiva de turismo no Brasil. Sem medo do batente, para ela não há dia santo ou cansaço suficiente que a impeçam de fazer o que mais gosta:
“O valor do trabalho foi o maior ensinamento e a maior herança que meus pais me deixaram”, desconversa ela sorvendo um “expressô noir… com azúcar han!?”

Magra, em pleno vigor físico e intelectual aos 46 anos, Caroline tem aquele “irritante” traço francês típico: come de tudo e consegue ser magra e elegante praticamente sem “demonstrar” esforço algum! C`est la vie!
Antes de encarar o principal posto do turismo francês no Brasil, Caroline Putnoki fez cursos de enogastronomia, foi empresária, andou pelo mundo todo e cozinhou para muita gente: “Adórro! Cozinhar para minha família e para os amigos é um dos meushs maiores prazeres! Quase um sacerdócio!
Ela concedeu esta entrevista exclusiva para o Infomoney com uma recomendação expressa: Pór favor, no publique antes que eu seja oficialmente nomeada, vá bien? Mais oui, très bien Mme Directrice! Claro, pode deixar senhora diretora! Aliás, uma última pergunta antes de começar a entrevista. Qual o seu signo? Sou de sagitário. Mas gosto de dizer que sou filha de Iansã, a guerreira!

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( InfoMoney) O cargo assusta? É um peso? Especialmente em um país machista como o Brasil? Afinal, você será a primeira mulher neste cargo no Brasil.
(Caroline Putnoki) “Não é um peso de forma alguma. E também não me assusta. Não sou do tipo que tem medo de desafios. Na verdade me sinto honrada e com muita curiosidade pelo que vem pela frente. O maior legado que meus pais me deixaram foi justamente o valor do trabalho. Então, como mulher, me sinto prestigiada e sei que minha função hoje no Brasil é muito mais importante do que foi há sete anos quando assumi o mesmo cargo no Canadá. Além disso sei da minha responsabilidade por ser mulher e estrangeira. Gostaria de poder ser um modelo para outras mulheres executivas e influenciar com meu trabalho no empoderamento feminino. O que vejo é que muitas mulheres reclamam da salários menores que os homens, menos privilégios profissionais, etc, mas ao mesmo tempo não agem para que essa situação mude. Está na hora de agir. Especialmente porque , do meu ponto de vista, a América do Sul está em um momento que tem a chance histórica de se tornar a protagonista do turismo deste lado do mundo.

( InfoMoney) Mesmo em um instante tão confuso, inédito e especial da política no Brasil e em diversos outros países sul americanos como a Bolívia e a Venezuela?

(CP)Politicamente o Brasil hoje está em um momento extraordinário, de transição. Veja que houve o impeachment de uma presidente, fato raro em todo o mundo. Acho que isto se deve aos movimentos sociais e populares que agiram em conjunto . Pode se discutir, reclamar,  até discordar dos motivos e da forma como foi feito. Mas o fato é que foi feito. E feito dentro das regras democráticas estabelecidas, dentro das regras do jogo. Acho que o povo brasileiro ainda não se deu conta do tamanho da proeza que conseguiu realizar! Dizem que brasileiro só critica, critica e não faz nada. Discordo. Fez o impeachment! Fez história. Admiro o Brasil por isso.

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(InfoMoney)  Como avalia a legislação trabalhista no Brasil? Se comparar com outros países europeus, como a França, é melhor ou pior?
(CP)Eu vejo que existe por todos os lados a vontade de criar um país melhor, mais justo, menos burocrático e mais competitivo. Vejo esta vontade de mudar. Especialmente as leis trabalhistas  brasileiras que são reconhecidas mundialmente como pesadas para os empresários e antiquadas para a sociedade moderna. Pessoalmente eu concordo com essa visão pois, como estão, essas leis prejudicam a competitividade brasileira e , consequentemente, o desenvolvimento socioeconômico do País. Tudo isto gera o chamado custo Brasil, considerado um dos maiores do mundo. Isso tem que mudar, mesmo que demore.


( InfoMoney) A corrupção faz parte do custo Brasil?

(CP)A corrupção é uma gangrena, uma praga que assola o mundo todo. Não pense que não existe na França, nos Estados Unidos e no resto do mundo. Existe sim e em níveis diferentes dependendo da evolução social, econômica e política de cada país. Enquanto o Brasil não lidar com essa gangrena duramente vai continuar perdendo muito tempo, vai ficar patinando, quase parado. Sei que lidar com isso é muito complexo, complicado. Por isso, muitos dão a volta, o famoso “jeitinho” brasileiro” e aí começa a corrupção. Pequenininha, pequeninha, mas vai crescendo, crescendo e se perde o controle. Outro dia assisti uma palestra do juiz Sergio Moro. Achei ele íntegro, corajoso , investido de uma missão: ajudar a acabar com a corrupção, com a impunidade. Acho que isso já começou e está andando bem no Brasil. E o melhor de tudo é que passa um recado claro para o povo: “cedo ou tarde há justiça”. É o início de um processo longo, que demora, mas que, ao final, muda o país como um todo.

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( InfoMoney) Mas havia corrupção há sete anos e a economia estava a todo vapor. O mundo, naquele instante, olhava para o Brasil como o “queridinho” dos emergentes. O que mudou?

