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Terraço Econômico | por Leonardo Palhuca
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) cuja fundação está ligada à figura do mais famoso dos liberais brasileiros, Roberto Campos, tem um papel relevante na concessão de crédito no Brasil. Seu objetivo (em teoria) é financiar projetos de longo prazo e cujo retorno social supera o retorno privado e, portanto, pouco atraentes para a iniciativa privada.
No Brasil, o BNDES é dotado da capacidade de emprestar a taxas de juros mais baixas que as praticadas no mercado, pois sua taxa básica de retorno, a TJLP, é definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e não pelo mercado, contando assim com um subsídio do Tesouro Nacional e, portanto, sua atuação e seu tamanho podem influenciar sobremaneira a alocação do crédito no país.
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O sucesso ou fracasso do banco poderiam, portanto, ser mensurados pelo aumento dos investimentos no país, melhoria da infraestrutura, alocação de crédito a agentes que estão fora do jogo por falhas de mercado, tudo isso comparado a seus custos de funcionamento.
Como veremos, o fato de o banco ser caro e de não cumprir seus objetivos requerem reformas na atuação dessa entidade. Mas como somos mais radicais, a nossa proposta seria a de simplesmente fechar o BNDES. E aqui listamos 5 bons motivos para fechar as portas e vender os prédios do BNDES ao redor do Brasil:
1) O BNDES não aumenta de maneira geral o investimento do país em proporção do PIB.
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O grande objetivo do BNDES é aumentar os investimentos em projetos de longo prazo sem comprometer outros investimentos. Assim, os desembolsos do BNDES deveriam aumentar a taxa de investimento da economia brasileira ao tornar viáveis projetos que antes não sairiam do papel.
O gráfico abaixo mostra, porém, que há poucos indícios que o BNDES tenha sido efetivo em aumentar a taxa de investimento do Brasil. Comparamos o volume de desembolsos do nosso banco de desenvolvimento com a Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida de investimento, ambos em proporção do PIB.
Fonte: IPEADATA e BNDES. Elaboração própria.
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A nossa taxa de investimento se manteve entre 16% e 19% do PIB, mesmo com esforços do BNDES para aumentá-la. E a grande questão que fica se refere ao período entre 2009 e 2014. Se o banco manteve um volume de desembolso na casa dos 3,75% do PIB, mais alto que historicamente, por que a taxa de investimento vem caindo? As explicações dos defensores do BNDES vão desde a crise internacional até o famosos “sem o BNDES seria pior”. Veremos adiante que não é verdade.
2) Atualmente, o BNDES não causa impacto relevante em projetos tipicamente ligados às atividades de um banco de desenvolvimento.
Já que a taxa de investimento geral da economia não subiu, um dos argumentos seria: “mas se não existisse o BNDES, alguns investimentos não seriam feitos”. Teoricamente o argumento faz sentido, mas o nosso banco de desenvolvimento não é capaz de tirar do papel tais projetos em escala relevante.
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Talvez um dos investimentos mais necessários ao desenvolvimento seja em saneamento básico. Os custos de construção de uma rede de água e esgoto são altos, existem diversos empecilhos para se mensurar o retorno e precificar o serviço. Um típico caso de externalidade positiva e que seria mais do que legítimo o governo financiar tais projetos via BNDES.
Então, vejamos como fica a evolução dos desembolsos do BNDES na linha FINEM (que engloba a área de saneamento básico) e o acesso da população à rede de esgoto.
Fonte: IPEADATA e BNDES. Elaboração própria.
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Aparentemente houve evolução no indicador, mas pouco a relação com o volume de desembolsos do BNDES é fraca. O moderado salto entre 2006 e 2007 se deu com um volume de crédito do BNDES ainda mantido em padrões históricos para essa linha de financiamento.
E o aumento de 5 pontos percentuais no indicador entre 2009 e 2010 decorre da inclusão de redes de esgoto precárias na conta. O indicador se refere ao total pessoas em domicílios com banheiro e conectados a uma rede de esgoto, rede pluvial ou fossa séptica. Não necessariamente obras de infraestrutura para fornecer uma rede de esgoto adequada à população.
Isso é um indício de que o BNDES não vem fornecendo crédito para essa área de infraestrutura. Ou se há crédito, seu volume não é suficiente para sairmos do percentual pífio de pessoas com acesso a uma simples rede de esgoto.
3) O BNDES não melhora a alocação de crédito na economia ao dirigir recursos para entes que têm acesso ao crédito via mercado privado.
OK, ok! Já que o BNDES não consegue elevar a taxa de investimento do país e nem direciona seus recursos para projetos mais ligados ao seu objetivo, pelo menos ele oferece crédito a empresas que têm pouco acesso ao mercado de crédito, correto?
