O fim de uma era para Klabin, o começo de uma era para Vale: o que o “fator Schvartsman” muda para elas?

Mercado ficou nervoso com saída de Schvartsman da Klabin, mas se animou com a ida dele para a Vale: o que significa essa transição para as duas companhias?

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Uma escolha excelente e bem-vinda, um anúncio muito positivo, o sinal de continuidade e não de disrupção, o afastamento do risco político. 

Os analistas de mercado foram unânimes em destacar a nova era para a Vale (VALE3;VALE5), com o anúncio do novo CEO (Chief Executive Officer) da mineradora, Fabio Schvartsman, que foi bem avaliado por ser experiente e bem-sucedido. No ano passado, Schvartsman foi selecionado pela revista Forbes como um dos melhores CEOs do Brasil. 

Engenheiro, Schvartsman tem 63 anos e atua como diretor-geral da Klabin (KLBN11) há seis anos, sendo considerado o principal nome pelo crescimento da companhia de papel e celulose. Com ele no comando, a empresa tirou do papel o maior investimento de sua história: o Projeto Puma, unidade de R$ 8,5 bilhões construída no Paraná e que está em operação desde março do ano passado. É hoje uma das maiores fábricas de celulose do mundo e fez com que a Klabin praticamente dobrasse de tamanho. 

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“No período em que atual, o mercado da Klabin cresceu mais de 150%, já que a empresa registrou 22 crescimentos trimestrais consecutivos de Ebitda, que aumentou mais de 120%, marcando uma reviravolta na história da empresa”, apontam os analistas do Credit Suisse em relatório. 

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Desta forma, logo após os rumores (com a confirmação após o fechamento do mercado) na tarde da última segunda-feira sobre a escolha do CEO para a Vale, as units da Klabin chegaram a cair 5%, fechando com baixa de 3,72%, enquanto os papéis da Vale, com destaque para os ativos VALE5, fecharam com ganhos de 2,5%. 

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Neste cenário, o Itaú BBA apontou ver a saída de Schvartsman da Klabin como “ligeiramente negativa” para a empresa, “já que que ela está perdendo seu líder”. Enquanto isso, o Credit Suisse apontou que, como o substituto ainda não está claro, a expectativa é de que haja um overhang (excesso de oferta) nas ações. O Bradesco BBI, por sua vez, foi além, rebaixando de “forma tática” a recomendação para os ativos da companhia, apontando o “fim de uma era”. 

“Embora a base de ativos e a equipe de gestão da Klabin continue onde está, o cenário de crescimento pode ser um pouco adiado, o que pode levar as ações para uma reclassificação. Por isso, reduzimos taticamente a ação para neutra e reduzimos o preço-alvo para R$ 16,00 por ação, até termos uma melhor clareza sobre como a estratégia da empresa evoluirá”, apontam os analistas Thiago Lofiego e Arthur Suelotto, do Bradesco BBI.

Eles apontam que a tese de investimento da empresa é baseada em três pilares: i) resiliência do modelo de negócios; ii) crescimento e iii) boa execução. Desta forma, apesar do corte de recomendação, os analistas reforçam: a base de ativos de altíssima qualidade da Klabin continua a ser a base para a geração de valor significativa. E reforçam: “as opções de crescimento ainda estão no lugar, mas achamos que pode levar algum tempo para o novo comandante digerir e desvendar os próximos passos estratégicos da empresa”.

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Nesse cenário, o Itaú BBA destaca que o plano de sucessão de Schvartsman na Klabin deve ser acelerado, mas reforçam: já era algo que estava no radar. Os analistas do banco, Marcos Assumpção, Daniel Sasson e Carlos Eduardo Schmidt avaliam que há três candidatos principais para substitui-lo: o diretor de conversões e comercial papéis Cristiano Teixeira, o CFO (Chief Financial Officer) Eduardo de Toledo e o diretor de tecnologia e unidade de celulose Francisco Razzolini. Com isso, eles apontam: “nossa opinião é que qualquer queda significativa no preço das ações deve ser vista como uma oportunidade de compra, uma vez que o múltiplo da ação está se tornando atraente novamente”. 

Levando em conta essas perspectivas, o JPMorgan elevou a recomendação para as units da companhia de celulose de neutra para overweight, com preço-alvo de R$ 17,00 por ativo.

Desafios infinitamente maiores na Vale
Enquanto o mercado fica na expectativa pelas mudanças para a Klabin, ás águas parecem mais tranquilas para a Vale. O Itaú BBA, por exemplo, espera “transição suave” e não vê mudança na estratégia, com foco preferencial da mineradora “na desalavancagem”. O Santander também aponta que Schvartsman será capaz de manter o sólido trabalho executado pelo CEO Murilo Ferreira, cuja saída já havia sido anunciada em fevereiro”.

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Desta forma, o alívio do mercado ocorreu muito mais pela percepção de continuidade do que pela perspectiva de uma virada para a companhia, ao mesmo tempo que potenciais riscos políticos (estes sim, podendo levar a uma baixa das ações VALE3 e VALE5, somado a um cenário de volatilidade do minério de ferro). 

Se a expectativa é de continuidade, quais são os desafios que Schvartsman deve enfrentar a frente da Vale? O Itaú BBA aponta duas questões principais: o processo de reestruturação societária e completar a transição para uma verdadeira corporação. A empresa quer acabar com a Valepar para transformar a mineradora numa companhia sem controlador até 2020, o que acarretará mudanças no conselho de administração e na estrutura de suas ações em Bolsa. Schvartsman enfrentou desafio semelhante na Klabin, incluindo a transformação de parte das ações em “units”. “Ambas as companhias enfrentam situações similares de finalizar seus projetos de crescimento transformacionais, desalavancagem e aumento do retorno para os acionistas”, aponta o Bank of America Merrill Lynch. 

A segunda questão é delinear a estratégia da companhia após a conclusão do processo de desalavancagem. A Vale comprometeu-se a reduzir sua dívida líquida para US$ 15-17 bilhões, o que poderia ocorrer até este ano dependendo dos preços do minério de ferro.

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O mercado ainda aponta para semelhanças entre os negócios de celulose e de mineração. Isso porque, assim como o minério, a celulose é um produto cotado no mercado internacional e voltado para a exportação. Contudo, neste ponto, o BTG Pactual faz uma ressalva: é importante apontar que a Vale é uma empresa muito mais cíclica do que a Klabin (menos defensiva e com maior dependência dos preços do minério de ferro), o que leva a diferentes desafios para a sua gestão. Além disso, os analistas do banco veem pouco espaço para queda dos custos já levando em conta todo o esforço feito nos últimos trimestres. “Tendo tudo isso em vista, a escolha de Schvartsman é positiva”. 

Entre semelhanças e diferenças, uma fonte ouvida pela Agência Estado apontou: o desafio na mineradora é “infinitamente maior” não apenas pelo porte da companhia, mas também pela presença de fundos de pensão no negócio. 

Quer saber mais? No “Comprar ou Vender” desta terça-feira (programa transmitido ao vivo às 15h na InfoMoneyTV), os analistas convidados falarão justamente sobre o quanto a Klabin perde e o quanto a Vale ganha com a escolha de Fabio Schvartsman (até então CEO da empresa de papel e celulose) para ser o novo presidente da mineradora. 

 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.