(CP)Para mim o Brasil mudou totalmente em sete anos. Ficou claro que foi uma grande dose de euforia que revelou, ao final, que tudo era isso mesmo: euforia. Não haverá estabilidade economia enquanto não houver estabilidade política. Uma é consequência da outra. Após sete anos, ainda vivemos um final de crise, mas com as medidas básicas tomadas pelo governo, a economia dá fortes sinas de recuperação. Hoje as pessoas já voltaram a viajar. Em 2017 não só recuperamos o número de turistas brasileiros que visitaram a França, como superamos a nossa melhor marca histórica de 2014. Só até o final de agosto tivemos um crescimento de 24% nesses números. Paris, que foi duramente castigada, teve um crescimento maior ainda de brasileiros: 27,5%. Nossas projeções mostram 700 mil brasileiros viajando até o final deste ano para a França gerando mais de um bilhão de euros em divisas para nós. Agências de turismo e hotéis na França nos dizem isso claramente: os brasileiros voltaram! A Air France acaba de abrir um voo direto saindo de Fortaleza para Paris.
E nossos relatórios econômicos realizados pela embaixada francesa ratificam esses números. Creio que ainda teremos algumas dificuldades em 2018, mas tenho certeza que teremos um 2019 muito bom!



( InfoMoney)  Considerando esse cenário otimista/realista que você aponta, quais serão suas principais metas e seu posicionamento estratégico à frente da Atout France?

(CP)Acho que estou chegando em um momento muito positivo para o Brasil e para a França. Organismos de turismo de todo o mundo, incluindo aí o francês, voltam a olhar o Brasil como “queridinho”. Não só pela simpatia que temos pelos brasileiros mas também pelo potencial que os turistas brasileiros representam. Como eu disse, somente em 2017 esses turistas deixaram o equivalente a um bilhão de euros na França! Além disso, os investidores estão cada vez mais atentos e interessados no Brasil. É uma questão de tempo para que os investidores também voltem com força.  Assim, creio que posso definir minhas metas em três grandes pilares:
– Continuar o plano de descentralização iniciado pela gestão anterior. A ideia era – e é – mostrar para o brasileiro que a França não é somente Paris. Assim, hoje, após um forte trabalho, uma grande parte dos turistas brasileiros que vão para Paris aproveitam e visitam também a Provence! E adoram! Deu tão certo que vamos continuar investindo nesta campanha. O destino Provence se tornou o segundo mais procurado pelos brasileiros que viajam para a França. Agora que a Provence já “existe” para o Brasil, vamos incentivar que conheçam outras regiões, como Bordeaux, Biarritz, Montpelier… Temos muito que mostrar e contamos com a ajuda de vocês da imprensa, vá bien?
– Incentivar os brasileiros a conhecer nossa enogastronomia. Combinar boa comida com boa bebida é mais que um prazer para nós franceses, é um hábito cultural, quase uma religião. Queremos mostrar um pouco disto para o turista brasileiro. Tenho interesse pessoal nisto porque adoro cozinhar para minha família e convidar amigos para um bom vinho à beira da mesa! Não se engane com minhas unhas pintadas…Minhas mãos refletem a paixão que tenho pela boa mesa porque eu, pessoalmente, adoro descaçar legumes, combinar produtos, enfim. Além disso tenho formação – e paixão – pela enologia que é ciência do vinho.  Aguardem que vem novidades por aí.
– Queremos criar programas de incentivos às viagens em grupos. Brasileiros adoram viajar em grupos. Seja em grupos familiares ou em grupos de amigos.. Eu sempre brinco com quem conheço: ao invés de viajar para a Disneylândia com as crianças, vá visitar a Cité du Vin, (cidade do vinho) em Bordeaux, na França. Além do prazer do vinho para os  adultos, as crianças ainda tem um passeio cultural pelas raízes francesas do vinho!  Ou então vá, com um grupo de amigos, conhecer por exemplo a Fundação Museu Louis Vuitton, um novo e belíssimo complexo fora do centro de Paris, que tem exposições permanentes e temporárias do mais alto nível. Isto sem falar no prédio do  museu, uma obra prima da engenharia moderna. Vamos incentivar muito isso também! Aliás acabei de voltar de lá com minha filha de dois anos, Iris. Eu a deixei por um minuto no carrinho dormindo no centro de uma exposição. Estava exausta após visitar boa parte do museu. De repente acordou, olhou em volta e soltou um belíssimo “Uau!”. É essa emoção que queremos passar para as famílias brasileiras!



Quem é Caroline Lidia Ilona Putnoki

Aniversário:  10 de Dezembro

Formação : Marketing, Enogastronomia e Administração em Turismo (França, Canadá)

Pessoal : Casada com Jean-Philippe Perol, uma filha de dois anos, Íris Jana Ilona Yara

Idiomas : Francês, Inglês, Português brasileiro e “Portunhol”
Hobbies : Cozinhar, Vinhos

Série de TV: Madman

Filme: O fabuloso destino de Amélie Poulain

Defeito: A cólera de Iansã: incontrolável!

Destino preferido: Amazônia, como resgate emocional!

O que move Caroline Putnoki
Vencer desafios e deixar para as futuras gerações um mundo mais justo. Viver, por si só, já é um desafio! Da mesma forma que é um desafio tornar a convivência profissional entre homens e mulheres mais justa. Mulher no poder é mais do que uma obrigação, é um dever. Novamente tenho a possibilidade de fazer minha parte, dar o exemplo, motivar outras mulheres. O que me move é ter a certeza de que você, mulher, pode! Mas para isso tem que querer! 

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