Os ratos de Stalingrado: improvável não é o mesmo que impossível

Na vida financeira, ter dinheiro guardado, mesmo que sem um destino específico, é uma proteção contra a capacidade insuperável da vida de nos surpreender nos piores momentos

Luiz Grubert

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(Divulgação)
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Investidores lidam a todo tempo com a incerteza. Aliás, não só eles, mas todo ser humano. Diariamente somos surpreendidos com o pneu que fura a caminho do trabalho (quando você já estava atrasado) ou com o filho que fica doente na véspera de uma apresentação importante.

A grande verdade é que situações improváveis são recorrentes e lidamos com os “pequenos eventos” diariamente. Mas você está preparado para os grandes eventos “inesperados”?

Comumente simulamos em uma planilha e pensamos que uma queda de 30% no patrimônio pouco afetaria nosso emocional. Mas sabendo que, na prática, essa queda aconteceria em meio a um cenário de pandemia, guerras, desemprego ou queda nos rendimentos, ainda seria tão simples?

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Talvez nem tanto para a maioria. É preciso assumir riscos para progredir, mas nenhum risco capaz de levá-lo à falência vale a pena. Para evitar tal cenário, adicionamos camadas de margem de segurança para cada evento específico.

Para o risco de uma crise no mercado financeiro, uma carteira diversificada com bons e sólidos ativos.

Para o desemprego ou redução dos rendimentos, uma reserva de emergência.

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Para a morte prematura do provedor da família, um seguro de vida robusto.

Para os obstáculos da sucessão, um planejamento familiar com todos os herdeiros.

Frequentemente, buscamos motivos para guardar dinheiro. No entanto, em face a tanta incerteza, a prudência e ponderação não seriam, em si, motivos suficientemente válidos?

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Para ilustrar este capítulo trago o caso dos ratos de Stalingrado. Em 1942, ocorreu a Batalha de Stalingrado, uma das maiores travadas durante a Segunda Guerra Mundial e um dos marcos da reviravolta dos Aliados (Reino Unido, França, União Soviética e Estados Unidos) sobre o Eixo (Alemanha, Itália e Japão).

Para a Alemanha nazista, a conquista da Rússia, especialmente de Stalingrado, seria um grande avanço sobre o legado de Josef Stálin e a consolidação alemã, adicionando ao seu domínio uma região rica em minério e petróleo (recursos essenciais para a máquina de guerra do país). Com uma força militar impressionante, a vitória parecia certa para a Alemanha.

No entanto, apesar da tática do Blitzkrieg (guerra-relâmpago), os alemães não contavam que a conquista seria mais difícil do que o esperado e não se prepararam para enfrentar o rigoroso inverno russo (nem os roedores, como contarei mais adiante).

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A batalha de Stalingrado se deu com uma sequência de combates, com a Alemanha adentrando cada vez mais no território dos soviéticos, enquanto estes recuavam e queimavam quaisquer recursos que poderiam ser utilizados pelos alemães, numa tática da terra arrasada. Com a linha de suprimentos cada vez mais distante, começaram a faltar recursos conforme se dava o avanço.

Ao final de 1942, durante mais uma das subsequentes batalhas, os alemães recrutaram 104 tanques de uma de suas unidades e foram surpreendidos com menos de vinte tanques operacionais. Mais assustador ainda foi o motivo do não funcionamento: durante as semanas de inatividade, ratos do campo fizeram ninhos nos veículos e roeram todo o isolamento que recobria os sistemas elétricos.

Mesmo o equipamento mais avançado sucumbiu a algumas dezenas de roedores. Um evento improvável e, para os engenheiros projetistas, quiçá impossível, aconteceu. E certamente foi mais uma das grandes baixas que o exército alemão sofreu na Batalha de Stalingrado.

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Dito isto, e trazendo o exemplo para nossa temática, podemos nos inspirar nesta analogia para nossa vida financeira em um pilar central: guarde dinheiro. Ter dinheiro guardado sem um destino específico é uma proteção contra a capacidade insuperável que a vida tem de nos surpreender nos piores momentos possíveis.

Charlie Munger, parceiro do megainvestidor Warren Buffett nos negócios, diz: “A primeira regra da composição é jamais interrompê-la desnecessariamente”. Desta forma, preparar o terreno para seus investimentos de longo prazo é essencial.

Em A psicologia Financeira, Morgan Housel nos brinda com mais esta dose de sabedoria: se você deseja se tornar um investidor melhor, a coisa mais poderosa que pode fazer é aumentar seu horizonte de tempo. O tempo é a força mais poderosa no mundo dos investimentos.

O sucesso financeiro está mais relacionado à sua preparação e ao seu comportamento diante dos cenários adversos do que diretamente à inteligência.

Uma estratégia simples executada de forma consistente por um longo período tende a exceder os retornos de uma estratégia sofisticada utilizada por um curto período ou alterada a todo momento.

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Luiz Grubert

Consultor de Investimentos na Suno Consultoria