Não, incorreto. Historicamente a maior parte dos recursos do BNDES são direcionados para médias e grandes empresas. Tais companhias são as mais aptas a captar recursos no mercado privado (seja com bancos, seja com investidores em mercados de crédito ou em bolsa de valores) e são as que menos precisam de recursos do BNDES.
Abaixo, a evolução do percentual do crédito fornecido pelo BNDES alocado por porte de empresa.
Fonte: BNDES. Elaboração própria.
O que podemos concluir, por ora? O BNDES ao entrar no mercado de crédito da forma que atua, somente expulsa do mercado alguns agentes que forneceriam crédito às médias e grandes empresas ao invés de aumentar os recursos disponíveis. O que chamamos em economia de crowding-out.
Para uma abordagem mais técnica sobre a alocação de recursos pelo BNDES, sugerimos o brilhante texto no blog Leis da Oferta.
4) O BNDES tem elevado custo fiscal ao emprestar pela TJLP e captar recursos com juros mais altos e não entrega o retorno necessário para justificar tal custo.
Além de não aumentar a taxa de investimento da economia, não direcionar a maior parte do crédito para projetos ligados a seu objetivo maior e nem suprir de forma sistemática crédito para empresas com pouco acesso a tal mercado, o BNDES ainda é bastante caro.
Como o banco empresta a taxas menores que seu custo de captação, para fechar a conta é preciso que alguém aporte dinheiro. No caso, o Tesouro Nacional. Ou trocando em miúdos, nós.
O raciocínio é simples: se eu pego dinheiro emprestado a 10% ao ano e empresto esse mesmo dinheiro a 5% ao ano, a cada ano preciso pagar 5% de diferença que devo tirar de algum lugar. Com o BNDES é o mesmo.
Como o Brasil não gera superávits fiscais, o custo de captação fica em torno da taxa Selic. E o retorno que o BNDES obtém em suas operações fica próximo à TJLP, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A TJLP é sempre fixada abaixo da Selic.
Abaixo, a Selic média e a TJLP média por ano e uma estimativa do Custo Fiscal que incorremos para manter as operações do BNDES (é uma estimativa máxima, contando com o custo de captação somente pela Selic e retorno de empréstimos somente pela TJLP).
Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração própria.
Assim, além de não cumprir seu papel, o BNDES nos custa muito caro. Desde 2008, as operações do banco vem nos custou em média R$ 7,5 bilhões ao ano. Algo muito caro pela falta de retorno dada em relação a seu objetivo.
5) Por fim, o BNDES da forma como atua prejudica a eficácia da Política Monetária
O tamanho do BNDES e o foco de suas operações em grandes empresas, com taxas de juros desvinculada daquela usada para controlar a inflação, acaba por obstruir um dos canais de transmissão da Política Monetária no combate à inflação.
Quando o Banco Central aumenta os juros, um dos efeitos seria tornar o crédito às empresas mais caros. Com o crédito mais caro, as empresas demandariam menos crédito e isso arrefeceria pressões inflacionárias caso a economia esteja rodando a pleno vapor.
Porém, ao conceder crédito às grandes empresas, conforme visto, o BNDES reduz a força de um canal de transmissão de política monetária que, segundo estudo do próprio Banco Central, é um dos principais canais da política monetária, junto com as expectativas de inflação.
Como mais de 1/3 (segundo o último Relatório Trimestral de Inflação do Banco Central) do crédito às empresas é oferecido pelo BNDES, causamos uma grande distorção na nossa política monetária, o que requer taxas de juros mais altas para controlar a inflação. Daí um dos motivos para termos uma alta taxa de juros: boa parte do crédito às empresas não está vinculado à Selic, mas sim a batidas na porta do BNDES.
Assim, como o BNDES não consegue atuar para aumentar a taxa de investimento da economia – somente tira alguns agentes privados do mercado de crédito, não contribui efetivamente para projetos de desenvolvimento aos quais seu objetivo seria ligado, fornece crédito barato a quem poderia conseguir financiamento no mercado, tem um alto custo de manutenção com baixo retorno e ainda atrapalha a política monetária, o melhor a fazer é simplesmente fechar o BNDES.
CARTA DO TERRAÇO ECONÔMICO!
Já leu a carta macroeconômica desse mês?Na carta macroeconômica do mês de Novembro, o Terraço analisa o aparente alívio do ambiente político e econômico, muito ajudado pelo cenário externo e pela reforma ministerial.
Porém, cada vez mais 2016 se confirma como um ano de “travessia” complexa.
-> ACESSE AQUI a nossa primeira edição! <-
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