A Economia do voto útil

Confira no Terraço Econômico a racionalidade por trás do Voto Útil, aquele no qual o eleitor deixa de votar no seu candidato inicialmente preferido para evitar a vitória daquele que ele detesta. Segundo uma pesquisa da Ipsos, 19% das pessoas com até 9 anos de estudo, contra apenas 9% das com nível superior, concordam com a frase:“Eu voto no candidato que vai ganhar para aproveitar meu voto”.

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Após essa primeira etapa das eleições brasileiras, um assunto que vem sendo muito debatido é o voto útil. Na cidade de São Paulo, por exemplo, muita gente acreditava que o atual prefeito Fernando Haddad (PT) conseguiria atrair o voto útil da esquerda e com isso se qualificaria para disputar o segundo turno. Já no Rio de Janeiro, um grupo de candidatos considerado de direita disputou com um outro grupo considerado de esquerda para ver qual dos dois emplacava uma pessoa para disputar o segundo turno com Marcelo Crivella (PRB), líder nas pesquisas – o resultado foi um surpreendente segundo turno.

Mas o que isso tem a ver com economia? O objetivo final de qualquer decisão econômica é o melhor aproveitamento dos recursos escassos. Essa é a justificativa do economista norte-americano Eric Maskin (vencedor do prêmio Nobel de Economia em 2007) para estudar os impactos do voto útil [1]. Segundo ele, o voto pode ser considerado um recurso como outro qualquer e quanto mais bem aproveitado ele for, mais democrático será um país. Maskin acredita que sistemas eleitorais como o brasileiro estimulam que o eleitor pense estrategicamente o que fortalece o chamado voto útil ou tático.

Isso acontece porque o eleitor tende a tomar uma decisão conforme a regra minimax, proposta por John von Neumann [2]. Segundo essa regra, que faz parte do arcabouço da teoria dos jogos, o objetivo é evitar a perda máxima (dai o nome: minimizar a perda máxima – minimax). Com isso, o eleitor deixa de votar no seu candidato inicialmente preferido para evitar a vitória daquele que ele detesta.

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Isso é prejudicial por pelo menos três motivos: i) as pesquisas de opinião, que como sabemos, podem errar, passam a ter uma importância muito maior no pleito eleitoral. ii) por conta disso, os eleitores gastam mais tempo tentando entender quais as chances de cada candidato do que em compreender as suas propostas. iii) O eleitor deixa de votar no seu candidato preferido e com isso o resultado das eleições apresenta um retrato pior da vontade do eleitor.

Um dado interessante, é que ao contrário do que poderia se pensar, o voto útil (mesmo sendo teoricamente mais complicado do que simplesmente escolher o candidato preferido) é mais utilizado por pessoas de menor escolaridade e renda mais baixa [3]. Segundo uma pesquisa da Ipsos, 19% das pessoas com até 9 anos de estudo, contra apenas 9% das com nível superior, concordam com a frase “Eu voto no candidato que vai ganhar para aproveitar meu voto”.

Para minimizar o problema, Maskin sugere a adoção de modelos que possibilitem o voto em mais de um candidato, em uma espécie de “ranking”. Nesse modelo, o eleitor daria “medalhas” de ouro, prata ou bronze para os candidatos, sendo que cada uma delas teria uma pontuação diferente. Ganharia assim, o candidato com mais pontos, ou o melhor ranqueado na média. A ideia já foi testada em eleições legislativas na Austrália em em eleições majoritárias em algumas cidades dos EUA como São Francisco e Mineápolis.

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A então candidata do PSOL à prefeitura de São Paulo, Erundina tomou uma postura radical ao dizer que o “voto útil não é democrático” [4]. Não é para tanto, já que ele faz parte do jogo e da decisão livre dos eleitores. Porém, quanto mais o resultado das urnas representar a preferência dos eleitores pelos programas dos candidatos, melhor. Sendo assim, é importante debater mecanismos que incentivem os eleitores a votarem dessa maneira.

Referências

[1]http://epge.fgv.br/sites/default/files/sistema-eleitoral-brasileiro-estimula-o-voto-util-diz-vencedor-do-nobel-de-economia-extra-rj-29-7-2014.pdf

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[2] http://www.theoremoftheday.org/Docs/Kjeldsen.pdf

[3]http://www.revistavoto.com.br/site/noticias_interna.php?id=6959&t=Voto_util_e_mais_comum_entre_eleitores_de_baixa_escolaridade_diz_pesquisa_

[4]http://www1.folha.uol.com.br/poder/eleicoes-2016/2016/09/1817295-voto-util-nao-e-democratico-afirma-erundina-em-evento-de-campanha-na-zona-sul.shtml

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O Terraço Econômico é um espaço para discussão de assuntos que afetam nosso cotidiano, sempre com uma análise aprofundada (e irreverente) visando entender quais são as implicações dos mais importantes eventos econômicos, políticos e sociais no Brasil e no mundo. A equipe heterogênea possui desde economistas com mestrados até estudantes de economia. O Terraço é composto por: Alípio Ferreira Cantisani, Arthur Solowiejczyk, Lara Siqueira de Oliveira, Leonardo de Siqueira Lima, Leonardo Palhuca, Victor Candido e Victor Wong.